Três

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Cause underneath the darkness

There's a light that's trying so hard to be seen

And I know this, cause I notice

A little bit shining through the seems


Ela mal fala com ele e a sensação de perda é tão grande que ele se sente sem ar. Seu peito vai se apertando cada vez mais conforme os minutos passam e é tudo tão absurdo que seu cérebro não consegue processar e ele precisa sair do quarto.

No corredor, ele se senta no chão gelado, com as costas apoiadas na parede gelada, abraça o seu corpo gelado e chora.

Chora pelo relacionamento deles, chora por Melody, chora pelo calor que deixou junto com ela no quarto.

Demora algum tempo para que ele consiga convencer a si mesmo que precisa sair dali. Melody precisa de alguém que seja capaz de ajudá-la a entender o que está acontecendo em decorrência do acidente e Ryland ainda não faz a menor ideia de porque ele é o contato de emergência dela, mas fica bem claro que não é a pessoa apropriada para a função.

Ele tira seu celular do bolso da jaqueta que colocou às pressas antes de sair de seu apartamento e procura o número que ainda tem na agenda.

Depois de explicar o que aconteceu para a mãe de Melody e tranquilizá-la do melhor jeito possível considerando as circunstâncias, ele volta para sua casa e para sua cama vazia.

Ryland não é o tipo de pessoa que costuma negar as coisas para si próprio, então, ele deita na cama gelada e faz o máximo que consegue para tentar se convencer de que acabou.

Melody mal consegue falar com ele.

A constatação é pesada o bastante para deixá-lo em modo automático por alguns dias: acordar, tomar banho, se vestir, tomar café, ir para o trabalho, trabalhar, almoçar, trabalhar, voltar para casa, dormir, repetir.

Duas semanas depois, deitado em sua cama à noite, ele finalmente chega à conclusão de que não vai conseguir seguir em frente se não conseguir dar um fim àquele ciclo. E, para fazer isso, precisa saber o motivo... O motivo pelo qual tudo acabou.

Está tão imerso em pensamentos que quase pula da cama quando ouve a campainha tocar. Franze a testa, tentando pensar em quem poderia lhe procurar às onze da noite de uma sexta-feira, e sai do quarto para abrir a porta. Porém, quando o faz, precisa se apoiar no batente, porque, como se a tivesse invocado, Melody está ali.

Ela parece bem. Em comparação com o que poderia ter acontecido, as marcas de cortes ainda remanescentes em seu rosto são coisas bobas. Ele reconhece o conjunto de moletom velho que ela está usando e se questiona se, algum dia, vai ser capaz de alcançá-la, já que enquanto ele ainda está tentando entender o que aconteceu, ela já está batendo à sua porta de novo.

― Posso entrar, Ry?

Mesmo se ele soubesse como lhe dizer não, ainda diria sim.

Ela se senta no sofá de sua sala de estar e olha para ele propriamente pela primeira vez desde antes do término. Ryland não sabe porque ela está ali, mas sente que é importante, então espera que ela fale.

― Comecei a frequentar uma psicóloga. ― Melody começa, com a voz baixa, e ele a conhece mais do que o suficiente para saber que aquilo não deve estar sendo fácil para ela. ― Já faz uns três meses.

Ele acena com a cabeça, ainda sem saber a coisa apropriada a se falar. Quer abraçá-la e dizer o quanto está aliviado por ela (finalmente) ter decidido procurar ajuda, mas sabe que não pode, então cruza os braços sobre o peito para controlar as mãos.

― Aparentemente, preciso começar a ser mais honesta com as pessoas a respeito de como me sinto... Acho que temos muito o que conversar.

Ele acena com a cabeça mais uma vez, porque, enfim, concorda com ela em algo que envolve os dois.

Porém, antes que ela consiga continuar, um bocejo lhe escapa e ela se recosta no sofá.

Imediatamente, ele reconhece a postura.

Melody está exausta.

― Já que estou sendo sincera, preciso dizer que não sei como fazer isso. A honestidade é... Difícil.

O sorriso escapa do rosto dele antes que Ryland consiga prendê-lo.

― Sabe, você pode fazer isso amanhã... ― quando ela franze a testa em confusão, ele continua. ― Não faço a menor ideia de porque você resolveu que onze horas da noite era um horário apropriado para esse tipo de conversa, Mel, mas você está exausta e eu também estou e acho melhor continuarmos de manhã. Se você quiser, posso te deixar em casa.

Ela hesita por alguns segundos.

― Você se importa se eu dormir aqui?

Ele realmente não deveria mais se surpreender.

― Claro que não. Você pode dormir no quarto... Não tenho problema em dormir no sofá.

Ela abre um sorriso fraco e envergonhado na direção dele e ele a acompanha até a cama e observa enquanto ela se acomoda entre os lençóis dele como se nunca tivesse saído dali.

O cenário é tão despretensioso que seu coração se aquece e, mais uma vez, ele precisa controlar a vontade de ir para perto dela e abraçá-la.

Ryland não tem mesmo problema em dormir em seu sofá mais do que espaçoso, enrolado na manta macia que deixa dobrada no encosto (afinal, não tinha gastado tanto dinheiro no móvel à toa). O cansaço é real e o sono vem antes que ele se dê conta.

Em um determinado momento da noite, ele acorda e encontra Melody dormindo ao seu lado. Ela não está tocando nele, o sofá é grande demais para permitir uma certa distância, mas ela continua .

E, por mais que ele queira evitar, um fiapo de esperança alcança o seu coração antes que o sono o envolva de novo.

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(09/05) Dessa vez, não demorou, hahah! Opiniões? Estrelinhas? Espero que estejam gostando. Beijos e até a próxima :)

This Is What It TakesOnde histórias criam vida. Descubra agora