Capítulo 8

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Juliana

Hoje o dia começou muito agitado. Tinha que comprar o presente de aniversário de Manuela, minha única sobrinha e praticamente minha filha.

Meu irmão Vitor morreu há três meses em um acidente de carro com a esposa e assumimos a guarda de Manu. Toda transição foi complicada, principalmente por mudar de cidade, escola e ter que fazer novos amigos. Hoje ela completava cinco aninhos e para não passar em branco, resolvemos fazer uma festa na própria escola. Não foi só um bolinho, com seria previsto. Fizemos decoração da mesa, painel, salgados, doces e brindes. Contratei a responsável por um buffet para deixar tudo perfeito, mas como nada saía como gostaríamos, não consegui sair cedo da audiência no centro do Rio de Janeiro. Minha mãe teve que comparecer sozinha à festa da neta e com toda certeza Manu estará aborrecida comigo.

Para compensar o meu deslize, saí direto da audiência e fui até ao shopping no Rio Sul para comprar a maldita boneca cara que ela tanto desejava. A tal da Baby Alive custa uma grana alta, mas não era um tipo de boneca qualquer. Ela comia papinha, fazia as necessidades na fralda descartável, que teria que comprar também. Imagine isso? Ela falava e tinha algumas utilidades que procurei não me aprofundar. Apenas não queria decepcionar Manu mais uma vez, pois no fim acabava sendo uma tia ausente demais.

Meu celular tocou algumas vezes e vi no visor o nome da minha mãe, Glória. Com toda certeza, e razão, estava aborrecida comigo. Arrumei toda essa palhaçada de festa temática, na escola, e eu mesma não compareci ao evento. Só esperava que ela tivesse a consideração de levar bolo e docinhos para mim. Se bem que achava que não levaria de propósito, depois da minha mancada.

Estava na loja lotada tentando encontrar a boneca que minha sobrinha me pediu de presente. Quando cheguei à prateleira e peguei a última caixa, uma mão a segurou junto comigo.

— Eu preciso dessa boneca! — disse enfática e quando olhei para o rosto do meu adversário, vi Gustavo novamente. Outra coincidência do destino.

— Eu também preciso dela, pois é aniversário da filha do meu gerente, mas levando em consideração o seu tom incisivo, creio que é assunto de vida ou morte para você.

— É aniversário da minha sobrinha Manu. Eu furei com ela na festa que preparamos no colégio e provavelmente está magoada comigo. Creio que essa Baby Alive vai me salvar hoje.

— Comprando uma criança... Que feio, Juliana! — disse, em tom de deboche.

— Quem te deu o direito...

— Ei! Só estou brincando. — Ele estendeu as duas mãos, em tom de defesa. — Cadê seu senso de humor.

— Ficou no útero da minha mãe.

— Percebi — Gustavo disse, rindo. — Está em dívida comigo. Agora me ajuda achar outro presente.

— Ok! Vamos a caça ao tesouro. Quantos anos tem essa menina?

— Ela fará cinco anos no sábado.

— Pode comprar uma Polly. As crianças adoram essa boneca. Aliás, elas adoram tudo o que é caro. — Apontou para as bonecas — Aquele conjunto de bonecas Polly Pocket Festa Fantasy custa R$ 119,00. Se a intenção é agradar, o presente é perfeito.

— Gostei da sugestão. Acho que vou levar. — Peguei a caixa e caminhamos juntos para o caixa.

— Não gostaria de tomar um café ou um suco, Gustavo? Poderíamos conversar um pouco.

— Que tal ir ao café Starbucks? Tem o melhor café que já bebi na vida.

— Eu também adoro o café de lá.

— Fechado! Assim conversamos um pouco.


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