A ideia mais louca do ano; O momento mais vergonhoso da década; A "tacada" mais certeira e apaixonante do século. E o dia perfeito terminou em chuva.
Estava tudo indo muito bem: A viagem; o evento; Codric. Mas tinha de chover? Pelo menos o tio de Helena pode leva-la pra casa de carro.
A mãe de Helena , Amanda, trabalhava em uma floricultura, não passava de um salão pequeno na frente da casa cheio de flores, arranjos, buques e mudas de todas as espécies e cores, mas não dava pra manter o lugar aberto na chuva, ninguém compra flores na chuva. E cada dia sem venda é menos dinheiro no fim do mês.
Chegando em casa, a mãe de Helena estava fechando o salão.
- Está entregue pequena.
- Obrigada tio. Pode me ajudar amanhã?
- No Blodmir? Busco sim.
- Obrigada de novo. - Helena não lembrava de ter falado do evento com o tio antes.
Sua mãe ficou esperando por ela na porta. Aquela visão era como um espelhos só que com um tom obscuro. Amanda era extremamente parecida com Helena, os olhos e cabelo negros, o queixo fino, o nariz pequeno e redondinho e as maçãs do rosto muito chamativas. Um lindo rosto, exceto pela maquiagem negra escorrendo pelo rosto por causa da chuva.
- Oi mãe.
- Oi. Eu estava preocupada.
- Por que? O tio Lu foi me buscar.
- Sabe muito bem porque. Agora vamos, está chovendo muito.
Não bastava Helena ter uma floricultura na frente de casa, todos os cantos mesas e janelas da casa também tinham flores e plantas, tanto floríferas quanto frutíferas, e o aroma delas se misturavam por toda a casa, um cheiro constante de rosas, mel e limão, sim, tinha uma colmeia e um pequeno limoeiro dentro da casa.
- Como combinou o passeio amanhã?
- Iremos nos encontrar... Codric! - Helena correu para o telefone.
Codric era um garoto estranho, gostava de ficar na chuva, gostava de ficar sozinho, não comia nenhuma comida azul. Mas quase sempre que ele ficava na chuva ele perdia a noção de tudo, tempo, perigo, e sempre ficava resfriado. Esse definitivamente não era o momento de ele adoecer.
- Alô?
- Oi Sra. Barn, é a Helena. O Codric está?
- Oi minha flor. Não, ele ainda não chegou da escola. Você sabe como é nesses dias de chuva.
- Pode pedir pra ele me ligar quando chegar?
- Claro querida.
- Obrigado Sra. Barn. Tchau.
- Tchau.
Com certeza aquilo não tranquilizou Helena, mas aquele não era o único problema no momento.
- Mãe, como o tio Lu sabe do Blodmir?
- Eu não ia poder te ajudar amanhã então pedi pra ele.
- Por que? Problema com a moto?
- Não, é que... Ahh... Ok, falei com seu tio e com sua avó sobre o passeio.
- Por que? - Aquilo não fazia muito sentido para Helena.
- Porque mostra que está superando aquilo. Ficamos muito felizes com isso.
E agora? Era meio vergonhosa toda essa proliferação de uma notícia que parecia tão boba, um passeio. Mas realmente era uma evolução.
Quase duas horas se passaram. Codric não havia ligado ainda e a chuva não tinha parado.
- Helena o jantar está quase pronto! Pode me trazer quatro limões quando descer?
- Posso!O limoeiro ficava no segundo andar da casa, ao lado do quarto de Helena.
Só o pai de Helena sabia como plantar um limoeiro no segundo andar, ninguém nunca entendeu porque ele quis plantar um lá em cima.
De repente o telefone tocou, Helena desceu correndo as escadas com os limões nos braços. Jogou os limões na mesa e atendeu o telefone.
- Alô?
- Helena?
- Codric! Ficou na chuva até agora não ficou?
- Não agora, cheguei em casa faz quinze minutos.
- Então vai se esquentar, se furar com a gente por causa de um resfriado de novo...
- Eu estou bem Helena.
- Espero que esteja. Nos vemos amanhã. Tchau.
- Tchau. Helena não ficou mais calma com a conversa, mas não podia fazer mais nada.
A chuva não parou, nem parecia diminuir.
Era estranho para uma garota de dezesseis anos, mas Amanda ainda lia histórias para Helena antes de dormirem. Helena tinha um livro pequeno com fábulas de um reio cheio de animais falantes e monstros: Caminho de sombras. Várias histórias de um lobinho e de seus amigos problemáticos.
- Que tal... Um amor de princesa? Você adorava.
- Ainda adoro.
- Um amor de princesa. O lobinho e a princesa uma noite se sentaram debaixo de uma oliveira, e a princesa contou para o lobinho sobre o amor, sobre a primeira e ruim experiência que ela teve com um jovem caçador uma vez. - Chorei muito, e ele não merecia nenhuma de minhas lágrimas. Mas acho que aprendi meu valor. Sinto falta dele, mas sei que um dia vou superar. Um dia vou encontrar quem mereça meu amor. - Apenas isso? - O lobinho a conhecia, e queria que ela realmente soltasse o que estava prendendo. - Não! Esse caçadorzinho fajuto um dia arrumou uma vadia que dizia ama-lo, só que da boca pra fora, e fazia ele correr atrás dela como um idiota. E um dia ele vai parar e pensar "Puta que pariu! Por que deixei aquela princesa? Ela me amava tanto, estava sempre do meu lado, nos momentos felizes e nas desgraças." Ele vai querer voltar, mas não vou recebe-lo. Sabe por que, lobinho? Porque aprendi com tudo isso. Sei que posso viver sem ele, e não sou triste por isso. E sei que um dia vou encontrar alguém que terá prazer em cuspir nos bordeis, só de lembrar que me ama e que é meu. - Isso é amor, minha senhora? - Disse o lobinho. - Não lobinho. Amor é você estar aqui comigo, nesse momento difícil. - Parece tão difícil amar de acordo com sua historia...
- "A minha história está só começando." conclui a princesa.
- Boa noite Helena.
- Boa noite mãe.

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Manto Dourado
Ficção AdolescenteUm grupo de adolescentes comuns, cada um com seus diferentes problemas pessoais, familiares e amorosos, viajam para uma ilha famosa. Os problemas deles parecem se resolver com o tempo, mas os problemas da ilha acabam atrapalhando o passeio.