Sono Turbulento - Capítulo X

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Quinta feira e sexta feira foram dias tão normais quanto o possível. Juliana estava colada em Tiago, a lua de mel se aproximava. Ela tinha várias folgas acumuladas, assim como ele, então tiraram o resto do mês para gastar as folgas na lua de mel. Eles ficariam a semana do carnaval na cidade dos pais deles e depois viajariam para realmente aproveitar o casamento.

Eu tinha almoçado com Gabriel nos dois dias. Tínhamos conversado bastante. Era incrível a facilidade com a qual ele conseguia me fazer sorrir. E era sempre um sorriso espontâneo e verdadeiro. Eu amava isso. Acabamos concordando que quando tudo isso acabasse, continuaríamos sendo amigos e saindo junto. Nós tínhamos uma química boa.

Ele tinha insistido em me levar para o trabalho e para casa após o mesmo os dois dias. Eu aproveitei, já que não podia pilotar e teria que pagar táxi. Eu odiava precisar de ajuda, mas ele não recebe um "não" como resposta.

Daniel ainda não tinha me ligado, o que mostrava que sua pirraça estava firme.

Eu estava morrendo de sono, mas estávamos sentados nas últimas cadeiras do avião e sem televisão. Eu estava meio enjoada porque o avião não parava de balançar. Já tínhamos sofrido umas três turbulências, isso só na primeira hora de vôo. Adivinha: resolveu chover!

Quando eles entregaram o lanche, o suco de uva que eu pedi derramou todo na minha blusa branca. O clássico clichê. Só que ao invés de me ajudar, Gabriel ficou rindo, então peguei o copo dele e joguei na cara dele enquanto eu me levantava para ir ao banheiro. Eu estava do lado da janela, e estava tudo tremendo. Se eu falar que foi sem querer ele talvez acreditasse. Mas eu não ia falar isso.

Eu sigo para o banheiro e me tranco lá. Eu me olho no espelho e analiso o meu estado. A blusa estava toda manchada de roxo-lilás. Eu não tinha nenhum casaco comigo. Isso seria demais. Encontrar minha mãe que vai me criticar até que eu me mande para o inferno. Aí ela começa a brigar comigo.

Tento limpar a blusa, mas aquilo não funciona, acabo molhando mais ela e bagunçando ainda mais aquilo.

Ouço uma batida na porta. Ignoro, mas ela continua. A pessoa ou era insistente, ou estava apertada.

- Tem gente, não deu de ver na porta? - eu tinha virado a tranca quando entrei, mostrando que o banheiro estava ocupado.

- Abre logo isso, Samanta. - claro que era ele, quem mais poderia ser?

Abro a porta e ele olha para a minha blusa molhada, vendo meu estado catastrófico. Ele estende uma blusa cinza enorme e um casaco, o que ele estava usando. Eu pego as roupas e bato a porta na cara dele. Tiro a blusa branca. Agora percebo porque ele estava olhando para a blusa. Meu sutiã estava visível. Coro, minha pele se avermelhando. Trato de colocar logo a blusa dele, uma cinza, com os dizeres: "Elementar, meu caro Watson". O casaco era um moletom preto, simples e prático. Coloco o moletom e me olho no espelho. As roupas ficaram enormes em mim e certamente não combinavam com calça jeans e bota com salto. Pelo menos eu estava do tamanho dele com aqueles saltos. E eu teria que fazer meus pais olharem para cima, toda a família, praticamente, exceto por Daniel. Nós éramos os únicos abençoados, já que tínhamos mais de 1,55m. Agora, 1,75m, graças ao salto. Jogo minha blusa no lixo. Com a minha sorte, eu não conseguiria tirar aquela mancha nem se fizesse magica.

Saio do banheiro com as mãos no bolso do moletom. Gabriel me espera do lado dele. Ele estava com a blusa que eu molhei. Me sinto mal por ele. Estava frio no avião e agora ele estava molhado porque deu sua blusa seca para mim. Ele não tinha levado mais do que uma mochila com roupas suficientes para uma semana. Como a mochila cabia no compartimento de mão, ele levou como mala de mão. Provavelmente ele tirou essa camisa de lá, mas porque não tirou uma pra ele? Não sei.

Sigo até o meu assento, Z1A. Sento me e fico observando o céu lá fora enquanto ele se senta ao meu lado.

- Obrigada. - digo baixo, para não acordar os outros passageiros. Eu estava morta de cansaço, porém não conseguia dormir de medo. Nós não devíamos ter ido de avião.

