John chegara a um ponto na vida em que achava realmente que nada mais o surpreenderia tanto, então, quando se viu analisando o ocorrido pela primeira vez, chocou-se por não esperar algo tão absurdo. Lembrou-se da conversa que tivera com Payne.
O bairro onde o crime ocorrera era um lugar pobre e com excesso de população, pessoas curiosas que sua equipe trabalhava pra conter, enquanto Payne conversava com quem dizia ter visto algo. E parecia que, na maioria das vezes, tudo que ela ouvia eram absurdos ou falácias, pois o olhou diversas vezes dando de ombros.
Num beco, atrás de um grande prédio comercial do bairro, que dava numa rua por onde poucas pessoas passavam, encontrava-se o corpo da vítima. E tudo que John conseguira identificar, era que aquela pessoa era um homem.
O rosto havia sido desfigurado de tal forma que o sorriso contornava-o de orelha a orelha de uma forma macabra, fazendo o tenente lembrar-se do personagem Coringa, e seus olhos, que outrora deviam ter chamado atenção pelo tom bonito de verde, agora encontravam-se sem pálpebras e com a pele esfolada da região da maçã do rosto até as sobrancelhas, de forma circular ao redor do olho, ajudando na formação de uma pintura — com coloração nada convencional — de palhaço no rosto do indivíduo sem nome, feita de uma forma muito precisa. Suas órbitas oculares expostas pareciam prestes a saltar, saindo dos seus lugares de origem, enquanto encaravam cegamente o horizonte de forma assustadora. O cenário fora completado com uma peruca amarela e cacheada de fios de nylon e uma roupa completa de palhaço de circo.
Mas aquela cena de filme de terror não provocaria gargalhadas nem ao menos num psicopata. Ou talvez sim.
A vítima havia sido descoberta por um passeante que, mesmo assustado com a cena de horror, ligara imediatamente para a central, que logo mandou uma viatura com dois policiais que isolaram rapidamente a cena para o trabalho posterior de toda a equipe.
Já enjoado com toda a situação, e cansado de procurar ao redor do corpo por pistas de como tudo poderia ter acontecido, John se afastou, saindo do beco em direção à rua lotada de curiosos, pra respirar, ao mesmo tempo que a equipe de coleta de provas chegava, preparando-se para procurar por algo que levasse ao autor do crime. Payne se aproximava, parecendo ainda muito empolgada com o seu primeiro caso ao lado do tenente.
— Não encontrei ninguém que estivesse no local mais cedo e pudesse dar mais detalhes. Parece que essa rua, diferentemente das outras do bairro, normalmente é bem solitária, devido ao tráfico de drogas e o trabalho ilegal de prostitutas no local. — Ela guardou o bloco de notas no bolso da jaqueta junto à caneta e cruzou os braços, respirando fundo. — É um bom primeiro caso para estrearmos como uma dupla. E então, o que acha?
— Eu acho que nunca mais irei a um circo e que meu medo de palhaços acaba de se tornar maior. — John olhava em volta, em busca de alguém que parecesse estranho ou observador demais. — Ele não parece ter sido morto no local, talvez tenha sido apenas deixado aí. Pode ter sido há pouco ou há muito tempo. Hoje em dia não podemos descartar a hipótese dele ter sido morto há vários dias, pois o assassino poderia ter um certo conhecimento para conservar o corpo. Precisamos descobrir quem é a vítima, para então sabermos quando desapareceu. — A tenente concordava com acenos de cabeça, sem olhar para ele, analisando o trabalho da equipe, no beco. Ele conferiu o relógio e então voltou a olhar ao redor. — Ainda não são nem 6h30 da manhã, e normalmente ninguém passa por aqui neste horário. Por que tanta gente? — Ele fez uma pausa, passando a mão pelo cabelo escuro. — Já conversou com o senhor que descobriu o corpo? Perguntou o que ele fazia tão cedo por estas ruas?
— Tentei conversar com ele, mas me pareceu muito nervoso, então fiz poucas perguntas. Achei melhor que o levássemos conosco até a delegacia. Quando ele estiver mais calmo e confortável, nos contará muito mais. — Ela parecia inquieta e mexia no cabelo a todo momento, como se buscasse uma forma de ocupar as mãos.
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[DEGUSTAÇÃO] O Riso Da Morte (Saga Hale & Hastings - Volume 1)
Misterio / SuspensoAdquira O Riso da Morte: goo.gl/oiuiSs 1° Lugar no concurso Uma Dose A Mais 2° Lugar em Mistério no Rosas de Diamante. Policial de Houston há quase quinze anos, John Hale nunca conseguiu manter um parceiro por mais de três meses, por conta dos in...