Sábado.
O dia de Natal.
Acordei tão cedo quanto a minha realidade e invés de abrir presentes, só desejei que o meu tempo presente se tornasse logo um passado.
Desci até a cozinha, preparei uma xícara com café e fiquei sentada à mesa por um tempo que não calculei. Ter noção do tempo naquele momento era o mesmo que arremessar a noite anterior contra a parede da memória.
— Deixe-me preparar seu café da manhã!
Escutei a voz da minha mãe e ergui a cabeça para vê-la. Ela parecia feliz e eu precisava não ver isso.
— Não estou sentindo fome, mãe. Só preciso de um pouco de água. Obrigada. — Falei, levantando-me, deixando a xícara já vazia na pia e pegando um copo com água.
— Querida, é Natal! Posso fazer panquecas. Há quanto tempo você não come panquecas?
Engoli a saliva com dificuldade, assim como foi difícil engolir a alegria da minha mãe.
— Mãe, não estou com fome. Vou subir.
Ela parou em minha frente, impedindo que eu continuasse.
— Você está sentindo alguma coisa? — Perguntou pousando uma mão em minha testa. — Está se sentindo bem?
Abaixei a cabeça e ri em descrença.
— Não estou me sentindo bem. A senhora sabe.
Não fiquei esperando por alguma outra resposta, apenas desviei dela, saí da cozinha e fui para o meu quarto. Ao fechar a porta caminhei até à minha escrivaninha, onde estava o meu celular. Deixei o copo com água em cima da superfície quase vazia, já que todas as minhas coisas importantes estavam no apartamento, e peguei meu celular. Desbloqueei a tela na esperança de ver alguma mensagem não lida ou ligação perdida.
Não havia nada ali.
Suspirei e inconscientemente naveguei até a galeria de fotos, local que, infelizmente, deu acesso direto ao que eu não precisava lembrar: uma vida feliz compartilhada com mais 5 pessoas, incluindo a minha antiga namorada. Fotos que eu provavelmente não havia tirado. Todas foram Camila, já que ela agora sabia a senha de bloqueio.
Uma série de fotos iguais dela fingindo dormir com o rosto colado ao Sparky evidenciava como Camila gastava a memória do celular com... coisas lindas. Ainda passando as imagens, encontrei uma outra série que mostrava Dinah cozinhando, Dinah posando em frente à geladeira, Dinah e Camila, Dinah, Camila e Veronica. Allyson parecendo brigar com o Sparky por ele estar em cima de um livro dela, Normani e eu sentadas ao chão da sala, Normani e Dinah posando na janela, Veronica parecendo discutir com Dinah... Camila beijando a minha testa enquanto eu dormia.
Fechei os olhos e soltei o celular sobre a mesa, desistindo de qualquer intenção memorativa que meu (in)consciente queria me proporcionar.
Mais tarde naquele mesmo dia, recebi uma mensagem da Normani, perguntando como estava tudo, mas ignorei.
E o último diálogo que tive no dia foi com a minha mãe.
— É Natal. Você não quer ver os presentes? — Ela perguntou ao entrar no meu quarto e acender a luz quando eu estava no escuro, sentada com as costas à cabeceira da cama, olhando para o vazio.
— Se a senhora não se importa, eu prefiro não comemorar o Natal esse ano. — Respondi sem encará-la.
— Você não comeu nada hoje. Quer que eu traga alguma coisa?
— Não. Obrigada. — Meu tom era completamente mórbido, mas não tinha como ser diferente já que eu não tinha forças para nada.
— Lauren... Você precisa comer alguma coisa! Nem a roupa você trocou!
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Parece Mais Fácil Nos Filmes
Fanfiction"É óbvio se eu pudesse escolher quem eu gosto, não seria você."