Visita Inesperada

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Capítulo 8

Estava almoçando na casa do meu pai, eu tinha feito o almoço — ramen, única coisa que eu conseguia fazer direito sem salgar ou passar do ponto — e a gente conversou sobre algumas coisas. Eu gostava de passar os domingos com o meu pai, ele era um homem bom e eu admito que senti falta dele quando morei três anos no Brasil só com a minha mãe.

Eu era mais próxima do meu pai, apesar de me parecer mais com a minha mãe. Meu pai era mais calmo e sábio, acho que foi por isso que minha mãe decidiu se separar dele — ela era um espírito livre preso no corpo de uma típica dona de casa coreana.

— Como vai o trabalho? — Meu pai pergunta enquanto assopra o ramen. — Você parece bastante ocupada ultimamente.

— Sim, eu tenho trabalhado duro — digo, colocando o cabelo atrás das orelhas para comer melhor. — Mas, eu estou feliz com esse trabalho... acho que vou crescer nele.

— Ouvir isso me enche de orgulho — meu pai sorri e dá um tapinha na minha mão. — Ver minha única filha se destacar com o que ela gosta de fazer é o meu maior sonho.

Sorrio e seguro a mão dele com carinho.

— Você parece mesmo mais feliz... — Ele diz após comer mais um pouco. — Você já tem alguém para me apresentar?

Engasgo e tomo um pouco de água.

— Não... não tenho ninguém em mente ainda — digo, passando a mão no pescoço e pigarreando. — Eu estou focada no trabalho agora, e você sabe como eu sou...

— Sim... eu sei — ele diz um tanto decepcionado e revira a comida um pouco. — Eu não quero te pressionar como a sua mãe, você sabe... eu só estou preocupado com a sua felicidade. Eu não quero que você fique sozinha...

— Appa... eu estou bem — digo me inclinando e voltando a segurar a mão dele com um sorriso. — Não se preocupe comigo, ok? Eu vou encontrar alguém que valha a pena... e mesmo se eu não encontrar, eu posso ser feliz sozinha...

Meu pai respira fundo, aquela não era uma ideia que o agradava. Nisso, ele e a minha mãe concordavam.

— Minha filha... eu só gostaria de ver o meu genro enquanto ainda estou por aqui — ele admite com um meio sorriso. — Então, não leve muito tempo, ok?

— Do que você está falando, appa? — Rio. Ele sempre apelava para essa conversa de estar velho demais e ter pouco tempo. — Você vai ter muito tempo pra isso ainda! E eu só tenho 22 anos... tia Miyun se casou com 31 e não teve problemas.

— Sim, sim... você está certa, você ainda tem bastante tempo — ele diz sorrindo levemente, mas parecia mais preocupado que o normal e mais cansado também. — E Miyun ainda teve trigêmios cheios de saúde!

Rimos.

— Muita saúde mesmo... aqueles pestinhas — balanço a cabeça ao lembrar da última vez que estivemos todos juntos no ano novo.

— Você tem razão... não há razão para eu me preocupar — ele continua comendo.

Chego em casa, deixo a minha bolsa sobre o sofá e vou direto para o banheiro tomar um banho. Penso sobre as coisas que o meu pai disse, ele realmente parecia mais preocupado com o fato de eu estar sozinha. Era comum que os pais se preocupassem em ver seus filhos bem casados e felizes, mas acho que meus pais estavam um tanto apressados demais com isso. Eu só tenho 22 anos ainda, mal saí da faculdade e eles já querem que eu me case assim, do nada?

Estranhei a pressa do meu pai... eu estava acostumada com a minha mãe me arranjando encontros e falando sobre mim para as amigas delas, com esperanças de me casar com um de seus filhos, mas, era a primeira vez que o meu pai deixava clara essa preocupação. Talvez a pressa deles fosse por eu estar perto dos 25 anos... "garotas só conseguem escolher um bom marido até os 25, depois disso elas são apenas escolhidas e têm que torcer para que isso aconteça" — era o que minha mãe sempre dizia e eu sempre ignorava quando mais nova, mas com a minha falta de sorte em lidar com o amor e um total de 1 namorado e meio, eu já estava começando a me preocupar.

FLY - Aprendendo a AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora