Episódio III

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Enquanto o herdeiro do trono de ouro estava sobre cuidados de Haran, Kharos decidiu organizar uma reunião com os anciãos videntes. Uma sala circular exageradamente grande, com janelas de aço espalhas pelas paredes e longas cortinas de tom avermelhado que tocavam o chão de mármore claro, no meio do salão uma mesa grande redonda de madeira com cadeiras de assentos acolchoados. Na parede do fundo uma imensa estante com livros empilhados e empoeirados, nos quatro cantos da sala havia castiças de ouro que iluminavam o cômodo meio escurecido. Os anciãos adentraram a sala e se sentaram diante da mesa servida de todos os tipos de frutas e pães frescos, calados esperaram Kharos dar inicio a reunião.
- Senhores, primeiramente quero agradecer a disponibilidade de todos para se reunirem aqui nesta manhã, sei que estão passando por muitas dificuldades para encontrar Hector e o assassino da rainha, mas esta reunião mudará muita coisa aqui dentro do reino.
Os velhos se olharam confusos por um breve tempo e um deles decidiu questionar.
- Ainda não tivemos um retorno satisfatório do paradeiro de seu filho, majestade. Enquanto ao esconderijo de Alifer, já estamos providenciando guardas para preparar uma emboscada para o fugitivo!
- Mas é exatamente sobre isso que eu gostaria de falar. Quero que parem de procurar por Hector. Antes de falecer, Ciz me orientou que Hector só conseguiria despertar a armadura de fogo quando ele se tornasse forte o bastante para mantê-la, por isso, é melhor deixa-lo longe dos problemas do reino para que ele possa focar nos seus poderes e assim se tornar o lendário como manda a profecia. - pediu Kharos.
Alguns dos senhores sentados não aceitaram o pedido do rei, mas não poderiam negar, estavam presos naquela espécie de ritual. Os videntes quando foram escolhidos por Orium prometeram lealdade não apenas ao rei e sim ao reino em si, diante disso, os anciãos teriam que atender ao pedido de Kharos caso contrário poderiam morrer. A pedra de Luz só tinha uma tarefa, obedecer ao rei, independente quem fosse e como os velhos tinham recebido um terço do poder da pedra, eles de alguma forma estavam conectados com ela.
- Agora sobre o esconderijo de Alifer, preciso que me mantenham informado. Eu irei pessoalmente ao encontro dele e irei lhe dar o castigo necessário.
- Sim, majestade! Mas deve-se levar em conta que o sujeito é perigoso, ele faz usos de magia negra e eu acho que não preciso lembrar que ele tirou a vida da rainha em questão de segundos, além disso, ainda não sabemos o paradeiro do corpo de sua rainha. - comentou um dos velhos enquanto enchia o prato de uvas verdes.
- Obrigado pela preocupação, Thano! Ele pode ser o mestre da magia negra, mas eu sou imortal agora, se esqueceu deste detalhe? Os tios de Ciz me fizeram assim, foi um dos pedidos dela antes de morrer e eu sou muito grato, porque assim poderei ajudar no crescimento da terra de Orium.
Enquanto os anciãos se alimentavam, Kharos se retirou do salão.
- Peço licença a todos, mas tenho outro compromisso! Aproveitem as frutas e o vinho quente. - o rei se levantou e se vestiu com um casaco longo de pele de lobo e partiu para a sala de artefatos. Lá chegando, Kharos passou a chave na grande porta para garantir sua segurança e descrição, abriu o armário de espadas do reino e escolheu a mais longa e afiada, se vestiu com uma armadura de ouro e se plantou diante de um espelho sujo para admirar sua brilhosa veste.
- Minha mãe se sentiria honrada de mim agora se o deus sujo desse mundo não tivesse lhe tirado a vida. - com o tom de voz entristecido o rei resmunga baixinho para o espelho.
Bem atrás de Kharos havia uma cadeira velha de madeira, arranhada e cheia de teias de aranha, nela estava sentada uma projeção da alma da rainha, Ciz estava com um olhar ameaçador.
