Sexta-Feira, 09:30
A noite toda não durou muito, não consegui passar das nove. Levantei a pouco tempo, logo após tomar um banho deixei o quarto e fui atrás das crianças, Kalicia não estava mais na cama quando acordei e deduzi que já estivesse no andar de baixo, saí do cômodo preocupada, não queria ela caminhando por aí sozinha com um monte de homens armado.
Ao pisar no piso inferior, ouço a voz irritante daquela porca soar em um volume considerável alto pra mim.
— Até aqui Kalicia?
Ela nem pisca, muito menos olha na minha direção, Vitinho por outro lado me olha com curiosidade.
— Oi pitico, lembra da tia? — Me abaixo na sua frente, o leve franzir de cenho me diz que ele não faz a minima ideia de quem eu sou — Bom, sou a tia Kalicia.
Ele não fala comigo.
— Fala com tua tia, Vitinho. — Mari surge na sala, Vitinho olha dela pra mim — É tia também, da oi.
— Oi.
Ele é curto, não quer papo e eu não insisto, aos poucos ele vai se acustumar comigo aqui.
— Bora comer algo, deixa eles assistindo — a sigo até a cozinha — Tá se sentindo melhor?
— Tô sim, obrigada.
— Fica a vontade viu? Aqui em casa ninguém faz mesa pra café da manhã nao, mas fiz questão de colocar as coisas na mesa pra você se adaptar. Tem pão francês, mussarela, pão de queijo quentinho e variedades de bolo, tu escolhe.
— Que isso Mari, banquete desses?
— Só hoje filha, acustuma não.
Dou risada, me sirvo com um pouquinho de cada coisa e ela me acompanha.
— Mais tarde vou encostar numa lojinha que abriu, bora comigo?
— Lojinha de quê?
— Roupas, já que tu vai passar uns dias aí é melhor ter o que vestir né?
— Que isso, Mari, não se preocupa, vou dar um jeito de pegar minhas roupas na casa do Juan.
— Que jeito, Kali?
— Ele não passa muito tempo em casa, ainda mais agora que tá deteminado a me encontrar.
— Arriscado demais, Kali, no mínimo Deco só deixaria isso acontece se tu fosse com um dos caras.
— Posso considerar.
— Vou vê com ele, mas acho que tá muito recente ainda.
— Enquanto isso vou me virando, sem estresse.
— Vou separar umas roupas pra você enquanto isso, pra a Li também.
— Obrigado.
Mari é um anjo, a última coisa que pensei ontem a noite foi em roupas, no momento não tinha nem cabeça pra isso. Mari me observa, percebo que ele quer falar algo mais mas se contém, está nítido no seu olhar que quer saber como tudo aconteceu.
— Pode perguntar Mari.
— Aí Kali, como você deixou tudo chegar nesse ponto?
Esfarelo o bolo em meu prato sem saber o que responder ou como começar.
— Mari, eu..— suspiro — não sei. Eu acreditava na mudança dele, por anos eu aceitei duas desculpas, por anos tive medo de falar pra alguém e ser julgada, guardei isso comigo por muito tempo e acreditei que tudo fosse uma fase sabe? No início da gestação, quando ele me agrediu verbalmente pela primeira vez eu quis larga-lo nem a minha filha me faria ficar com ele mas ele veio até mim com um perdão falso disfarcado de lágrimas e eu aceitei. No meio dos nossos amigos eu não podia conversar com ninguém, todos me achavam estranham, inventaram até boatos que eu estava com depressão, talvez eu tenha dado índices mas era ele me privando, me prendendo de se quer falar, ele me dominava de uma forma absurda Mari, hoje eu lembro de tudo e me pergunto como me permiti.
— O que aconteceu ontem a noite?
— Ele brigou comigo porque deixei a Kali na casa de uma amiga, simplesmente surtou. — Suspiro cansada, essa conversa em si me deixa tensa, é tudo tão recente que eu não consigo se quer lembrar de tudo que eu passei nesses últimos anos.
Mari não me precionou pra falar mais e eu agradeci, aos poucos me sentiria a vontade pra compartilhar mais coisas.
Logo após tomarmos café, nos juntamos com as crianças na sala. O programa da peppa tinha acabado, agora Kalicia brincava com sua única barbie que trouxe de casa e Vitinho com um dos seus milhares de brinquedos.
— Você trabalha, Mari? — Puxo conversa com ela, ouço ela dar risada.
— Tu acha que Deco deixa?
Estreito uma sobrancelha.
— Ele não gosta que eu desça lá pra baixo, desde que sua face foi reconhecida que ele dobrou a segurança em cima de todos nós.
Concordo com a cabeça, passamos os próximos minutos de olho nas crianças mas logo ela teve que subir pra arrumar Vitinho pra a escola e eu fui preparar algo pra Kali comer. A deixei comendo na sala e comecei a organizar às coisas na cozinha, não gostava de ficar sem nada pra fazer e aqui eu não tinha nem os meus livros da faculdade pra passar tempo.
Iniciei os estudos de desigh de moda a três anos atrás mas fechei no segundo semestre, logo após descobrir a gravidez da Kali, desde então não tive tempo pra retomar os estudos e nem oportunidade já que a vaga com certeza foi passada pra outra pessoa.
Organizei a cozinha, logo subi pra dar um banho na Kalicia para que ela pudesse ficar a vontade o resto da tarde.
Mari desceu pra levar Vitinho na escola e eu subi, com sua permissão peguei algumas peças do Vitinho emprestada pra a Kali poder usar.
— Não gosto dessa roupa, quero meus vestidos mãe.
— Depois a mamãe vai pegar ok? Enquanto isso você usa esses daqui, você tá linda.
Ela não gosta, faz cara feia e tenta tirar a roupa, foi preciso fazer voz grossa com ela pra ela poder me obedecer.
— Se comporta, brinca quietinha. — Peço assim que descermos, ela concorda e se senta no tapete pra brincar com os brinquedos do Vitinho.
Passo o resto da tarde de olho nela e na televisão, estava área ao programa que passava, só conseguia focar minha atenção nos últimos acontecimentos e na reviravolta que a minha vida tinha tomado. Estava tudo um caos, não tinha nem roupas e temia sair do complexo e ser encontrada, não sei até quando iria viver dessa forma mas eu espero que seja por pouco tempo, que Juan esqueça completamente de mim
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Meu Recomeçar [MORRO] (No Telegram)
Teen FictionApós uma briga doméstica, Kaliana Mendonça foge da sua casa toda ensanguentada carregando consigo a filha de dois anos. Sua única esperança é ir em busca de ajuda, como a polícia não pode a ajudar, sua única saída é ir atrás do seu irmão, Deco, sub...