Prologo (R)

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Sexta-Feira, 05:18

Corro. Corro o mais rápido que conseguia, sentia minhas pernad latejarem de dor mas eu não ouso parar um segundo se quer pra respirar. Sinto os músculos fracos, a garganta seca e a dor se instala em todos meus membros.

A cada gota de chuva que atinge algum ferimento em minha pele sinto a região queimar.

— Quando te encontrar eu vou te matar, Kaliana!

Seu grito me faz estremecer, me esforço pra  correr mais e sair da suas vistas. Consigo atravessar a guarita do condomínio, os seguranças não me barram, ficam pra trás sem entender nada e não prestam nem pra pedir socorro. Corro em meio a avenida e me jogo no primeiro carro amarelo que vejo, franzo a vista pra enxergar a placa de taxista e me aproximo da janela.

— Moço, por favor! Me deixa entrar, tem um homem..— olho pra trás afoita — por favor, me deixa.. — ele vê o desespero em minha face e libera a trava do carro, entro às presas no banco traseiro e ele não hesita em dar partida.

Olho pela janela e vejo sua silhueta do outro lado da rua, me encolho no banco quando o vejo vasculhar todos os carros com o olhar, meu corpo treme e eu tento lidar com as lágrimas compulsivas que deixa meus olhos.

Estou livre. Depois de anos vivenciando um relacionamento abusivo eu estou livre. Depois de anos de agressão psicólogica e física eu estou livre.

— Por favor, me leva até a avenida Presidente Vargas, te passo o número quando chegarmos.

Ele não procura mais assunto mas sinto seu olhar recai a mim a todo instante, está curioso pra perguntar mas prefere se manter calado.

Retiro o celular do meu ventre e fito a tela, a fotografia da minha menina surge na tela e as lágrimas descem com mais violência. Minha menina, a anos esteve do meu lado vivenciando tudo isso. Com as mãos trêmulas, disco o número da Alexandra, ela atende no segundo toque.

— Alex?

— Alô, quem é?

— Sou eu Alex, Kaliana. Tá acordada? Preciso falar contigo.

— O que aconteceu, que voz é essa?

Seguro o choro.

— O Juan fez tudo novamente, Alex, eu..— não consigo me controlar — não dava mais pra viver desse jeito, ele não ia mudar, não posso ficar com alguém que além de traze riscos para mim pode fazer o mesmo com a minha filha, não dá pra confiar eu..— respiro fundo — Dei um fim nisso. Tô indo praí, arruma as coisas da Kalicia por favor.

— Pra onde.. meu Deus como.. ele te agrediu de novo.. Jesus, pra onde você vai Kaliana? Você tem onde ficar, se você precisar..

— Não se preocupa, Alex, vou pra a casa do meu irmão.

Tenho certeza que sou a última pessoa que o Deco gostaria de ver na vida mas eu não tinha pra quem recorrer.

O caminho foi longo mas pude me acalmar um pouco, Alex acertou o pagamento para mim sem nem eu pedi, agradeço por isso, não trouxe nada comigo, nem documentos quem dera dinheiro. 

Desço do carro e Alex não disfarça o horror ao me ver, os cacos de vidro perfuraram minha pele, há marcas de arranhões por toda parte em meus braços e na parte traseira da coxa.

— Aí amiga..— ela em puxa pra os seus braços, aceito o carinho e a abraço de volta, não sinto vontade de chorar, não sinto dor, não sinto absolutamente nada.

Só um vazio intenso dentro de mim.

— Fica essa noite, dorme um pouco, me deixa cuidar desses ferimentos.

Meu Recomeçar [MORRO] (No Telegram)Onde histórias criam vida. Descubra agora