No dia seguinte, mal o orvalho cintilava sobre a verde folhagem da floresta, os três porquinhos já se encontravam, silenciosos, a caminho do loteamento. Não fosse o canto dos pássaros e os passos pesados dos três irmãos, o único ruído possível de se ouvir seria o ronco de suas panças grandes esfomeadas.
Alfie ia mascando algumas folhagens pelo caminho. Oscar aparentava ser um zumbi mal humorado. Somente o grande irmão Noah parecia manter algum discernimento, mas era tudo fachada. Foi então que começaram a surgir cogumelos pelo caminho, de todas as cores e formatos, vermelhos, marrons, vermelhos com bolinhas brancas, achatadinhos, outros pareciam guarda-chuvas azuis. Eram suculentos e divertidos. Os irmãos Tamworth caíram de boca devorando todos.
Como os cogumelos beiravam boa parte do caminho, o problema com a comida parecia estar solucionado por algumas milhas. Eles iam pastando e avançando, pastando e avançando, na expectativa de estarem a cada passo mais próximos do loteamento até o final do dia.
O problema é que aqueles cogumelos eram mágicos e não haveria final do dia até que o seu feitiço fosse terminado. Assim, enquanto caminhavam, bebendo do orvalho da manhã e devorando todos os sabores de cogumelos que viam pela frente, a trilha que percorriam começou a desaparecer. No seu lugar, borboletas cintilantes, fadas e duendes surgiram como que do nada.
— Três porquinhos, perdidos estão;
Três porquinhos, lombinhos que são;
Três porquinhos, gordinhos estão;
Três porquinhos, torresminhos que são!Enquanto cantavam seus dentes cresciam, no que Noah saiu correndo e peidando em disparada. Oscar tremia tanto que não podia sair do lugar. Somente Alfie ficou alheio ao evento, porque estava ocupado negociando cogumelos com um duende que jurava ter um pote de milho no final do arco-íris.
— Não, não... O pote todo pela minha porção de cogumelos. São ardidinhos e amargozinhos. Não existe melhor em nenhum outro lugar, Sr. duende.
— Façamos o seguinte, você me acompanha até o pote de milho e então fechamos o negócio.
Alfie era muito esperto. Mamãe Diana lhe falara da astúcia dos duendes. Por isso, achou melhor mudar de estratégia:
— Como bem sabe, amigo duende do pote de milho, eu sou um porco de nobre estirpe. Não sou afeito à caminhadas. Acho que esgotei a cota de milhas por hoje.
Nisto, Alfie avistou os dois irmãos correndo e peidando feito loucos. No entanto, como que por mágica seu corpo ficou leve feito uma pluma, as folhas das copas das árvores começaram a acariciá-lo e uma multidão de fadas pequeninas apareceram sobrevoando seu robusto corpo, enquanto entoavam uma canção esquisita:
— Porquinho, porquinho,
Lombinho, bacon e jasmim;
Costela, Paleta, joelho e alecrim;
Porquinho, porquinho,
Gordinho assim,
Vem aqui, torresminho,
Vou jantar seu rabim!— Vão para o inferno! — e começou a abanar-se com se abanam as moscas.
— Porquinho, porquinho,
Lombinho, bacon e jasmim;
Costela, Paleta, joelho e alecrim;
Porquinho, porquinho,
Gordinho assim,
Vem aqui, torresminho,
Vou jantar seu rabim!— Noah! Oscar!
À sua volta, apenas o silêncio da mata fechada. Por onde teria caminhado? O que fizeram-lhe as fadas? Nisso, um par de olhos amarelos destacou-se na escuridão.
— Deixe de ser sem graça, duende...
Nenhuma resposta. Os olhos nem piscaram.
— Deixe de ser sem graça, seu filho da puta! Duende de merda!
Nenhum movimento. Alfie pegou um pedaço de madeira com uma das mãos, apossando-se de uma pedra com a outra, marchando na direção dos grandes olhos amarelos. Quanto mais se aproximava, mais os olhos distanciavam-se, de forma que estavam sempre a fitá-lo.
Como não enxergava direito o chão em que pisava, por conta da escuridão do limbo em que fora abandonado pelas fadas, Alfie tropeçou em alguma coisa e caiu.
