Manto Dourado

CODRIC

Passar quatro meses esperando a chegada das férias de verão é geralmente algo estressante, mas também ansioso para a maioria dos estudantes do ensino médio.

Aproveitar os passeios e festas entre os amigos, fazer o que não consegue durante o tempo de aula, por falta de tempo e oportunidade, é a maior recompensa que um adolescente pode querer.

Algo comum e natural para Codric e os amigos, mas não esse ano. Esse ano seria diferente, esse ano fariam a grandiosa Festa do Grito, sete dias em uma ilha longe de preocupações e de adultos. Apenas sol, comida, música e coisas de adolescente.

Faltavam apenas três dias para o fim das aulas, e entre os cinco alunos da classe de Codric que iriam para a festa, a mais ansiosa era Helena. Seus grandes olhos negros brilhavam ainda mais quando alguém tocava no assunto da viagem.

- Vai ser a festa do milênio! - dizia ela com um entusiasmo claro em seu sorriso. E realmente poderia vir a ser, ainda mais pra Helena, que não era do tipo de garota nem de adolescente que saia muito de casa. Em geral ela era uma garota muito sociável, bonita e feliz. Mas tinha medo do mundo. Não brincava fora de casa nem quando era criança, por que deveria sair de casa agora?

- Tanto animo pra sair do continente? - Codric conhecia Helena desde pequena, sabia que era algo importante para ela poder passear um pouco com os amigos, mas achava que dessa forma seria um pouco radical pra ela. - Ficou corajosa de repente?

- Engraçadinho. Eu vou ten... Vou apenas aproveitar esse tempo com vocês.

Quase sempre ela travava quando falavam sobre ela não sair de casa, ou sobre medos pessoais, mas talvez fosse melhor não entrar no assunto.

Nicolas apareceu do nada atrás de Helena com um cartaz nas mãos.

- Gente! - Helena deu um pulo com o grito de Nicolas. - vamos no Blodmir, estão fazendo uma promoção: Casais de namorados pagam meia entrada.

- Tenho dois motivos pra não irmos: temos que organizar as coisas pra viagem, e os únicos de nós que estão namorando são o Pody e a Hella.

- Eu topo cara, partiu arranjar uma namorada em dois dias. - Codric queria muito ir no Blodmir, mas era um evento muito caro.

Blodmir era como uma feira de tudo: desenhos animados; filmes; histórias em quadrinhos; livros; carros; aviões; etc. De realmente tudo, e todo ano a organização criva uma promoção que não ajudava nem a Codric nem aos seus amigos em nada.

- Que azar pra vocês. - Hella apareceu quase tão do nada quanto Nicolas, e também assustou Helena.

- Vocês querem parar com isso!

- Haha, eu vou com o Podye, vocês deveriam se organizar pra fingir ser namorados e aproveitar essa promoção, ela é mais fácil que a do ano passado. E Nic, essa seria uma chance de aproveitar um tempo com a Jessy

- Fala baixo! - Nicolas era apaixonado por Jessy desde o primário. - Talvez... Temos que planejar, não vou aguentar ver de novo pela Internet todas as atrações que tiveram no evento.

- Falamos com a Jessy depois. Mas e vocês? Por que não vão juntos? Já são tão íntimos, acho que conseguem fingir isso, não?

Codric assustou, e ele percebeu que Helena ficou inquieta com a ideia.

- É... Acho que podemos fazer esse esforço, dessa vez. - Ela nunca esteve tão vermelha. - Concorda Codric? É... Pode ser nossa... Um... Única chance de ir ao Blodmir.

- Por mim tudo bem, quer dizer... - Codric tentava não gaguejar.

- Então pronto. Nos vemos amanhã na portaria. Vamos Nic.

Foi difícil continuar do lado da Helena depois daquela conversa, e mais difícil ainda dizer algo.

- Acha que vai dar certo? Digo... Com o Nic e a Jessy? Eles são bem animados.

- Acho que sim. O Nic topa qualquer coisa, e a Jessy já disse que estava disposta a tudo para ir esse ano. O sinal da escola soou, e pela primeira vez Codric avia gostado daquele som.

- Até amanhã então. - Helena deu um abraço em Codric.

- Até.

Poucos minutos depois que Helena se foi, começou a chover, e logo o pátio ficou vazio. Codric ficou sentado no banco, com a roupa molhada e a franja loira caída sobre os olhos azuis.

Era comum ele passar um tempo sozinho no pátio, e comum também ficar na chuva, então aquele era um dia agradável para ele. Mas a chuva aumentou muito e ele teve que ir pra casa.

Chegando em casa, como sempre, sua avó estava fazendo uma torta de morango (o avô de Codric teve uma plantação de morangos em algum lugar no mundo, e nunca falou pra ninguém onde ela ficava, só para a avó de Codric. E depois de sua morte, ela continuava fazendo todos os dias uma torta de morango tentando encontrar o sabor dos morangos do ex-marido, mas as tortas nunca mais foram as mesmas).

Sua avó estava na cozinha, em frente à janela, com o cabelo cinza preso atrás da cabeça por uma faixa vermelha. Ela estava limpando os talheres. A torta já estava no forno.

- Como foi o dia querido? - Ela tentava parecer animada, mas na idade dela já era difícil disfarçar o choro.

- Quase tão bom quanto o cheiro vó! E o seu?

- É... - Ela ergueu a cabeça pra não deixar uma lágrima escorrer. - Sua amiga ligou, me pediu pra te avisar quando chegasse.