"Lutar contra a Ordem não é lutar contra si mesmo. Obedecer à ordem é firmar o pacto já firme desde a infância"...
- Senhor Carl, eu sinto muito por tudo que está acontecendo, tanto pelo senhor quanto por mim, mas ainda tenho esperança de continuar no Vale e podermos retornar à nossa vida normalmente e...
Wiliam foi interrompido antes de terminar a frase por um guarda
- Garoto, como você fala... Não vê que ninguém aqui nesta sala quer conversar agora?
Wiliam um pouco envergonhado, não proferiu mas nenhuma palavra.
Já passava da metade da noite e todos acordados sentados no chão estavam em uma sala nos pisos inferiores do palácio. Uma sala fria apesar da lareira e muito desconfortável.
Seis crianças sentadas sobre a tapeçaria e dois soldados em pé, de guarda, protegendo a porta para que não saíssem.
De repente alguém bate a porta e os guardas obrem e ficam em posição.
Um senhor baixinho entra e declara:
- À todos presente no recinto, referenciem a sua Primeira Dama, Georgia.
Os soldados e o baixinho fizeram uma referência, a Judith prontamente se levantou e saiu ao encontro da tia. As demais crianças continuaram sentadas.
- Judith querida, não posso abraçá-la agora, sou sua tia mas este é um momento muito sério.
- Não tem problema tia, mas eu tenho certeza que você me deixará ficar aqui no Vale não é mesmo? Isso tudo com certeza é um grande mal entendido e tenho certeza que amanhã a noite voltarei á minha aparência física natural tia! Por favor não permita que isso aconteça.
Os guardas ja haviam afastado Judith, que tentava se aproximar da tia, enquanto falava.
- Querida, não posso interceder por você nesse momento, mas tenho algo a declarar a todos
E com um ar muito rígido e firme deu uns paços a frente.
Os demais se levantaram, exceto Robert, ainda abalado pela morte da esposa.
- Gostaria de primeiramente expressar os meus mais profundos sentimentos pela sua esposa Robert cocheiro! Nenhum de nós gostaria que algo dessa natureza tivesse acontecido em circunstâncias tão imprevisíveis. E quanto a expulsão de vocês...
Ela estava visivelmente abalada e contendo as lágrimas.
- Não posso intervir de forma alguma.
Judith, já a chorar, deu as costas à tia estasiada, Robert não fez expressão alguma e continuou deitado encostado na parede fitando o nada. Dany, o filho dos comerciantes ricos, de pele negra e aparentemente bem apresentável colocou o rosto sobre as mãos lamentando, Wiliam instintivamente repetiu o mesmo gesto, Candace, de pele morena e cabelos negros, como os do Wiliam, chorava como a Judith.
O Carl, foi o único a erguer a cabeça e declarar algo. Ele exclamou:
- Sempre juramos que obedeceríamos a Ordem caso algo como isto que nos acometeu ocorresse no Vale. Mas as nossas famílias não terão mais nosso amparo e ficarão como? Jogadas ao vento como se tivéssemos morrido?
Georgia falou então:
- Estou aqui para isso, sei que isso causou agitações no Vale e os habitantes estão abalados. Mas precisamos manter a Ordem, e não queremos que mais pessoas morram, muito menos vocês.
Por isso, vim propor a vocês que saiam do Vale e caso encontrem a cura para o que lhes ocorreu, vocês poderão retornar, contanto que saiam pacificamente.
E outra coisa, pedirei que cada um faça um pedido. Nós da Ordem seremos responsáveis por atendê-los.- Vocês podem por um acaso trazer minha esposa à vida? - Disse Robert ironicamente.
- Senhor Robert - retrucou a primeira dama - Como eu já havia dito, sinto muito pela sua perda, mas não me sentirei constrangida com a sua indagação. Pois então, me digam o que vocês desejam.
Carl deu dois paços a frente e disse:
- Se vocês tratarem a enfermidade da minha filha aqui no palácio com os melhores curadores e ervas do Vale, prometo liderá-los nessa empreitada.
- Ótimo, vocês ja têm um líder. Judith, é sua vez agora...
...
Apesar do inverno já haver terminado, a manhã estava fria.
Todos, crianças, estavam reunidos em frente ao palácio. Dessa vez foi o rei quem discursou. Um garoto gordinho e meio desengonçado. Ele começou:
- Habitantes do Vale, eu, o rei Christian declaro que essas crianças, as seis que foram encontradas ontem e mais uma encontrada já quase durante o crepúsculo, uma camponesa de 28 anos chamada Scarlet, serão hoje expulsos do Vale, e só poderão retornar quando encontrarem a cura para o mal que os acometeu. Agora, como vocês observam, eles estão a caminho do bosque da saída.
Eu sei que essa é uma guerra de nós para nós mesmos, mas periodicamente conseguimos vencer o rigoroso inverno, os animais que tentam dissipar nossas criações, a morte de entes queridos e tantas outras difíceis situações, então, conseguiremos vencer a saudade e iremos aguardar pelo retorno das nossas Crianças da Noite.Saudosamente, todos gritaram e encorajaram os pequenos peregrinos que, já estavam quase sumindo no horizonte, quase escondidos pelas arvores do bosque da saída.
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Crianças da noite
General FictionDurante o dia, todos os habitante de um Vale são crianças. Elas trabalham, acumulam alimentos, constroem abrigos, casas, confeccionam roupas, sustentam suas familias! À noite, todos retomam a forma física correspondente às suas idades naturais, no...