Os vermes andam pelo meu corpo suntuosamente, como se eu fosse um animal putrefato, matando-me pedaço por pedaço. Não que eu não mereça. Talvez sejam estes uma praga da minha existência, da minha perversão.
Eles começaram a se hospedar em minha pele há alguns anos, em um dia nublado. Na realidade, dias nublados são os dias em que eles mais aparecem, infestando meu corpo.
No início, me senti culpado, incomodado por deixa-los aparecerem e rastejarem sob meu corpo. Fui, porém, me acostumando, embora o incômodo causado por esses artrópodes beire o insustentável.
Alguns costumavam dizer que é tudo coisa da minha cabeça - que não haviam vermes em meu corpo, que eu estava ficando maluco. Mas eu sinto eles - como alguém ousa relativizar algo que sinto?
Comecei a cortá-los, pedaço a pedaço, para irem embora. Porém, não é possível matá-los.
Tentei matá-los, tentei livra-los. Tentei ir à Igreja para acabar com a praga, mas nada deu certo. Creio, só creio, que meu único fim é morrer, deitado nesta banheira quente, que me coze ao mesmo tempo em que coze os bichos. Será que irei levá-los para o túmulo? Me pergunto. Será que, se morrer, ficarei em paz, e eles não me perturbarão mais?
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As Rosas nascem nas Lápides
Short StoryContos e crônicas de terror, tragédia e melancolia