- O que é isso? Como conseguiu chegar até aqui? - desesperado questionou Kharos.
Ciz se manteve calada e ainda com o olhar de fúria para Kharos. Graças ao barril do confinamento a sua alma estava presa naquele castelo e ela só iria descansar quando todo aquele pesadelo tivesse terminado.
- Vocês me devem muito, sabia disso? Teu avô tirou a vida da minha mãe por inveja de sua avó e você achou mesmo que eu estava me casando porque te amava? Sua tola, eu só quero mostrar para o meu reino que eu posso ser um rei ainda melhor que meu pai e ainda melhor que Orium.
Logo, a projeção do corpo de Ciz sumiu num piscar de olhos e Kharos estava apenas falando para os armários de madeira. Ele se perguntou se estaria louco porque aquilo não fazia o menor sentido, Ciz não poderia ter sobrevivido. O rei saiu da sala e se encontrou com um dos anciãos no corredor e lhe pediu a localização de Alifer que como prometido, ele daria um jeito de sumir com o feiticeiro mais cedo do que nunca.
Era uma tarde mansa de ceu alaranjado quando Kharos partiu acompanhado de um pequeno grupo de soldados da guarda real para o esconderijo de seu filho, deixando assim o reino aos cuidados dos velhos videntes. Stevan, um dos anciãos sentiu o chamado da pedra de luz assim que o rei partiu e decidiu se consultar sem a presença dos demais videntes para receber a informação da pedra. Dentro de uma pequena sala sem janelas, próximo do porão do castelo, a pedra de luz ficava segura protegida pelos melhores guardas. O velho adentrou a sala vazia e se aproximou da pedra, que por sinal estava ainda mais reluzente do que costumava estar, quando em contato com ela, Stevan recebeu a visão de que Orium seria invadida por um homem forte à procura de algo precioso e viu também rios de sangue cruzando as ruas de pedras do reino. De fato, aquilo não parecia nada bom!
     Kharos já estava próximo da gruta do conselho de trevas quando decidiu parar com o seu cavalo, logo os guardas que o seguiam também tiveram que parar. Às margens do rio Tharan, o rio precioso de Orium, Kharos tirou a vida dos seis guardas que faziam a sua segurança, naquele encontro com Alifer não poderia haver testemunhas e continuou sua jornada. Assim que chegou ao local informado pelos anciãos, desceu do cavalo e caminhou até a entrada da caverna escura, não era possível enxergar nada do lado de dentro, era quase como o céu na parte da noite, sem estrelas e sem a lua iluminada, era escuridão infinita.
- Parece que você realmente cumpriu com a sua parte do trato! - uma voz bem no fundo da caverna ecoou para o lado de fora com um tom sarcástico. Era Alifer. - Achei que você...
- ... não viesse? - e o rei franziu a testa. - Alifer, você sabe que um bom rei cumpre com suas promessas. Aqui está o que me pediu - e Kharos estendeu uma das mãos entregando um recipiente de vidro com um líquido escurecido. - Agora cumpra sua parte do plano e esqueça Orium, ela pertence a mim, eu sou o rei daquela terra e não deixarei que você faça algum mal àquele lugar.
     Alifer sorriu. Um sorriso medonho.
- Você parece desinformado mesmo, sábio rei! - Alertou o feiticeiro. - Eu não sou uma ameaça ao reino, não mais. Na verdade eu sempre fui uma ameaça ao rei, ou seja, você! Mas agora vossa majestade devia se preocupar com outras pessoas que podem destruir Orium num piscar de olhos.
Kharos apresentou uma expressão de dúvida, ele não fazia ideia do que Alifer estava dizendo.
- Ah, só mais uma coisa, majestade! - Alifer se virou enquanto ainda falava. - Tente não fazer mais inimigos, sua lista já está muito grande!

Orium e a Terra Divina (Atualizando 2023)Onde histórias criam vida. Descubra agora