Saída

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" O bosque nunca será infinito. A sorte é dona da imensidão do bosque"

...

- Robert, sinto muito por tudo que aconteceu, conheço você desde sempre, e sei que você amava muito a sua esposa. Estava querendo falar com você desde ontem mas não sabia o que falar, ou como me expressar, enfim, sinto muito por tudo Robert.

  Judith fez uma referência e aguardou alguma resposta do ex-empregado que andava logo atrás dela.

  Robert, exausto após uma noite não dormida e cansado pela caminhada no bosque úmido ja há quase um dia falou:

  - Agradeço pelas palavras madame.

  - Vamos parar hoje por aqui, o sol já está quase a se por e ainda temos esperança de voltarmos à maldade. Não estamos muito distantes do Vale. Faremos uma parada, Wiliam e Dany, venham comigo pegar lenha, garotas, colham frutas e busquem água, logo ali há um riacho. Voltaremos daqui há alguns minutos. E com sorte retornaremos à maldade.

...

  - Pois é, já é noite, estamos exaustos e continuamos do mesmo jeito. O que podemos encontrar pra nos fazer voltar à maldade? - Disse Scarlet, uma garotinha ruiva como o Carl e com os cabelos crespos e fartos, com uma personalidade forte e aparentemente, uma garota muito determinada.

  - Não faço ideia, mas eu tenho uma pergunta pra você, como você conseguiu fugir dos soldados da Ordem ontem a noite, quer dizer, você já foi encontrada quase no crepúsculo. Ontem logo no inicio das procuras eles ja me encontraram em casa escondido debaixo da cama - Disse Wiliam.

  Dany ja sorrindo disse:

  - Mas você é muito burro, se esconder debaixo da cama? É o primeiro lugar que todos procuram.

- É melhor ser burro, do que se entregar logo de cara sem nem tentar fugir -  revidou Wiliam

  - Parem logo vocês dois! - disse furioso Carl - Tudo bem, que vocês são crianças, mas não vêm a nossa situação? Brigando por uma coisa dessas?

Os dois garotos envergonhados pararam

  - Pois então, querem saber como fugi? - continuou Scarlet - quando vi que a maldade não havia me atingido naquela noite, eu comecei a correr na direção oposta ao palácio, meu pai disse que era pra eu correr o máximo que pudesse e me esconder perto da roda de moinho no rio do Vale, lá não me achariam. Mas meu irmão está em treinamento para ser um soldado da ordem e me perseguiu até onde pôde, quando vi que ele não ia parar, ainda correndo consegui pegar uma pedra no leito do rio e joguei em direção a sua cabeça, o atingi em cheio.
  Não parei de correr, de relance olhei pra trás e o vi com as mãos na testa já encharcadas de sangue.
  Me escondi próximo ao local onde meu pai havia falado.
  A noite estava tranquila e eu apenas via as luzes da Festa da Primavera. Acabei pegando no sono.
  Quando vi que alguns soldados da Ordem vasculhavam o local, me sujei de lama e me escondi no leito do rio, alguns soldados passaram bem perto mas não me viram.
  Então, quase já no crepúsculo, reconheci a voz do meu pai já perto de onde eu estava. Não haviam mais soldados por perto.
  Corri cautelosamente em sua direção, mas quando o ví, ele estava acompanhado por muitos soldados da Ordem, então não pude mais me esconder.
  No momento em que estive mais perto dele ele me disse: "Querida, eu sinto muito, mas iam acabar com a nossa família. " desde então optei por não olhá-lo mais.

  Candace, uma garotinha tímida e frágil, com grandes olhos e pele de porcelana que contrastavam com seus cabelos escuros começou a falar então:
  - Depois que sair do Vale e de passar bastante tempo a pensar, acho que o abandono da maldade foi a melhor coisa que poderia ter me ocorrido.
  Minha mãe não é mais viva. Ela morreu durante meu parto, ela entrou em trabalho de parto durante o dia. E todos sabe que isso é praticamente fatal.
  Meu pai não trabalhava e bebia muito, fui criada pela minha avó paterna que vivia com todos os meus primos e tios, que eram como meu pai.
  Consegui um emprego no palácio trabalhei la por anos. Inclusive, costurei a maioria das suas roupas Judith.

