biscoito da sorte

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Magda morava na casa de seus tios, e tinha Keila, sua prima, como irmã. Depois da morte dos seus pais, as duas primas se tornaram inseparáveis, buscando sempre fazer as coisas juntas.
Naquele dia não foi diferente, ambas passavam em frente a uma casa de chá, na região central de São Paulo. Curiosas, decidiram entrar para ver como era.
O ambiente era bem aconchegante, almofadas vermelhas com branco, lustres e artesanatos de aparência felina, o lugar tinha cheiro de essência de limão com hortelã, havia também escrituras em japonês por todas as paredes.
Keila pediu chá verde, já Magda o preto, que era mais forte, se sentaram perto da janela, ouvindo uma música estrangeira que nenhuma das duas conseguiram identificar de qual pais era.
Após tomarem o chá, caminharam até o caixa para pagar, mas antes de sair da casa, uma velha lhes chamou.
— Bom dia moças. — a velha tocou o braço de Keila. — Aceita um biscoito da sorte?
— Eu aceito sim, obrigado. — Keila se virou curiosa, e aceitou de bom grado o biscoito, mas a velha só tinha um.
— Eu também quero um biscoito. — protestou Magda.
— Tem certeza garota? — a velha parecia indignada.
— Sim! — exclamou a garota.
— Pois bem, pegue esse aqui. — entregou um biscoito gordinho na mão dela.
Depois disso as duas finalmente saíram da casa de chá, Magda antes de abrir o biscoito pediu para trocar com o de sua prima, que aceitou sem rodeios. Dentro tinha uma mensagem.
"Em poucos dias receberá uma surpresa".
Magda ficou muito feliz com a frase do biscoito e se perguntara o que Keila havia tirado.
— O que você tirou prima? — perguntou Magda.
— Prefiro não comentar. — respondeu Keila sem graça, mas a insistência da prima lhe fez ceder o pequeno papel pardo.
"Quente, muito quente" .
— O que isso significa? — Keila perguntou.
— Que você vai tomar um chocolate quente, uma praia, pode ser qualquer coisa. — respondeu Magda ignorando.
— Mas esse M aqui assinado? — Keila perguntou assustada.
— Verdade, o meu não tem isso. — respondeu a prima.
🔥 🔥 🔥
Exatamente duas semanas depois...
Magda estava no mercado quando encontrou um homem muito bonito que por sinal se interessou por ela.
A conversa entre eles, foi tão intensa que até trocaram os números de celulares, para marcarem um futuro encontro.
Magda estava tão feliz com o ocorrido que se lembrou do biscoito que havia aberto dias atrás. Pensando que aquela era sua surpresa, se apressou para chegar em casa, pois precisava contar para sua prima.
Keila estava em casa cozinhando, havia acabado de pôr a panela de pressão no fogo, porem o pino que seguraria a pressão estava entupido, dessa forma era preciso por uma colher embaixo do objeto para soltar o ar.
Keila ouviu um grito muito alto, e um baque na porta lhe assustou, soltando imediatamente o pino da panela. Magda estava ofegante e ao mesmo tempo muito feliz, mas não havia percebido o que tinha feito. Em questão de segundo a pressão da panela pegou, e o ar comprimido dentro do recipiente inchou o objeto até explodir, a tampa voou no teto e a água quente com caldo de feijão caiu sobre Keila que não teve tempo de sair do caminho.
O liquido queimou a garota nos olhos, boca e corpo, ficando completamente escaldada viva, caindo no chão e gritando em desespero.
Magda que havia caído no chão com o baque, se levantou desesperante até a prima, que se debatia muito.
— Sinto muito. — disse Magda com as lágrimas molhando o rosto. — Não foi minha intenção.
Keila sentia o corpo todo arder como fogo, sua visão estava sumindo devido o caldo que caíra sobre eles. Levantou o braço com muita dificuldade e tocou o ombro de Magda. Sussurrando algumas palavras que a prima entendeu imediatamente.
— Quente, muito quente... — a garota fechou os olhos e adormeceu.
No mesmo dia, Keila foi internada em estado grave, o corpo havia sofrido queimaduras de terceiro grau, e mesmo que se recuperasse não voltaria a enxergar, sua visão havia sido prejudicada permanentemente.
Magda que aguardava uma boa notícia, teve a infeliz surpresa de descobrir que sua prima havia morrido na maca do hospital, amargurada e sozinha. Ela se lembrou de todos os momentos bons que havia tido com a prima, e se perguntou se era ela a morrer naquele dia, já que trocara o biscoito da sorte com Keila.
Magda foi ao banheiro do hospital, estava com o rosto inchado de tanto chorar e quando se olhava fixamente no espelho, as luzes se apagaram e uma frase escrita surgiu a sua frente.
"Era para ser você".
Morte.

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