Eu me despeço do Alan e da Márcia e abro o portão de casa. É quando começa a bater o cansaço do dia; as pernas começam a doer e a vista fica pesada. Preciso apenas praticar a coisa que mais amo fazer: dormir.
Encontro meus pais na sala, assistindo ao Jornal Nacional.
— Boa noite — digo, colocando a bolsa e a pasta em cima da mesinha e retirando a sapatilha.
— Boa noite, filha. Chegou tarde. Está tudo bem?
— Está sim. Apenas muito trabalho, mãe.
— Está com cara de cansada — fala meu pai, fazendo gesto para que eu me sente ao seu lado no sofá.
Vou até eles e dou um beijo no rosto de cada um.
— Estou mesmo.
Sento no sofá e respiro fundo.
— Pelo menos chegou cedo no trabalho. Eu e Zé ficamos o dia todo rindo sobre o susto que tomamos com o barulho da ambulância — conta minha mãe.
— Desculpa, mãe. — Sorrio. — Mas acabei me atrasando de qualquer forma.
— Por quê? — Pergunta meu pai.
— Porque o posto estava sem médico e tinha uma confusão. Só você vendo. Tentei ajudar.
— Então foi por uma justa causa — conclui minha mãe com um sorrisinho casto.
— Sim, foi.
— É bom você tocar nesse assunto, minha filha. Eu e sua mãe temos uma notícia para te dar.
Notícia? Fico intrigada com a cara séria do meu pai. Que tipo de notícia aconteceria em apenas um dia nessa cidade?
— Não me digam que vão vender a casa e comprar um trailer para saírem viajando por aí?
Mamãe ri e papai revira os olhos.
— Claro que não.
— Então o que é?
— Alugamos a casa — revela meu pai.
— Sério? Assim, tão rápido? Mas o que isso tem a ver com o posto...
— Alugamos para o novo médico.
Abro e fecho a boca algumas vezes antes de conseguir falar. A casa é minúscula. Construímos de acordo com o nosso orçamento. Apenas tinha uma boa estrutura para fazermos mais um andar quando os filhos viessem. Um médico não iria querer morar ali.
— Tem apenas um quarto, móveis e eletrodomésticos simples e...
— Ele adorou. Fechou na hora e pagou um ano adiantado.
Um ano?
— Nossa! Acho que isso sim é uma boa notícia. Quer dizer que teremos médico por pelo menos um ano. Aliás, um ano sozinho nessa casa? Não veio esposa? Filhos?
— Não, aparentemente veio sozinho — diz meu pai.
— E quanto a casa? Não tem nenhum problema mesmo, não é?— pergunta mamãe.
— Tudo bem, mãe. Sério. Marcos é página virada, você sabe disso.
— Glória a Deus! — proclama, elevando as mãos para o céu. — Agora vá para o banho. Estávamos esperando você para jantar, filha.
Depois do banho, visto um conjunto confortável de algodão. Na sala, a televisão está desligada e na vitrola velha do meu pai bota para tocar baixinho Fever, de Peggy Lee.
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Enquanto o sol brilhar (Degustação)
RomansaLivro completo na Amazon. Apenas degustação. Na monótona cidade provinciana de Vila Rica, vive Mariana. Filha única de pais amorosos, a jovem professora divide seu tempo entre as aulas que ministra para crianças na escola pública da região, os estu...