  Judith respondeu com um sorriso amarelo.

  Candace continuou: - Ontem, quando todos viram que a maldade não havia me atingido, avisaram logo aos guardas e fui a primeira a ser entregue para a Ordem.

- Eu tentei buscar ajuda com amigos que também me entregaram. - disse Robert com um ar muito triste.

  Todos ficaram em silêncio diante da fogueira. Fazia frio e haviam algumas frutas e muitas bagagens dos "desejos" atendidos pela primeira-dama.

  Alguns pediram alimento suficiente para passar um considerável tempo no bosque ou nos lugares por onde peregrinariam. Havia também dois cavalos levando o amontoado de coisas. Duas barracas que já haviam sido montadas, muitas roupas e bugigangas do Dany, vestidos da Judith, Sacos de comida do Wiliam, panos da Candace, uma maleta do Robert, arco e flecha da Scarlet e esperança de uma cura que por certo momento consolava o Carl.

...

  As sete crianças peregrinaram pelas florestas e montanhas próximas ao Vale, mas nunca encontraram algo que pudesse as ajudar a retornar à maldade
  Quase um ano depois, o outono já estava terminando e as crianças haviam começado a se adaptar umas às outras e construíram abrigos. Por já terem trabalhado no Vale e cada um ter uma habilidade em especial, as atividades eram divididas e todos cooperavam. A Judith as vezes ainda deixava a desejar, pois era a mais nova e nunca havia trabalhado antes. O Dany, era um garoto esperto e sempre ajudava o Robert a cuidar dos cavalos e caçar, a Scarlet com arco e flecha também cooperava muito nessa tarefa. A Candace sempre cuidava das roupas e o Carl, ajudava sempre no que era necessário.

...

  Era metade do inverno, a noite estava gélida e a neve cobria toda a superfície da floresta.

  Todos já deitados ouvem um som como uma pancada em uma lata ou um pequeno trovão, não muito distante.

  - O que será isso? - Interrogou Judith saindo do alojamento das garotas ao avistar o Carl que saia do outro alojamento com os rapazes.

  - Não sei Judith, mas acho melhor ficarmos aqui e... - antes terminar, algo como uma pedra pequena lançada brutalmente acertou a porta do alojamento dos garotos e por sorte não atingiu o Wiliam.

   Logo em seguida uma atingiu a parede de um dos alojamento, seguida de outras duas também sem direção

  - Corram para a floresta, rápido, agora - Gritou Carl. Todos correram, tentando desesperadamente acompanhar uns aos outros, as pedras voadoras continuaram cada vez mais freqüentes e sempre chegando mais perto.

- Rápido, rápido - gritava Carl, quando de repente sua voz foi abafada por um gemido de dor, todos olharam para trás e o viram caindo. Uma das pedras o acertou na nuca. Ele era o último do grupo a correr, todos ficaram paralisados.

  Outras duas pedrinhas de ferro atingiram a Scarlet no peito quando esta virou para ver o que acontecera. Ela também caiu sobre o gelo que logo começou a ficar avermelhado.

  Então dois homens de grande estatura gritaram para o grupo de crianças atônitas: - Parados, agora, senão continuaremos atirando!

  - Arnold, o que você você fez? Matou duas crianças olha só... - Disse um dos homens.

  - Não sabemos qual de nós dois os matou Henry - Disse o outro homem e depois continuou - Crianças não corram, não vamos atacar vocês, pensávamos que eram soldados inimigos e estávamos tentando nos defender.

  Todos, paralisados e vendo dois homens imensos com canos que saiam fumaça das pontas e dois dos seus companheiros caídos sobre o gelo em uma noite fria onde a única claridade era a luz da lua, apavorados e desacreditados se renderam.

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