Jeryl

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De tantas pessoas no fim do mundo nós tínhamos que nos encontrar justo com Ele, justo com o Paul.

E para o Rick não bastava apenas deixá-lo lá fora amarado em uma árvore - como eu gostaria - ele teve que trazê-lo para Alexandria e além disso me deixar de guarda. Eu não poderia simplesmente dizer que não, Rick é esperto e iria entender que alguma coisa estava acontecendo, então aqui estou eu vigiando Paul - ou Jesus, como seus amigos o chamavam - tentando não pensar no passado, no nosso maldito passado.

— Então você ficou com a responsabilidade de me vigiar? - pergunta divertido

— Cala a boca, Paul! - retruco irritado

— Você é uma das poucas pessoas, se não a única, que ainda me chama de Paul

— Eu mandei você calar a droga da boca! - retruco novamente

— E desde quando você manda em mim? Eu já te ouvi sussurrar muitos pedidos, mas nunca uma ordem - diz com malicia no olhar

Fico calado não querendo responder, não por falta de resposta, mas por falta de paciência e talvez um pouco de coragem para contrapô-lo. Paul sempre teve esse efeito em mim - de me deixar calado, sem reação - e sabia muito bem como explorá-lo.

— Você vai ficar aí calado? - pergunta com um sorriso - Diabos, Daryl! Estamos no fim do mundo e você ainda parece ter medo de ser quem você realmente é. Merle ainda está com você? - pergunta irritado

Uma longa pausa se segue após a menção do meu irmão - que havia sido tema de inúmeras de nossas discussões - e minha mente começa a divagar para o passado.


FlashBack On

Estava colocando minhas roupas com pressa enquanto Paul permanecia deitado na cama me observando com um sorriso no rosto

— Por quanto tempo você vai se esconder do seu irmão? - pergunta de forma tediosa

— Pelo tempo que eu conseguir - digo abotoando minha blusa

— Pra que você faz isso? Por que se esconde?

— Você não conhece meu irmão - falo e me sento na cama

— Não foi por falta de tentativas - diz sorrindo

— Você não quer conhecer meu irmão. Merle é... imprevisível, inconstante e jamais aceitaria o fato de eu ser gay, jamais!

— E como você faz quando sai com ele? Fica com qualquer vagabunda para disfarçar? - pergunta com ironia

Olho para meus pés não querendo admitir a verdade, mas Paul me conhecia e quando percebeu que eu não estava rindo e negando ou o xingando de alguma coisa por ele ter dito algo tão estupido seu semblante muda de divertido para emputecido

— Você fica! - diz indignado sentando-se na cama

— Você não entende! - falo com raiva - Merle não é o tipo de cara aberto aos novos conceitos mundo. Porra! Ele acabaria comigo se eu fodesse com uma mulher negra! Imagina a porra que ele faria comigo se soubesse que eu transo com um homem! - falo me levantando da cama puto

— Se ele te atrapalha tanto por que você não larga ele de uma vez? Viva a droga da sua vida! - diz e também se levanta

Ignoro o fato de ele estar apenas com sua cueca boxer e volto minha atenção para o assunto que estávamos discutindo

— Não é tão simples, porra! - digo chutando meu casaco que estava no chão - Ele é a única droga de família que eu tenho

— Família é muito mais do que apenas sangue - ele retruca cruzando os braços

Whispered Secrets - Short StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora