19. REDES SOCIAIS NÃO SÃO A MINHA CENA

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Catarina


Na quinta-feira de manhã, quando cheguei ao colégio, o tema de conversa era o nariz partido do Eduardo e a luta que originara o mesmo, envolvendo nada mais nada menos do que o meu falso ex-namorado. O Tomás tinha mencionado o sucedido no dia anterior, mas nunca pensei que fosse um drama de tão monumentais proporções como aquele que servia de falatório no colégio, nem que eu tivesse sido arrastada para a confusão.

O boato comummente aceite era de que eu tinha começado a andar com o Eduardo e que o Pedro tivesse vindo tirar satisfações no final do dia, que ele se recusava a aceitar que eu tivesse acabado com ele, provocando uma zaragata. O pobre do Eduardo não tinha tido outra hipótese que não fosse responder às provocações, tentando se defender. A prova que o boato era verdade era corroborada pelo nariz enfaixado do Eduardo, de tamanho descomunal, as nódoas negras circundantes e o seu ar de patinho feio. A sua postura era um misto de vítima /coitadinho de mim, para conquistar o público feminino do colégio, e de badboy, para o público masculino, valendo-lhe de ambas as frentes um descarado acréscimo de popularidade. Nem por um segundo acreditei que ele poderia ser uma vitima, uma vez que sabia do que era capaz, mas ainda acreditava menos que ele fosse um badboy, pois ele pagava para que batessem por ele e nunca teria coragem de enfrentar de igual para igual um oponente.

Como se alguma vez eu acreditasse que o Pedro seria capaz de iniciar uma luta, muito menos com um indivíduo maior e mais robusto, que pouco ou nada lhe dizia, além de ele saber que me andava a importunar desde o inicio do ano letivo.

Preferia acreditar na versão do meu irmão que jurava que tinha sido o Eduardo a provocar o Pedro e que este tinha tido um golpe de sorte e espetado uma cabeçada em cheio no nariz do seu adversário.

Além disso, não me passava pela cabeça dizer ao Pedro (nem a ninguém) que começara a namorar com o Eduardo, coisa que não queria que acontecesse nunca. Sabia que tinha sido coagida a ir para a cama com ele quando houvesse a festa do colégio, mas até lá ia puxar pela cabeça até encontrar uma forma de me livrar daquela salgalhada. Até lá as pernas do meu irmão estavam a salvo e eu tinha que encontrar uma solução para o problema.

Outro dos boatos que circulava é que o Pedro tinha ficado em pior estado que o Eduardo, facto que o meu irmão me garantiu ser mentira na noite anterior e que eu guardara para mim. Enquanto isso tinha as coscuvilheiras todas do colégio atrás de mim a questionarem sobre a veracidade de eu andar com a abécula do meu colega e do meu ex-namorado estar comatoso no hospital, a recuperar nos cuidados intensivos.

Patético.

Não, não namoro com o Eduardo.

Sim, já não ando com o Pedro.

Parem de me chatear.

Para além do circo de intrigas e fofocas, o certo é que ainda não recuperara da cena que se passara na casa de banho há dois dias atrás, estava longe de saber como me iria safar da combinação ilesa e sem envolver o Tomás. Sentia-me perdida e frágil. A chantagem tinha sido real, a loucura do Eduardo era mais do que real, e tudo o resto não estava a ajudar para que eu conseguisse ter paz para arquitetar num plano para me livrar do Eduardo e das suas ameaças.

Drama era o que se passava dentro de mim há 48 horas. Desde que ele me mostrara o quanto era doido, que eu vivia apavorada, remoendo sozinha os fantasmas que me assolavam as noites e que me faziam ter medo da sombra de dia. Passei de mulher assertiva a mulher débil depois de sair daquela casa de banho. Passei de mulher corajosa a uma covarde que não olhava de frente para ninguém. Escondida dele, temerosa pela partilha de um acordo que não sabia como iria cumprir, e desgastada por não encontrar uma solução para o desfecho.

Se eu fosse um pinguim (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora