NICOLAS

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Hella arrastou Nicolas pela escola toda até a praça do fundo (uma área verde da escola, com muitas árvores, moitas e um riacho), onde Jessy sempre passava os fins de tarde sentada num tronco caído escrevendo em seu diário, era uma das únicas garotas que mesmo crescidas continuaram fazendo isso.

- Sente o cheiro?

- Cheiro de que seu louco?

- Chuva, e bem forte.

- Eu não.

E lá estava ela, como em todos os dias: as sandálias jogadas de lado; os dedos do pé cavando a terra; os olhos castanhos, quase vermelhos, atentos ao papel; os ombros tensos; as sardas cintilando sobre a pele clara ao sol; os dentes mordendo o lábio inferior; os cachos cor de fogo balançando ao vento... Nicolas tinha muito bem guardada aquela vista.

- Jessy! - Hella chegou gritando, o que assustou Jessy e a fez deixar o caderno cair, aberto.

Nicolas tapou os olhos com a mão e pegou o caderno do chão.

- Aqui.

- Obrigada. - Não dava pra saber se dessa vez Jessy havia ficado vermelha de vergonha ou se estava com sua cor normal.

- Por que todo o desespero?

- Se lembra do que descobrimos mais cedo?

- O Blodmir? - Agora sim ela estava corada. - Lembro, mais uma promoção meio complicada.

- Nem tanto. - Hella bateu no ombro de Nicolas.

- É... Bem... Desta vez não é tão complicado.

- Mas só Hella e Podye estão namorando.

- Ninguém pode obrigar vocês a comprovar que estão namorando, e também, ganhamos a competição de teatro por três anos seguidos.

- Vocês? Teatro? - Jessy começou a gaguejar.

- Calma Hella. (Não se apresse) Estávamos pensando nisso... Não acho que teremos uma promoção mais simples e... (Concentre-se) Concluímos que deveríamos, eu, você, Codric e Helena, forjar namoro pra poder garantir a entrada (Estragou tudo) (Silêncio).

- Ahh... Codric e Helena aceitaram isso?

- Sim. - Hella já estava ficando inquieta. - Falta você decidir.

- Calma Hella! (Não explode)

- Talvez...

- Então ótimo. Nos vemos amanhã.
Hella simplesmente virou as costas e correu pra dentro da escola.

Jessy ficou de olhos fechados por um tempo, morrendo de vergonha. Nicolas se sentou no chão na frente dela. O sinal da escola soou.

- Não precisa ir se não quiser.

- Não, vai ser legal. Estamos esperando isso a muito tempo.

- O que tanto escreve?

- Sonhos, coisas que eu gostaria de viver.

- Não gosto muito disso, geralmente as coisas que imagino nunca acontecem, crio esperança demais e quando nada acontece... Fico mal, decepcionado.

- As vezes e só o que temos e é só o que precisamos. A esperança nos faz continuar, nos torna fortes. Ninguém luta guerras perdidas sem esperança. Sonhos não são visões do futuro, são organizações de metas. São nossos remédios ilusórios bons, em meio à doenças reais dos sentimentos.

-Talvez. Acho que as coisas...

Começou a chover. Jessy tentou esconder o diário debaixo da roupa. Nicolas tirou a blusa e colocou sobre os ombros de Jessy.

- Obrigada. - E corou novamente, mas desta vez, olhando nos olhos de Nicolas.

- A essa hora a porta por onde vim já fechou. Vamos ter que sair pelo fundo, e parece que a chuva vai aumentar.

Os dois correm pra debaixo da velha magnólia e ficaram lá até a chuva diminuir.

Manto DouradoOnde histórias criam vida. Descubra agora