- Não há de quê. Você tá com sono? - ele também olha pela pequena janela.

- Eu estou cansada sim, assim como você. - viro o rosto para ele. - Você devia dormir um pouco, assim como eu. O dia amanhã não vai ser fácil. - aviso.

- Não é mais inteligente que fiquemos acordados e durmamos quando chegarmos lá? Porque poderíamos usar o avião e as turbulências como desculpa para ir dormir e não encarar a sua família, coisa que ninguém quer fazer. - tenho que concordar com ele. Ele tinha ponto.

- Concordo com você. Me conte algo sobre você, então. - digo, tentando me distrair.

- Porque você não me conta algo sobre você? Aliás, sua família tem que pensar que nos conhecemos há dois meses e isso é muito tempo.

- Porque você vai descobrir os meus podres lá e é melhor eu não antecipar isso. Não quero ver você rindo da minha cara de novo, obrigada. - digo, sarcástica.

- Tudo bem. Mas só se você me responder algo primeiro. - propõe.

- Claro. Qual a pergunta? - ele brinca com uma mecha de cabelo que soltou do meu coque.

- Por que você não usa uma tala para sustentar sua mão? - eu olho pela janela do outro passageiro.

- É uma história bem engraçada na verdade.
" Eu tinha acabado de completar dois anos na empresa, mas isso não tem a ver com a história, era apenas para você se localizar. Eu ainda estava na faculdade, e eu acabei tropeçando nos meus próprios pés e caí rolando numa rompa longa de concreto. Eu acabei me arranhando toda, mas por sorte apenas quebrei um dedo. Eu fui paro o hospital mais perto do campus, a enfermaria que era cuidada por estudantes. Eles acabaram colocando uma tala fina de madeira, num leve improviso, já que a ala de enfermagem estava com falta de material. Depois eu descobri que eram calouros que não podiam estar ali e não sabiam onde ficavam as coisas. Eu fui para casa depois daquilo e estava com fome. Eu era a iludida que acha que sabe cozinhar, sendo que da última vez que o fiz, alguém morreu envenenado."

- E o que aconteceu com seu dedo? - sussurra, rindo baixo. Acompanho ele com um sorriso.

- Ele está inteiro, foi colocado no lugar certo, e essa foi a última vez que um resquício de sorte apareceu na minha vida. - ele levanta o encosto de braço e eu me aconchego nele. - Voltando para a história.
"Eu ia fritar um ovo e peguei o esqueiro. Ah, como eu me arrependia daquela decisão. Eu acendi o fósforo e fui acender o fogo. Só que eu tinha essa mania de deixar o fogo chegar bem na ponta do fósforo. O problema era que dessa vez em especial, ele chegou muito perto do fim e acabou pegando na tala de madeira, que pegou fogo. "

Ele começa a gargalhar alto demais, até que alguém manda a gente calar a boca. Ele encosta seus lábios em meus cabelos, que abafam o som da sua risada deliciosa. Seus lábios ficam do lado do meu ouvido, a voz que sai deles está rouca. Isso me arrepia.

- Quer dizer que você colocou fogo em si mesma?

- É, mais ou menos isso. - ele passa o braço pelos meus ombros, me puxando mais para perto. Não protesto contra. - Eu coloquei a mão no mesmo momento debaixo de água corrente. Depois daquilo eu fui ver a Dra.Olenska, a antiga responsável pelo pronto-socorro.

- Uau. Você é... - ele não completa a sentença. Olho em seus olhos.

- Desastrada, azarada, doida, idiota. - sugiro alguns adjetivos levantando a sobrancelha. Ele apenas ri, beija minha testa e repousa a cabeça, apoiando ela na minha.

- Não, você não é nada disso. - diz confiante, como se estivesse defendendo a tese de que estávamos no ar.

- Tá, Gabriel, eu não sou. - não vou discutir com ele no meio do céu. Não teria para onde fugir.

- Que bom que concorda comigo. Agora durma um pouco. - eu não quero seguir seu conselho, queria ficar acordada e ouvir ele contar um fato sobre si, mas ele tinha me enganado direitinho.

Assim como fez sobre tudo.

Senhores passageiros, apertem os cintos e comentem sua reação, deixando seu voto maneiro aqui nesse capítulo!

Meia Noite - A Hora Do Destino (Rascunho)Onde histórias criam vida. Descubra agora