23. A INTERVENÇÃO

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Pedro


- Então, estamos todos combinados para este sábado? - pergunta o Gonçalo, pousando as baquetas. O João e o Diogo acenam com as cabeças. - E tu, Pedro?

- Eu o quê? - pergunto absorto, ainda com a guitarra na mão, mas perdido nos meus pensamentos.

- Vens à Comic Con, ou não? - pergunta com pouca paciência.

- Humm... - O Gonçalo arranjou bilhetes de graça para o evento. Qualquer coisa relacionada com o pai dele pertencer à organização e conseguir arranjar os ingressos para todos os elementos da banda, mas confesso que estava demasiado distraído para me lembrar dos pormenores. - Ya. Acho que sim...

- Meu, achas que sim ou vais mesmo? Estás parvo, ou quê? É uma oportunidade para irmos de graça à primeira edição e tu respondes-me assim? O que é que se passa contigo?

- Deixa-o em paz - diz o João apaziguador. Ele sabe porque é que ando aéreo, contei-lhe o que se passou comigo e com a Catarina porque precisava de desabafar e de saber qual era sua opinião sobre o assunto. Infelizmente, não chegamos a conclusão nenhuma, exceto que o beijo prova a atração física que temos um por outro e, isso por si só, não me chega.

- Andas esquisito. Hoje passaste o dia calado, nem sequer gritaste connosco durante o ensaio todo, o que é no mínimo estranho... - diz divertido, mas eu não lhe devolvo o gracejo, mantenho-me seráfico. - Isso tem a ver com a tua namorada ser agora uma ex-namorada?

- E como é que sabes disso? - pergunto irritado.

- Porque ela me disse ontem, quando tivemos treino de karaté - responde sem me olhar diretamente porque já reparou pela minha expressão e pelo tom de voz, que aquele assunto é delicado.

- Como assim, ela disse-te? Veio ter contigo, assim sem mais nem menos, e disse que já não andávamos? - Agora confronto-o, colocando-me quase ao seu lado, estou preste a passar-me e ele conhece-me o suficiente para saber quando estou quase a perder a cabeça.

- Calma aí, ó Romeu. Estás muito nervosinho. Perguntei-lhe se ela queria ir à Comic Con e perguntei-lhe se ia contigo e foi quando ela me disse.

- Humm... Mas ela vai? - pergunto sem disfarçar o quanto isso me enche de esperança de voltar a vê-la.

- Não me confirmou ainda. Não sabe se pode ir.

- E quando é que sabes a resposta? Se ela for eu também vou. - Já nem me importo em ocultar o desespero, nem a figura patética que sei que estou a fazer em frente aos meus amigos. Já estou para além da humilhação. Quero estar com ela e eles que pensem o que quiserem. Que se fodam! Ou são meus amigos ou não são.

- Hoje, acho eu - responde desviando o olhar do meu. Sei que ele está a lutar com ele mesmo para não me mandar uma boca a gozar com a minha situação, mas é inteligente o bastante para se refrear de o fazer. - Eu... envio-te uma mensagem e guardo-te um bilhete se ela disser que sim.

Arrumamos o material em silêncio. Eles nunca me viram assim, calado e visivelmente triste. Na cabeça deles já fizeram a matemática toda e compreenderam que eu gosto dela, assumiram que ela acabou comigo e que me partiu o coração. Não me interessa. Para todos os efeitos, é como eu me sinto, por isso tanto me faz o que eles pensam ou deixam de pensar.

Começam a combinar onde é que se irão encontrar no sábado e a que horas, mas eu despeço-me e sigo para o meu quarto. Não preciso de saber esses dados todos. Se ela for, eu também vou, e não me interessa a hora a que nos encontramos, nem como vamos lá ter. Arranjo forma de ir. Nem que ela não me fale quando me vir, nem que ela fuja, sei que naquele instante ficarei feliz se conseguir simplesmente olhar para ela.

Se eu fosse um pinguim (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora