Demon {Yoonseok}

Capítulo Dois

Hoseok

Cheguei no escritório de meu pai e joguei em sua mesa alguns papéis, mais especificamente um projeto, que eu passara uma noite inteira e um dia bolando. Ele ergueu os olhos e me encarou por alguns minutos, fez sinal para que eu me sentasse e começou a ler a primeira página.
O ambiente estava o mesmo da última vez que eu entrei aqui, que foi a três meses atrás, sem cor, as janelas eram cobertas por cortinas da cor marsala, um tapete marrom no chão, a mesa totalmente desorganizada e uma estante com vários livros atrás da confortável cadeira de meu pai. Eu batia meus pés ansiosamente contra o chão, desde que minha avó morreu, não me sentia tão empolgado como agora.
O projeto tem a ver com a nossa instituição para pessoas doentes. Eu me lembro que quando vovó estava doente, ela gostava de passear, é eu fiz um projeto sugerindo que uma vez por mês, levemos as pessoas da instituição para um piquenique. É uma ótima ideia sair ao ar livre.
_A ideia é boa – Meu pai falou –, mas ainda acho que falta algo.
_Sempre está faltando algo – Sussurrei para mim mesmo.
_Sempre falta porque você não dá o melhor de si para os projetos que cria – Ele disse, após provavelmente escutar meu comentário.
_Eu passei uma noite e um dia escrevendo isso – Retruquei – São dez páginas, você só leu metade de uma e já vem falar que não está bom o suficiente?
_Você veio aqui para pedir minha opinião, é eu a dei.
_Não – Fiquei de pé tirando os papéis de sua mão – Vim aqui para você me dar permissão para pôr em pratica.
_Esse seu comportamento infantil não está me agradando Hoseok – Meu pai disse também ficando de pé.
_Eu nunca te agrado – Repliquei – Esse é o problema. Acho que a única vez que você sentiu orgulho de mim foi quando o médico disse que eu era menino.
O silêncio tomou o lugar, uma veia saltou no pescoço de meu pai, de alguma forma aquilo o irritou. A maneira que ele me fuzilava com o olhar me fez sentir medo, minhas mãos começaram a tremer de nervosismo.
_Não adianta ter a aparência de um homem – Papai me avaliou dos pés à cabeça – Precisa agir como um.
Isso foi ápice da nossa briga, ele estava querendo criticar minha opção sexual agora? Ele nunca pareceu se importar e resolve colocar isso em discussão, já faz anos que eu me assumi. Mordi meu lábio inferior, tentando me impedir de falar algo que aumentasse ainda mais a discussão.
_Tchau – Foi a única palavra que saiu de minha boca, após dizer isso, caminhei pisando duro em direção a porta.
_Hoseok essa conversa ainda não acabou.
_Nunca acaba não é? – Eu ri ironicamente – Desde que vovó morreu essa discussão começou, e ela não acaba mais, toda vez que começamos a brigar e saio porque não quero mais brigar, você diz isso – Fiz uma pausa jogando as dez folhas que eu havia alegremente escrito no lixo –, Mas acontece que eu cansei, acho que você só não brigava antes da morte dela, porque ela estava lá para repreende ló quando pensava em iniciar uma discussão – As lagrimas queriam sair, mas eu não daria o prazer de me ver chorar ao meu pai, não mesmo – Então esta discussão que se iniciou a três anos atrás, se encerra aqui – Falei saindo da sala.
Após passar por Yang mi, secretaria de meu pai, sai do prédio e comecei a caminhar pela rua, era noite e estava muito frio, coloquei o capuz da minha blusa e abracei meus braços tentando me proteger do vento gelado.
A três anos minha vida vem sendo um completo inferno, só queria um dia, para conversar com meu pai e que a conversa não acabe em confusão.
_Hoseokão! – Pude ouvir alguém gritar, e quando virei a cabeça, avistei a BMW X1 de Namjoon.
Graças a Deus eram eles! Eu não queria encontrar com falsos amigos nesse momento, a janela estava erguida e no seu vidro escuro pude ver meu reflexo, as lagrimas que eu havia aprisionado, agora estavam correndo livres por minhas bochechas, eu nem ao mesmo me incomodei de seca lás, apenas voltei a sorrir como sempre faço.
_O que houve? – Inquiriu Jin quando eu abri a porta de trás e entrei no carro.
_Não foi nada – Menti, mesmo sabendo que eles eram meus melhores amigos e me conhecem melhor do que eu mesmo.
_Não minta – Namjoon voltou a dirigir.
_Somos seus amigos ou não? – Jin se virou para mim – Vai mesmo mentir?
_O mesmo de sempre – Respondi – Meu pai.
_O que você está precisando é sair um pouco – Namjoon me olhou através do espelho do carro – Conheço um lugar para onde podemos ir.
_Nada de festas – Falei usando a manga da blusa para finalmente limpar as lagrimas – Quero ir para um lugar onde toque musica calma e eu possa comer e beber algo.
Jin assentiu.
_Vou até aquela lanchonete onde nós nos conhecemos – Disse Namjoon olhando para Jin.
Namjoon dirigiu enquanto Jin via algo em seu celular, ao vê ló digitar uma mensagem lembrei-me de minha mãe e de que teria de avisa lá de que eu chegaria tarde ou de que talvez nem chegaria em casa. Peguei meu celular no bolso da blusa e digitei uma mensagem para minha mãe, pedindo para ela não me esperar.
Assim que Namjoon estacionou perto da lanchonete, eu tirei o capuz e ajeitei meus cabelos que estava bagunçado, abri a porta e desci do carro, caminhando atrás de Namjoon e Jin que andavam de mãos dadas, eles eram um casal muito bonito, eu queria algo assim para mim.
Assim que entrei na lanchonete meus olhos pousaram em um menino que estava sentando em uma mesa mais no fundo, ele usava um moletom preto que assim como seu cabelo, contrastava com sua pele branca, tinha lábios finos, era possível ver que ele chorava. Parece que o dia não foi muito bom para ele também.
_Que tal nos sentarmos ali? – Inquiri apontando para a mesa próxima ao do garoto que chorava.
_Pode indo lá – Namjoon disse – Eu vou ao banheiro.
Eu e Jin nos sentamos e eu continuei a observar o garoto, que discretamente escondia seu rosto. Por que eu não consigo ver ninguém triste?
_Ei! – Eu o chamei – A comida e feita para comer, não para brincar com ela – Brinquei e o menino ergueu o rosto com um sorriso amarelo – Yoongi – Lembrei-me do menino da vaga para deficiente.
_Hoseok – Ele respondeu ficando de pé.
_O que aconteceu? – Perguntei.
_Nada demais – Yoongi respondeu fungando – Tchau, preciso ir – Ele acenou e sorriu, mesmo não sendo um sorriso verdadeiro, continuou sendo lindo.
Apesar do meu instinto de querer ajudar as pessoas, não fui atrás de Yoongi como queria, eu apenas fiquei sentado em minha cadeira, eu também não estava num dia bom.
_Vamos logo pedir algo – Namjoon apareceu.
E assim foi a noite, com meus amigos, ficar com eles me alegra, apesar de eu não gostar de demonstrar minha tristeza para ninguém, eu consigo me abrir com eles e contar como me sinto. Sei que aguentarei passar por tudo, desde que eles estejam comigo.