Payne e John saíram do necrotério logo após o achado do bilhete, que agora os fazia mergulhar no silêncio de seus próprios pensamentos em busca de respostas.
— Vou para casa descansar agora. — Os dois encontravam-se no fim das escadas do grande prédio onde Robert trabalhava, próximos à viatura do detetive. — Quer uma carona?
— Quero sim, obrigada. — Ela o encarou, e então dirigiu-se até a porta do passageiro do sedan preto, esperando que ele desse a volta e então entrando.
Sentaram-se lado a lado e respiraram fundo.
— Isso tudo está mais complicado do que eu pensava. — John disse, ao mesmo tempo em que colocava a chave na ignição.
— Darei uma pesquisada sobre Austin, pelo computador de casa, e verei o que posso encontrar.
— Boa ideia. Eu preciso dormir, mas não sei se consigo fechar os olhos depois de tudo que vi hoje.
— Nem eu.
Payne havia se recostado na janela e parecia muito mais calma do que naquela manhã. Mudança incrível de humor.
— Você está bem? — John quis saber.
— Claro.
— Hum.
— O que foi? — Ela agora olhava para ele, de canto de olho, sem mover a cabeça.
— Nada.
— Conta outra. — Dava pra se notar o tom de ironia na voz dela.
— Continuaremos discutindo até quando?
— Não sei.
— Precisamos parar com isso.
— Você me tira do sério, Hale.
Ele então sorriu, desviando o olhar para a janela do seu lado para que ela não percebesse. Dirigia com uma mão só, como de costume, e tinha o outro braço apoiado no vidro aberto. A posição ressaltava bem a tatuagem de delta que ele tinha no braço.
— Obrigado.
— Isso não é um elogio.
Hastings suspirava a cada frase, e parecia muito mais esgotada que ele.
Permaneceram calados por minutos tão longos que pareceram horas. Payne descascava seu esmalte azul com os dentes, demonstrando estar nervosa ou ansiosa, enquanto John a analisava pelo espelho retrovisor.
Era incrível como, mesmo de cara fechada, ela era bonita. E nem ao menos precisava de maquiagem pra isso, porque do pouco que ele entendia sobre, parecia que ela estava sem nenhuma naquele dia.
Sua pele escura, banhada pelo sol de fim de tarde que entrava pela janela, parecia ainda mais bonita do que quando a conhecera, mais cedo.
— O que faremos no próximo turno? — Payne perguntou, quebrando o silêncio.
— Pensei em darmos uma olhada nos circos da cidade.
— Boa ideia. — Ela não parecia contente em concordar.
— Ah, qual é? Tem medo de palhaços? — Ele agora a olhava, aproveitando enquanto o carro estava parado em um semáforo.
— Claro que não — disse secamente. — Como sabe onde moro?
— Documentos de admissão.
— Quando eu vou poder dirigir a viatura?
— Isso é um interrogatório?
Ela o olhou, mas manteve-se em silêncio. Revirou os olhos para ele e virou-se para a janela novamente.
John decidiu que deveria deixá-la quieta, então apenas dirigiu pelas ruas do centro de Houston, atravessando a cidade, para deixá-la em casa.
É claro que ele teria que fazer todo o caminho de volta depois, pois passaria na delegacia para deixar papéis e provas que Robert o entregara, antes de finalmente ir pra casa descansar.
Parou o carro na frente do pequeno prédio onde Payne morava, alguns minutos depois. O local era bonito: uma pequena construção de três andares, branca, com um grande jardim na frente, e ficava entre quatro outros prédios exatamente iguais, formando um pequeno condomínio.
— Merda! — Payne exclamou e desceu rápido do carro em direção a uma mulher loura e de cabelos curtos — que John não havia notado antes —, recostada no muro em frente ao local.
Imaginando que Payne tinha problemas, o tenente desceu do carro e começou a se aproximar, mas foi surpreendido quando ela abraçou a mulher para ele desconhecida — agora sorridente —, fortemente, e depois a cumprimentou com um selinho.
— Me desculpe por fazê-la esperar. — A tenente sussurrou olhando diretamente nos olhos da mulher que era alguns centímetros mais baixa, enquanto John as observava.
— Não tem problema. — A loura então notou a presença do homem, e virou-se para ele quando o mesmo já havia decidido que se retiraria em silêncio. Ela então abriu seu sorriso mais ainda, como se estivesse feliz em conhecê-lo. — Então você é o novo parceiro de Payne?
— John Hale. — Ele aproximou-se e cumprimentou a mulher, surpreendendo-se com a firmeza com que ela retribuiu seu aperto de mão.
— Esta é Claire Waitley, minha namorada. — Payne disse, passando um dos braços pelos ombros dela, e olhando para John. — Obrigada pela carona, Hale.
— Por que não o convidamos para comer algo com a gente, Payne? Deixa de ser mal-educada. — Claire disse, olhando para a namorada e depois voltando o olhar para o tenente, que ainda se encontrava surpreso, paralisado em frente a elas. A única coisa que se movia nele eram seus cabelos castanhos escuros ao vento.
— Muito obrigado, Claire, mas tenho que ir. Fica pra outra hora. — Ele piscou, tentando parecer gentil, e começou a mover-se de volta pra viatura. — Nos vemos depois, Hastings.
Ele então entrou no carro, ligou o rádio em uma estação de rock e tentou distrair a cabeça para esquecer o ocorrido que o deixara tão surpreso, dirigindo rápido de volta para o departamento.
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[DEGUSTAÇÃO] O Riso Da Morte (Saga Hale & Hastings - Volume 1)
Misteri / ThrillerAdquira O Riso da Morte: goo.gl/oiuiSs 1° Lugar no concurso Uma Dose A Mais 2° Lugar em Mistério no Rosas de Diamante. Policial de Houston há quase quinze anos, John Hale nunca conseguiu manter um parceiro por mais de três meses, por conta dos in...