Nunca quis ficar grávida, a moça. Tinha dezesseis anos e a vontade de se tornar bailarina. Era triste, miserável, e não podia cuidar de uma criança, ainda mais porque os pais a abominariam se descobrissem. A pior parte desta tragédia é que a moça nunca soube quem era o pai da criança.
Para a sorte - ou azar - de Eliza, sua gravidez não era comum. O bebê, por exemplo, não a chutava; a golpeava. Às vezes, com tanta força que era necessário levá-la ao hospital. Sabia que se tratava de uma prole problemática, talvez um bebê com deficiência, uma aberração da natureza, quem sabe? e, mesmo se não fosse, Eliza sabia que não queria crianças em sua vida. Tinha medo de sua sensibilidade e do fato de parecer que elas estão sempre imersas em um sofrimento emocional tão profundo que ninguém seria capaz de desvendar.
Em uma de suas idas ao hospital, o médico assegurou-lhe que o bebê não tinha nenhuma deficiência, mas que nunca havia visto algo semelhante ao caso dela. Tentou soar cético, resiliente, mas uma hora, porém, acabou soltando:
- Essa criança é fruto do Diabo, Eliza. Só pode ser. Vou chamar o padre.
No momento em que proferiu tais palavras, Eliza ficou imóvel, quase que paralisada pela fala do médico. Parecia sério.
Quando voltou, o padre estava lá, ela pediu misericórdia. Estava fraca demais devido aos ímpetos violentos de seu ventre. O padre disse-lhe, com calma:
- Eliza, você carrega o sucessor do diabo em teu ventre.
Não, não pode ser, pensou ela. Mas que faria agora? Um aborto, como já havia pensado antes? Ora... a religião não permitia. Porém, ela sentiu que precisava. Conhecia uma clínica ao lado de sua casa, a qual soava precária, como uma casa abandonada. Nos anos 2010 já existe aborto, mas numa cidade que parou nos anos 50, o aborto mata feto e mulher. , ponderou. Se bem que a morte não me parece algo tão ruim.
O problema do aborto, para Eliza, era o preço. A moça era tão miserável que andava com trapos das doações de Igreja. Tão miserável que, às vezes, mal conseguia guardar dinheiro o suficiente para comprar um único pão.
Mas ela estava decidida. Calçou seus melhores sapatos e assaltou um dos bancos da cidade, com a ajuda de um amigo. Não havia ninguém lá dentro, então o trabalho sujo não foi difícil. Por outro lado, Eliza sentia a culpa corroê-la. Iria matar um bebê da forma mais suja possível.
No dia seguinte, então, deu entrada na clínica. Estava trêmula. Percebeu que o escasso dinheiro que havia roubado conseguiria pagar somente por um dos métodos: o mais perigoso e insalubre deles. Mesmo assim, não deu o pé. Esperou meia hora para entrar na sala de cirurgia. Quando o médico a chamou, teve medo. Sabia o que iria acontecer, embora tenha tentado se acalmar...
Afinal, era melhor morrer do que descobrirem...
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As Rosas nascem nas Lápides
Short StoryContos e crônicas de terror, tragédia e melancolia