Episódio I

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     Depois que Hector foi viver na praia do norte, ele fez de uma gruta próxima do mar a sua casa, aprendeu a pescar com muita facilidade, diferente de seu pai, cada dia era dia de aprender algo novo e se tornar um novo homem, deixou o cabelo e a barba crescer, treinou com a espada separadora de membros e por dias tentou despertar a armadura de chamas tão esperada, mas ainda não era a hora certa. Refletia em como poderia vingar a morte de sua amada mãe e matar Kharos, mas ao mesmo tempo pensava em salvar seu meio irmão, ambos foram traídos pelo mesmo homem sem caráter e sem pudor. Em uma tarde de maré baixa e sol manso o deus do fogo tentou se comunicar com seu avô pelo espelho mágico de ouro, um pouco distante da areia da praia ele plantou o botão da rosa de Sheya, mas nenhum dos artefatos do passado despertou para anunciar algo novo. Naquela mesma tarde ele caminhou pela areia fina da praia com os pés descalços e assistiu as ondas quebrarem naquele imenso mar raivoso, se deparou com uma fogueira montada e que ainda parecia aquecida, mas já não havia chamas. Imaginou que poderia ter mais pessoas vivendo por ali e decidiu caminhar por dentro da mata de altas arvores que chegavam esconder o azul claro do céu.
    Em uma cabana humilde no meio da mata vivia uma família de ferreiros comuns, Hector caminhou demais para dentro da floresta e não sabia mais como voltar para gruta e então teve que bater na porta da casa. Foi recebido por uma senhora já muito idosa, a mulher tinha cabelos grisalhos e pele negra enrugada pela velhice, segurava nas mãos um recipiente feito de coco, como um copo, para que pudesse beber o seu chá quente, vestia roupas bem surradas e não falava coisa com coisa, era confuso. No fundo, bem atrás daquela senhora, surge um homem de pele negra, alto de cabelo baixo e o corpo brilhoso de suor, tinha ombros largos e um peitoral de dar inveja, ele segurava um machado e já parecia exausto, em suas mãos cicatrizes e calos de tanto trabalhar, ele avistou o desconhecido na porta com sua avó e foi logo deixando o machado no canto e se aproximou de Hector querendo saber quem era, era difícil receber visitas no meio do nada. O homem era Dário, filho mais velho de ferreiros e neto de uma médica, toda a família morava naquela cabana de palha e bambo, parecia firme, mas quando o príncipe foi convidado a entrar, notou alguns buracos no teto feitos pela chuva de noites passadas e pensou em como eles sobreviviam no meio do nada naquela situação. Dário interrogou o deus e Hector explicou tudo de forma mais clara possível para todos e foi convidado a passar uma noite ali, já estava escurecendo e seria perigoso voltar para casa no escuro. Hector criou um laço de amizade com Dário e toda a família e acabou passando mais dias por ali, aprendeu a cortar grossos troncos de arvores e a construir e forjar armas de batalha. Ajudava as mulheres na cozinha e já sabia preparar medicamentos para ferimentos graves.
    Em certa noite de chuva densa, a irmã sensitiva de Dário sentiu a ameaça se aproximar e alertou aos demais para que pudessem se proteger. Todos já estavam acostumados com aquela rotina, as costas de Dário eram cobertas de arranhões e feridas cicatrizadas feitas por mórtenas, criaturas marítimas que ousavam atacar apensas na calada da noite, e quando chovia era ainda mais fácil pelo simples fato de carregarem um chocalho em sua cauda, por isso, o barulho da chuva distraía o som e elas poderiam atacar. Tinham longas unhas afiadas e pontudas, olhos alaranjados iluminados, eram seres desconhecidos por Hector, mas Dário já sabia bem o que fazer. O rapaz saiu mesmo com a chuva forte e atacou umas das bruxas do mar, mas ele estava em desvantagem, eram 4 mórtenas imensas e ele não daria conta sozinho. Foi então que Hector se permitiu entrar na briga, pegou um machado que estava pendurado na parede da sala e correu em direção a uma das criaturas famintas e rapidamente cortou a cabeça de uma delas, mas as outras não se impressionaram e continuaram a atacar Dário. Toda a família do rapaz já havia fugido para outro esconderijo enquanto eles enfrentavam as mórtenas, e quando foram vencidas, os dois partiram para se juntar ao restante.
    A família de ferreiros era uma das poucas que haviam fugido de Azhoir na época que Erith matou o rei, outras famílias optaram por outras terras mais próximas, mas a de Dário, eles tinham muita certeza de que em Orium teriam paz. O novo esconderijo ficava no meio de duas altas montanhas, era uma casa envelhecida, alta e aparentava ter muita história, o mestre daquela família morava ali durante anos. Depois que o avô paterno do rapaz perdeu sua esposa em um ataque pelo mar, ele se recusou a acompanhar sua família que ia para Azhoir e decidiu permanecer em Orium. Uthha era um ancião muito sábio e sabia forjar armas como ninguém, inclusive, a lenda conta que o mesmo fez a longa lança de Anahh e a armadura de Orium anos atrás e que ele ainda foi um dos grandes salvadores do reino divino na época que caçava bruxas do conselho de trevas, foi ele o misterioso homem que salvou a vida da princesa real de Orium. Hector se sentiu grato e se ajoelhou diante do ancião como forma de agradecimento, mas logo em seguida explicou ao homem o ocorrido. Uthha se abaixou junto ao deus do fogo, disse que sentia muito pela morte da rainha e abraçou o rapaz, que já parecia curado daquela perda que antes doía em seu peito.

    A lua já beijava as nuvens no céu e todos já estavam deitados prestes a dormir, Hector e o ancião dialogavam na varanda enquanto os lobos uivavam no pico da montanha, o deus do fogo explicou todo o seu plano ao velho sábio e Uthha lhe concedeu uma das armas mais letais que usava na época de caça às bruxas, uma armadura negra, considerada as mais duras e resistentes à magia negra e um par de espadas de aço. Agora o viajante tinha praticamente tudo para deter Kharos e como sabia do envolvimento de Alifer com o conselho de trevas, teria que se precaver.

Orium e a Terra Divina (Atualizando 2023)Onde histórias criam vida. Descubra agora