— Naõ me coma! Não! Nããããããããoooo...
— Oscar? — e olhou mais de perto — Nãão... Noah? Você não está gago, Noah?
— Três porquinhos, perdidos estão;
Três porquinhos, lombinhos que são;
Três porquinhos, gordinhos estão;
Três porquinhos, torresminhos que são!— As fadas têm dentes afiados, Alfie...
— Não são fadas, Noah...
— Três porquinhos, perdidos estão;
Três porquinhos, lombinhos que são;
Três porquinhos, gordinhos estão;
Três porquinhos, torresminhos que são!A voz aproximava-se a cada verso repetido...
— Três porquinhos, perdidos estão;
Três porquinhos, lombinhos que são;
Três porquinhos, gordinhos estão;
Três porquinhos, torresminhos que são!Era uma voz áspera bem conhecida dos Tamworth... Jake Jackson.
— Cadê o Oscar, Noah?
— Como irei saber?
Quando o vulto do lobo se aproximou era possível ver a protuberância em sua barriga. Alfie e Noah ficaram tomados de tamanho ódio, que avançaram enlouquecidamente sobre o lobo desacompanhado que, ainda esfomeado, reagiu ferindo os irmãos gravemente.
No momento em que Alfie se deu conta do ocorrido, Jake estava sobre Noah, esganando-o, tentando asfixiá-lo. Alfie pegou um pedaço de pau bem grande e desceu sobre o lombo do animal, que voltou-se contra ele. Enquanto Noah rastejava procurando recuperar o fôlego, Alfie travou uma verdadeira batalha contra o lobo que, sendo mais ágil que o grande e gorducho porquinho terminou engolindo-o vorazmente.
Logo que acabou de devorar a segunda refeição, Jake Jackson sentiu-se pesado e sonolento. Carne de porco em excesso provoca essas coisas. Ao dar uma olhadela ao redor, não encontrou o outro irmão Tamworth.
— Esse eu pego mais tarde, depois que fizer o meu quilo...
Noah não estava longe, porém ainda estava perdido, meio zonzo e chapado de cogumelos. Não sabia mais a diferença entre fadas com presas, duendes verdes orelhudos e gorilas africanos... Gorilas africanos? Sim. O grande símio.
Seus grandes olhos amarelos fitavam-no profundamente. O animal ergueu-o do chão e entregou-lhe um pedaço de pau, apontando-lhe o caminho em seguida. Noah entendeu o que o macaco queria, mas relutou em seguir em frente. O lobo... bem... Jake Jackson era muito mais rápido.
— Você não terá outra chance como essa. Ele está dormindo e sonolento digerindo os seus irmãos.
— Quem é você?
— Alguém que deve muito ao Chefe Charles. — dito isso, o gorila embrenhou-se na mata e desapareceu na escuridão.
Noah ficou sem muitas opções. Acovardar-se naquele momento seria o mesmo que enterrar qualquer chance de tornar-se chefe dos Tamworth uma vez curada a gagueira. O grande macaco provavelmente teria sido enviado pelo seu pai para espioná-los. Chefe Charles não era bobo e gostava muito de ter notícias sobre tudo o que ocorria na floresta, por isso mantinha espiões por toda a parte. Abandonar os irmãos neste momento seria o mesmo que assinar sua própria condenação ao exílio. Jamais seria perdoado.
Tremendo feito uma vara verde, Noah retornou ao local onde quase morrera asfixiado pelo lobo. Jake Jackson dormia pesadamente, como qualquer um que se dispusesse a comer carne de porco até não caber mais.
Noah aproximou-se e, com um golpe preciso na barriga do lobo, fez com que este regurgitasse os dois irmãos. Jake ficou enfurecido, mas não tinha forças nem para levantar, devido ao golpe certeiro de Noah que, aproveitando-se da situação, arrastou-o mata adentro com o fim de obter sua vingança.
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Os três porquinhos: a história não autorizada #SimplesmenteEscreva
RandomEsqueça tudo o que você já ouviu sobre "Os Três Porquinhos". A narrativa que lhes apresento aqui é a história real, sem a magia de Walt Disney para encantar as crianças, mostrando como três irmãos unidos puderam derrotar o lobo mau. Aliás, parece se...