Capítulo 4 - Coelho

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— Perdida?

— Que susto, menino! - falei alto e ele riu.

— O que está fazendo aqui?

— Aparentemente, meu colega de quarto decidiu dar a si mesmo uma noite divertida e esqueceu de que eu preciso dormir. Agora esta adorável mocinha está me contando que os negócios vão muito bem, já que não há um único quarto disponível em todo o hotel. Agora estou pensando em dormir no saguão, ou voltar ao set e usar um trailer para descansar. Ou talvez dormir no corredor para constranger seja lá quem for que está ocupando meu quarto.

— Quanto drama! Vem, estou sozinho no meu quarto. Tem um sofá cama na sala e um chuveiro à sua disposição. Por mais que a recepção pareça convidativa, acho que não vai pegar bem se um dos muitos paparazzi que estão na cidade fotografarem você apagada aqui. - tive que concordar e aceitei o convite.

— Tomei um longo banho morno, sentindo todo o cansaço das últimas semanas ir embora de uma vez só. Saindo do banheiro vestida no roupão do hotel, encontrei Jay terminando de preparar o sofá cama.

— Ora, não sabia que estrelas de Hollywood sabiam fazer a cama.

— Eu não sou estrela de coisa nenhuma. Sou ator. Estrela é a maneira como algumas pessoas insistem em me chamar. E sim, sei arrumar uma cama, cuidar de uma casa e até fazer bolo. Não fui mimado como a maioria pensa.

—Não quis ofender, desculpa. – respondi meio constrangida. E obrigada por me receber, por fazer a cama e me emprestar seu roupão. Amanhã, logo depois que eu matar o Josué, te devolvo. Acabo de fazer uma dívida enorme com você.

— Vocês têm uma relação interessante. - ele comentou rindo - Ele ama muito você

— E eu a ele, mas não quero pensar nisso agora, quero estar brava com ele e você não vai me impedir - ele riu com vontade.

— Você sempre foi assim? – ele agora ria abertamente

—Assim como? – sentei na cama, o encarando

— Meio abusada. – fiz uma cara indignada e atirei um travesseiro nele, que pegou a peça no ar e se apoiou na cama, gargalhando.

— Eu não... tá, eu sou um pouquinho abusada. E não, nem sempre fui assim – eu também ria – na verdade, fui uma menina bem tímida e muito sozinha.

— Sério? Conte mais. Quero saber mais sobre a Aurélia criança.

— Eu sou filha única de pais bem controladores, então era meio que proibida de brincar com as crianças da vizinhança. Eles achavam que eu poderia ser mal influenciada por elas. Fui para a escola aos três anos, já no primeiro ano, quando eles descobriram que eu havia aprendido a ler sozinha. Você pode imaginar uma criança que nunca brincava com crianças que não fossem primos, entrando numa sala cheia de crianças mais velhas e que já se conheciam há tempos? Humilhação define.

— Por que humilhação?

— Eu sabia muito sobre livros e números, mas nada sobre conviver com gente, ninguém gostava de brincar comigo, então nas poucas vezes que recebi alguma atenção dos colegas foi para sofrer alguma brincadeira de mau gosto. Crianças pequenas são ótimas em ser cruéis. Fui sozinha praticamente a vida toda. – era estranho falar isso para alguém que não fosse o meu terapeuta – Mas acabou sendo bom. Meus livros foram os únicos amigos que tive, e eu não poderia pedir por melhores. E você, como foi crescer em Hollywood? – resolvi mudar de assunto antes que ele começasse a sentir pena de mim

— Acho que foi normal, quer dizer, tanto quanto dá pra ser. Nunca sofri na escola porque fui educado em casa, mas castings podem ser um grande teste para a autoestima, especialmente quando se tem onze anos e se é rejeitado por não ser bonitinho o suficiente.

Mais Que Perfeito  *Degustação*Onde histórias criam vida. Descubra agora