Catarina
- Sai! Vai-te embora - exclamo com a voz sumida, não disfarçando a tristeza que me invade e as lágrimas que correm livremente e que lhe ensopam a t-shirt. Ele não percebe o que digo, ou finge que não me ouve, porque mantem-se agarrado, abraçando-me ainda com mais força e acariciando-me a cabeça que mantenho colada no seu peito. Quer-me junto a ele, como que a marcar a sua posição, e não faz intenções de me largar. - Tu...tu gostas de mim?
- Gosto? - pergunta com voz rouca. - Acho que já passei essa fase do gostar. Eu...eu sou louco por ti, Catarina. Desde que fomos comer aquele gelado que não penso em mais nada...
Soluço de choro quando ouço as suas palavras e afundo ainda mais a cabeça no seu peito, chorando descontroladamente. Ele gosta de mim como eu gosto dele. Ele quer-me como eu o quero a ele. O nosso beijo foi a prova derradeira de como nos desejamos e, ainda assim, temos que nos separar e não voltar a cair na tentação.
Gostava de lhe poder explicar o porquê de tanta coisa. Gostava de lhe poder contar o que se passou entre mim e o Eduardo. Gostava, acima de tudo, de não ter de o mandar embora. Porém, não me resta outra solução senão essa. Se o Eduardo sabe que gostamos um do outro, se ele nos vir juntos, nem que seja numa situação platónica, tenho a certeza que manda matar o Pedro. É louco suficiente para isso e muito mais.
- Então...tens que ir embora. Tens que me esquecer, Pedro! - empurro-o com as duas mãos, ele fica com as costas coladas à porta e eu afasto-me um passo, mantendo a distancia dos braços que o empurram entre nós. Tenho a cabeça enterrada nos ombros, o olhar fixo do chão, evitando-o com o resto das forças que encontro dentro de mim. O meu corpo anseia por continuar junto ao dele, por isso sei que se cruzo o olhar com o dele não vou poder dizer-lhe o que tenho que dizer.
- Então, se gostas mesmo de mim, sai! Sai! Eu e tu...não vai dar... - a voz sai mais fraca do que queria, por isso tusso para aclarar a garganta e volto a insistir, desta vez com mais firmeza - Vai-te embora, Pedro! Sai!
- Como assim? Sai? - pergunta incrédulo. - Não. Não vou sair enquanto não me explicares o que é que se passou aqui. Isto. Aqui. Entre nós.
- Sai! - repito, quase grito, mas não ouso olhá-lo de frente.
- Eu não quero sair. Aliás, não quero sair nunca mais da tua vida, Catarina. Quero que sejamos namorados, a sério, mesmo, sem ser aquela farsa de antigamente.
- Vai-te embora, Pedro. Não estou a brincar - agora já não vacilo, a minha voz está séria e grave. No momento em que falou em sermos namorados, lembrei-me do perigo que corre e de como tenho que fazer tudo o que estiver ao meu alcance para evitar que ele se cruze com o Eduardo. Aquele gajo demente e sádico, que me chantageia e ameaça, é o meu problema. Só meu! Tenho que o salvaguardar da loucura do Eduardo. E enquanto não resolver esse assunto, o Pedro tem que se manter longe de mim. Não é que o queira, mas não tenho mais nenhuma alternativa.
- Não, na verdade tu tens que estar a brincar comigo, porque.... Foda-se! Ninguém beija como me beijaste e depois me manda à merda. Catarina, nós os dois...
- Sai, Pedro! - grito, afasto-me e viro-me de costas cruzando os braços, desta forma continuo sem ter que olhar para ele de frente e não tenho que estar a tocar no seu peito. A distância entre nós permite-me ser mais assertiva no que digo: - Ou sais agora, já, ou te garanto que desato aos berros a chamar pela minha mãe.
Ouço a porta a abrir e depois a fechar com um estrondo. Encosto o ouvido à porta e não ouço vozes, o que significa que não se cruzou com o Tomás, nem com a minha mãe, e finalmente ouço a porta da entrada a abrir e bater. Respiro aliviada por uns míseros segundos e depois volta o sentimento de tristeza, mas desta vez acompanhada pela sensação de vazio por ele não estar mais ali.
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Se eu fosse um pinguim (COMPLETO)
Fiksi RemajaPedro é um apaixonado pela música, que gosta mais de tocar com a sua banda do que estudar matemática. Catarina é a melhor aluna da turma, uma miúda com objetivos bem definidos, mas que ainda sofre de amor pelo ex-namorado e que foge da perseguição...