Os Desumanos

I Annie

Abri os olhos e me encontrei em uma cama. Ela não era tão macia e confortável, mas pelo tempo que fazia que eu não dormia e pelo estado em que eu estava, ela era perfeita.

Passei a mãos em meus olhos para me despertar e me levantar da cama, quando sentei percebi qual era a roupa que eu vestia: uma blusa branca comprida, calça branca e tinha um crachá em meu peito. Arregalei os olhos quando li o que estava escrito: "Paciente Srta. Annie Magnus ''.

Como eu estaria no hospital se eu nunca estive lá? Eu não me lembrava de nada, de me machucar ou algo do tipo. Não, eu devo ter desmaiado pelo calor que estava nessas semanas ou pela minha prova decisiva de sexta na escola.

Fui me levantar, mas caí rugindo de dor, minhas pernas estavam doloridas de mais, igual os braços, o pescoço, praticamente tudo. Provavelmente eu rugi muito alto fazendo um médico e uma enfermeira aparecerem no meu quarto. A enfermeira me ajudou a me levantar e disse:

--- Ei garota, cuide para não ficar mais machucada do que você já está!--- avisou--- Tem que entender que seu mês de repouso e de tratamento não foi à toa!

Não acreditava no que ela falou, eu não estava lá um mês! Ela deve ter se enganado com outra paciente. Mas com uma expressão de dúvida, indaguei:

--- Eu estou aqui há um mês... A senhora deve estar se confundido com outra pessoa! Nunca estive no hospital na minha vida!!!

--- Olha garota, --- disse ela num tom mais irritado--- se você nunca foi para um hospital essa é sua primeira vez então. Você está aqui desde agosto e agora é seten...

---Não! Não pode ser... --- respirei fundo, se ela estava dizendo isso, eu não podia negar--- O que aconteceu comigo?

--- Ah isso vai ser difícil... Doutor pode sair um estante? Eu acho que para mostrar devemos ficar a sós sabe? Ela é só uma garota

---Tudo bem--- falou o doutor. Ele era alto, cabelos escuros desgrenhados, tinha olhos castanhos e era bronzeado--- Vou cuidar do outro paciente.

Ele saiu pela porta e estávamos a sós, foi só então que eu percebi o quão parecida era a enfermeira com o medico, provavelmente eram irmãos gêmeos.

--- Estou em coma a um mês certo--- disse concluindo desanimada--- tudo que eu tinha de compromisso em agosto se foi.

--- Sim --- respondeu ela, agora com um pouco de pena --- mas isso não vem ao caso, você precisa tirar a roupa para ver todos os seus ferimentos...

--- Todos os ferimentos... ---assustei-me, como eu poderia ter me machucado tanto se eu nunca fiz nada que eu sofra de dor ou até chegar ao ponto de eu ir ao hospital. Mas eu tinha que tirar a roupa, para eu ver o que aconteceu há um mês e eu não me lembrar de nada por estar em coma--- até o tênis?--- perguntei.

--- Sim.

Tentei acalmar meu corpo e minha respiração e comecei a tirar tudo mesmo com vergonha da enfermeira, quando eu já comecei a perceber o que aconteceu comigo. Fiquei seminua e abaixei o olhar para o meu corpo: meu ombro esquerdo estava meio torto, talvez tivesse rompido o ligamento. Pareceu que a enfermeira estava lendo o meu pensamento e começou a relatar meus machucados:

--- Seu ombro esquerdo rompeu um ligamento, igual aos tornozelos, e os dedos do pé e da mão. Os joelhos foram rompidos e quebrados, as costelas quebradas, braços quebrados, queimaduras graves no corpo, e no pescoço havia marcas de estrangulamento e enforcamento, tinha água nos seus pulmões como você tivesse sido afogada e para fechar, você foi eletrocutada. Acho que agora sabe o que aconteceu. Você foi provavelmente torturada quase até a morte... Na verdade não sei como você sobreviveu...