1- Daiane

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Chegou Esse Dia. O Dia Mais Horrível do Ano. O Dia Anual Mais Infeliz da minha Vida. Eu Odeio Esse Dia. Simplesmente Odeio Esse Dia. O Dia Do Meu Aniversário.

Minha mãe está lá no quintal, meu pai está trabalhando, minha irmã está na escola. Ou seja, ninguém tem tempo pra mim no MEU ANIVERSÁRIO. Mas eu já estou acostumada mesmo. Todo ano é assim, meus pais não tem condição de fazer uma festa pra mim é mesmo que fôssemos milionários eles não iriam fazer uma festa pra mim. Hoje eu completo 16 anos. 16 anos de puro ódio. 16 anos de pura falsidade. 16 anos de sofrimento pra mim.

Meus Pais não ligam pra mim. Não dão importância pra mim. Me tratam como uma empregada e não como filha. Estou cansada deles e da Letícia. Aquela garota tem o mesmo sangue que eu mais é uma cobra. Uma verdadeira vaca sem coração. Quantas vezes fui chorar escondida na casinha da Tina depois das palavras venenosas daquela Asquerosa. Eu odeio todos eles.

Fui deitar na minha cama no quarto que eu e a Letícia dividimos. Mal deito e ouço um grito vindo da cozinha

- Daiane!! Sai desse quarto e vem já lavar a roupa!! AGORA...

Sai correndo pro banheiro para pegar o balde cheio de Roupas sujas e sai em direção ao Quintal. Coloquei tudo na lavanderia e comecei a lavar.

No meu aniversário eu lavando roupa. Que vida a minha.

Você não varreu essa casa Daiane? Eu te mandei varrer essa casa e ela está toda suja!!- Ela pegou o meu cabelo e saiu me puxando. - Você me desobedeceu Daiane!!

- Mãe para por favor, está doendo muito. Me perdoa.- Falei em meios as lágrimas. Ela me puxou e me jogou no chão perto da Vassoura.

- Varre essa casa JÁ!!!

Gritou e foi pra sala, e eu fiquei chorando no chão jogada e humilhada no dia do meu próprio aniversário. Isso sempre acontece. Mas no dia do meu aniversário é pior. Acho que ela lembra que teve a Desgraça de me gerar e por isso me trata como se eu fosse um lixo.

Varro a casa em meio a soluços. Depois volto a lavar as roupas e as estendo no varal.

Vou na sala na ponta do pé e vejo minha mãe dormindo jogada no sofá. Ando devagar e com cuidado até a porta e a abro saindo daquele inferno. Sei que quando chegar a vou apanhar do meu pai e da minha mãe. Mas ao menos vou ter algumas horas para ficar sozinha e o melhor: em paz!

Ando pelas estradas Daquela vilazinha onde eu moro. Várias casas bem pequenas e apertadas coladas as outras. Mulheres conversando na porta de suas casas todas bagunçadas enquanto seus filhos correm naquelas ruas sem chinelo e com roupas velhas e rasgadas. Andei até uma casa abandonada e entrei e fui parar no quintal da mesma. Um lugar sem ninguém só pra refletir.

Eu quero muito ser alguém um dia. Por isso que dou tão duro na escola, me esforço muito pra conseguir boas notas. Sou a melhor da turma. Acham que meus pais ligam pra isso? Nem perco mais meu tempo falando sobre isso com eles. Afinal não perco meu tempo falando nada com eles.

Eles não me tratam como filha e sim como uma estranha uma qualquer uma ninguém. Mais eu não sou ninguém mesmo. Não tenho amigos, não tenho irmã, não tenho pais. Só tenho a mim mesma. Várias vezes já quis fugir, na verdade, todos os dias mas aí eu penso bem. Como vou para a escola? Como vou comer? Onde vou dormir? Então percebo que o certo é ter paciência. Porque um dia vou sair de tudo isso aqui é Vou conquistar minhas próprias coisas, comprar minha casa, meu carro, minhas roupas, comida que desejar comer. Sim, eu sonho alto e eu vou em busca do meu sonho.

Desperto dos meus pensamentos quando vejo que já está bastante escuro. Corro pelas ruas não querendo chegar em casa mas precisando chegar em casa. Paro perto de casa e vejo que tem um carro de polícia parado na frente da minha casa, um policial está conversando com minha mãe e ela e Letícia estão chorando desesperadamente. De repente minha mãe olha em minha direção, um olhar de raiva, um olhar de ódio.Senti as lágrimas inundarem a minha face e um aperto tomou conta do meu peito, ela Vem em minha direção e me dá um tapa na minha cara. Caramba isso doeu muito. É então que choro mais ainda. Ela começa a me bater e Me dá socos e chutes e eu estou caída no chão muito fraca pra levantar.

- SUA ESTÚPIDA!! TUDO ISSO É CULPA SUA. TUDO É CULPA SUA IMPRESTÁVEL.

De repente ela é puxada brutalmente de cima de mim. O policial a pegou e a levou para dentro de casa e  o outro me juntou do chão e me colocou na viatura me dando um copo com água. Eu não parava de chorar. Minha mãe me odeia. Hoje é meu aniversário.  E o que aconteceu?

Peguei a água da mão do policial e vi seu olhar de pena direcionado a mim. Nem liguei, até porque  eu mesma estava com pena de mim.

- Moço, o que aconteceu, o que vocês estão fazendo aqui na minha casa?

Ele me olhou meio receoso. Acho que nao sabia se deveria ou não contar a mim.

- Bom, Seu pai foi preso mocinha.

Meu coração parou. Meu pai foi preso?? Preso?!! Ele não-o ...

- Preso? Mas o que ele fez? Porque? Como?

Ele respirou fundo e continuou

- Seu pai é um dos maiores traficantes do País. Ele exporta drogas local para Vender no exterior. Não Sei como ele escondeu isso de vocês, até porque com essas vendas ele recebet muito dinheiro.

Um dos? O que? Traficante? Do PAÍS? Meu Deus!!!! Levei a mão a boca e recomecei a chorar e a soluçar

Ta bom. Nem eu estou me entendendo. Mas é difícil saber que a pessoa que você conviveu mas de anos é traficante. E ainda um dos maiores do país.

- Por favor mocinha não chora. Ele mereceu.

Fui me acalmando aos poucos.
Concordei com ele.

- Agora me fala, porque sua mae te bateu e falou que a culpa é sua?

- E-eu não sei. Não sei mesmo. Mas eles me odeiam, ela meu pai e minha irmã. Não é tão difícil colocar a culpa em mim.

Abaixei a cabeça. Vi minha mãe sair de dentro de casa com a Letícia.

- Bom Castro, elas vão conosco dar depoimento na delegacia.

O Castro se levantou do meu lado e assentiu para o outro policial. Sai do carro e dei passagem pra elas entrarem e entrei em casa. Fechei a porta atrás de mim e começei a pensar. Como isso pode ter acontecido. Como. Mas eu já devia desconfiar. Meu pai sempre viajava. Dizia que era pra cidade vizinha. As vezes passava até um mês fora de casa. Fui comer algo e me deitei na minha cama.

- Parabéns Pra Mim.

Ironizei pra mim mesma.
Fechei os olhos e esperei o Sono vim.

Porque Eu te Amo Mesmo?Onde histórias criam vida. Descubra agora