No final, eu fiz a coisa certa.
Depois que Percy me entregou a adaga amaldiçoada de Annabeth e cortei meu braço esquerdo - no qual escolhi para ser meu ponto fraco quando mergulhei no Rio Estige. A dor causada pelo corte dominava meu corpo aos poucos, porém nunca seria equivalente a que causei aos outros. Vidas inocentes que se foram por minha causa. Corações que jamais serão os mesmos.
"E a alma do herói, a lâmina maldita ceifará"
Enquanto meu corpo desfalecido ia de encontro ao chão, a voz do Oráculo de Delfos parecia reverberar em minha mente pronunciando como simples sussurros diversas vezes a parte em que a profecia se dirigia a mim. Afinal, será que fui realmente o herói? Mesmo depois de ter causado todos aqueles estragos? Mesmo reconstruindo pedaço por pedaço em um caixão de ouro aquele que engoliu seus próprios filhos por medo de perder o poder?
Dizem que quando morremos toda a nossa vida passa em nossa mente como um filme, porém, assim que minhas pálpebras se fecharam e sentia minha alma ser puxada para fora do meu corpo com uma força descomunal, a única cena que surgiu na minha mente foi do dia em que um garoto com cabelos escuros, olhos verdes da cor do mar e que aparentava ter doze anos de idade, apareceu, tropeçando na porta do chalé 11, com uma caixa de sapatos nas mãos. O nome dele era Percy Jackson e nem tinha noção do futuro brilhante que teria pela frente. Claro que perdas iam acontecer ao longo do caminho, isso era um fato, porém ele iria conquistar muito mais.
Depois do que pareceram horas desde a minha morte, acordei, se é que posso dizer assim, afinal, estou morto. Olhei ao meu redor e uma multidão de almas se formava todos indo em frente, na mesma direção.
- É isso. Eu fiz por merecer - digo para mim mesmo.
Estava muito escuro, meus olhos demoraram um pouco para acostumar-se com a iluminação, as chamas que crepitavam nas poucas tochas que se encontravam no local não davam conta do recado. A frente, separada de nós, uma silhueta sólida que aparentava ser humana, mais alta do que todos os presentes, se formava, revestida de um manto negro e sua cabeça era coberta por um capuz também negro, dele emanava uma força divina, a áurea de um deus. Deduzi que aquele era Tânatos e ele levava consigo uma tocha. Perguntava-me o que ele estava fazendo ali se era o deus responsável por trazer os mortos para cá e não encaminhá-los à seus respectivos julgamentos.
Continuei a observar o lugar. As paredes de pedras escuras deixam em destaque as joias que ali incrustadas estavam. Se algum filho de Hermes estivesse vivo aqui, já teria furtado tudo. Meu olhar foi guiado pelas paredes até acima, onde não havia céu e sim uma imensidão negra.
Voltei a olhar a multidão. À minha direita, um garoto de aproximadamente sete anos de idade, andava cabisbaixo com os cabelos desgrenhados. Sua blusa branca estava com três furos ensanguentados: um no coração e dois na barriga. Como irão julgar a alma pura de uma criança? Tentei falar com ele, mas minha voz não saiu, tentei abraça-lo, mas meus braços não responderam ao meu comando.
Desisto depois das tentativas falhas. Na minha esquerda havia uma mulher que parecia com o garoto da minha direita. Ela possuía um furo de bala na testa, onde um dia escorrera sangue. Será que ela era mãe dele? Será que eles tinham sido assaltados ou... Será que ela havia matado o próprio filho e depois se suicidado? Estava tão imerso em meus pensamentos que nem tinha percebido quando todos pararam de andar. Lá estava ele, com toda sua força e magnitude, o Rio Estige. Encostado a margem, o grande barco e seu guardião esperavam enquanto cada um tomava seu lugar ali.
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Luke Castellan e a Ordem dos Deuses
FanficApós a Batalha de Manhantan, Luke Castellan morreu bravamente, se redimiu de seus erros e salvou o Olimpo. Porém alguns deuses não ficaram satisfeitos com a sua simples condenação - a morte - e lhe deram uma sentença muito pior. Os Campos de Punição...