Ela sabe o meu nome!

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Miami, Florida – 2008.

Só mais uma volta. Só mais uma maldita volta e eu poderia finalmente desmaiar. Eu não fazia ideia a quanto tempo estava correndo, mas o sádico do treinador Mendes acordou de ótimo humor
e ordenou que a gente desse oitenta voltas na praça em frente à academia.

– Fi... final... finalmente! – me joguei no gramado da praça e fechei meus olhos derrotado.

– Levantem seus maricas, só correram esse pouquinho e já estão mortos? Mexam suas bundas feias e já pra dentro, só estamos começando!

O treino durou mais uma hora e meia e o treinador nos liberou. Recolhi minhas coisas no vestiário, após um banho gelado, e me retirei do estabelecimento ás pressas. Já eram seis da noite e eu não queria problemas pro meu lado.

Cheguei em casa trinta minutos depois e encontrei tudo bagunçado. Os sapatos gastos de meu pai estavam largados de qualquer jeito na entrada de casa e um jarros que minha mãe amava estava aos pedaços no chão. Cerrei os punhos e tirei os sapatos ás pressas.

De novo não!

– Onde está o imbecil do seu filho? – ouvi a voz do meu pai quando me aproximei da cozinha. – Ele vem chegando tarde todos os dias e nuca está em casa quando preciso que ele compre minhas cervejas.

Engoli em seco e me aproximei o bastante para o ver sentado à mesa com uma garrafa de vodka e minha mãe parada em frente a pia, de costas para ele.

– Eu te fiz uma pergunta, você não ouviu? – Gritou e jogou a garrafa na parede, para logo se levantar e puxar os cabelos de mamãe. – Quando eu falar com você é para me responder, sua vadia.

Eu estava petrificado, feito uma estatua, vendo meu pai gritar com minha mãe e tratá-la como um lixo. Eu queria correr até lá e gritar com ele. Tirar minha mãe de perto daquele monstro e socar sua cara. Eu sentia a raiva borbulhar em minhas veias, mas por algum motivo eu não consegui sair do lugar. Minhas pernas simplesmente não se mexiam.

Então um baque me tirou do meu transe.

Quando eu vi minha mãe jogada no chão depois dele dar um soco em seu rosto eu não consegui me controlar. Apesar de minhas pernas tremerem mais que tudo eu me obriguei a ir até aquele desgraçado e dar um soco em seu rosto.

– Não toque na minha mãe, seu desgraçado! – gritei quando ele me olhou surpreso.

Mas logo seu olhar se converteu em raiva.

– Quem você pensa que é, moleque? Vou te ensinar a me respeitar, seu merdinha! – gritou e a próxima coisa que vi foi seu punho, antes de acertar com força total meu nariz. – Quem manda nesta porra sou eu, não ouse me desafiar.

Ele me chutava enquanto falava um monte de coisas ruim sobre mim e minha mãe. Eu não conseguia prestar atenção em nada do que ele falava. Só conseguia me encolher e proteger meu rosto de seus golpes. Senti o gosto de sangue na minha boca e a última coisa que lembro antes de apagar foram os gritos de minha mãe implorando para ele parar.

Abri meus olhos devagar e senti minha cabeça pesar. Meu nariz estava latejando e minhas costelas doíam como o inferno. Levei minhas mãos tremulas ao meu rosto e gemi de dor. Percebi que tinha alguns curativos nele, como no canto direito dos meus lábios, no meu nariz e supercilio.

Mamãe. Pensei e sorri fraco, mas logo meu sorriso se desfez ao lembrar do ocorrido de ontem a noite. Não podíamos viver naquele inferno, não mais.

Fiz um esforço para conseguir me sentar e soltei um grunhido quando senti pontadas nas minhas costelas. Meu corpo todo doía e minha boca ainda tinha o gosto amargo de sangue. Tentei ignorar a dor e olhei em voltar. Eu ainda estava no chão da cozinha da minha casa, cacos de vidro ao meu redor. Com dificuldade me coloquei de pé e me arrastei escada a cima, até o quarto de Luna, minha irmãzinha de dois anos. Não me surpreendi quando encontrei minha mãe adormecida na cama ao lado do berço da minha irmã.

Meu doce secretárioOnde histórias criam vida. Descubra agora