Capítulo 2

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Eu me despeço do Alan e da Márcia e abro o portão de casa. É quando começa a bater o cansaço do dia; as pernas começam a doer e a vista fica pesada. Preciso apenas praticar a coisa que mais amo fazer: dormir.

Encontro meus pais na sala, assistindo ao Jornal Nacional.

— Boa noite — digo, colocando a bolsa e a pasta em cima da mesinha e retirando a sapatilha.

— Boa noite, filha. Chegou tarde. Está tudo bem?

— Está sim. Apenas muito trabalho, mãe.

— Está com cara de cansada — fala meu pai, fazendo gesto para que eu me sente ao seu lado no sofá.

Vou até eles e dou um beijo no rosto de cada um.

— Estou mesmo.

Sento no sofá e respiro fundo.

— Pelo menos chegou cedo no trabalho. Eu e Zé ficamos o dia todo rindo sobre o susto que tomamos com o barulho da ambulância — conta minha mãe.

— Desculpa, mãe. — Sorrio. — Mas acabei me atrasando de qualquer forma.

— Por quê? — Pergunta meu pai.

— Porque o posto estava sem médico e tinha uma confusão. Só você vendo. Tentei ajudar.

— Então foi por uma justa causa — conclui minha mãe com um sorrisinho casto.

— Sim, foi.

— É bom você tocar nesse assunto, minha filha. Eu e sua mãe temos uma notícia para te dar.

Notícia? Fico intrigada com a cara séria do meu pai. Que tipo de notícia aconteceria em apenas um dia nessa cidade?

— Não me digam que vão vender a casa e comprar um trailer para saírem viajando por aí?

Mamãe ri e papai revira os olhos.

— Claro que não.

— Então o que é?

— Alugamos a casa — revela meu pai.

— Sério? Assim, tão rápido? Mas o que isso tem a ver com o posto...

— Alugamos para o novo médico.

Abro e fecho a boca algumas vezes antes de conseguir falar. A casa é minúscula. Construímos de acordo com o nosso orçamento. Apenas tinha uma boa estrutura para fazermos mais um andar quando os filhos viessem. Um médico não iria querer morar ali.

— Tem apenas um quarto, móveis e eletrodomésticos simples e...

— Ele adorou. Fechou na hora e pagou um ano adiantado.

Um ano?

— Nossa! Acho que isso sim é uma boa notícia. Quer dizer que teremos médico por pelo menos um ano. Aliás, um ano sozinho nessa casa? Não veio esposa? Filhos?

— Não, aparentemente veio sozinho — diz meu pai.

— E quanto a casa? Não tem nenhum problema mesmo, não é?— pergunta mamãe.

— Tudo bem, mãe. Sério. Marcos é página virada, você sabe disso.

— Glória a Deus! — proclama, elevando as mãos para o céu. — Agora vá para o banho. Estávamos esperando você para jantar, filha.

Depois do banho, visto um conjunto confortável de algodão. Na sala, a televisão está desligada e na vitrola velha do meu pai bota para tocar baixinho Fever, de Peggy Lee.

Enquanto o sol brilhar (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora