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Para aqueles que não me conhecem, vêem-me como uma rapariga frágil. Pensam que não sou capaz de viver no mundo dos homens.

Sou imprevisível e não gosto que me controlem. Quando me sinto sufocada, fujo.

Mas eu nunca fugi das mãos dele.

Enfio algumas peças de roupa dentro da minha mala de viagem, concentrada na música que toca nas colunas do meu quarto. O som está quase no máximo e não me incomoda. Só não quero que as memórias regressem, quando tudo o que quero é mantê-las distantes.

Sou apanhada de surpresa quando sinto umas mãos abraçar a minha cintura fina. Quase de imediato reconheço os braços que me agarram. São fortes e bronzeados, com grandes tatuagens. Coloco as minhas mãos por cima dos seus braços e os seus lábios secos colam-se ao meu pescoço.

Os meus olhos castanhos fecham-se momentaneamente, inspirando profundamente o ar que nos rodeia. Os lábios de Derek movimentam-se lentamente pelo meu pescoço, o que faz a minha pele morena arrepiar.

- Acredita que a ideia de te enviar a Londre não me agrada. – Hale sussurra contra a minha pele.

Mantenho-me em silêncio. Não queria prosseguir com o momento. 

Derek percebe o meu silêncio e recua, soltando assim o meu magro corpo. Decido não me virar para o encarar, algo que ele também parece entender.

- Tenta manter-te longe de perigos. - A sua voz rouca pronuncia. Oiço-o caminhar em direção à porta do meu quarto, saindo depois pela mesma, fechando-a.

Derek achava que podia simplesmente dar-me ordens e fazer de minha a sua boneca. 

Mais cedo ou mais tarde, isto teria de parar. 



Nunca estive numa viagem tão silenciosa quanto fora esta de Cardiff para Londres.

Após à nossa ida ao hotel onde ficaríamos hospedados por conta de Derek, pedi a um dos companheiros do meu irmão que me deixasse num casino das redondezas. 

A ideia não agradou a Andrew, que logo tentou intervir e impedir Trevor de me dar a boleia que eu necessitava. Trevor soube responder que, sendo uma ordem minha, ele lamentava mas não ia aceitar a Andrew. Afinal, eu tinha poder de palavra naquele pequeno grupo. Pouco ou nada me importava se o meu irmão não gostava da ideia de eu sair àquelas horas.

O vestido que envergo é preto, com o tecido um pouco justo ao meu magro corpo. É também comprido, com uma leve abertura desde a minha coxa direita até ao final do vestido, dando-me um ar muito mais elegante. 

O som dos meus saltos é audível contra o pavimento do casino enquanto caminho. O cheiro a álcool e tabaco é possível sentir-se neste lugar apinhado de pessoas, tal como as imensas conversas e a música suave de fundo.

Nenhuma das caras dentro do estabelecimento me é familiar e dou graças por ninguém me reconhecer. 

Sou demasiado conhecida em Londres e foi por isso que Andrew decidiu que nos mudaríamos para Cardiff, para as pessoas poderem esquecer o meu rosto.

A minha atenção capta de imediato uma pequena placa com letras néon, que identifica uma pequena sala discreta, coberta com uma cortina vermelha, como VIP. 

Não tem seguranças no seu exterior. Se eu me esgueirar para a mesma, penso que ninguém irá reparar.

Afasto a cortina vermelha do meu caminho, dando uma última espreitadela sobre o meu ombro esquerdo, procurando verificar se ninguém notava a minha entrada naquela área. O local está muito mal iluminado e o cheiro aqui presente é-me deveras familiar.

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