3. Nowadays

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Sentei-me na cama e ele na cadeira da escrivaninha. Deitei a cabeça no travesseiro, peguei a folha, o caderno para apoiar-me e uma caneta. Comecei a escrever e fui perguntando para ele sobre a mistura heterogênea química que ocorre quando misturamos água, álcool e óleo. Enquanto eu ia perguntando pra ele e relembrando da experiência do laboratório, eu não tirei os olhos da folha e não percebi que ele estava me encarando há um muito tempo. Só percebi quando fiz outra pergunta e ele não respondeu. Virei-me para olhar para ele e e notei que ele me encarava com uma expressão triste e a bochecha corada.

— O quê foi?

— É que eu não estou entendendo nada do que você está dizendo.

Fitou o chão cabisbaixo. Sentei-me na cama e puxei a cadeira em que ele estava até a minha direção. Ele voltou a olhar-me. Eu sorri, acariciando suas bochechas com o polegar.

— Tudo o quê eu estou dizendo é exatamente o quê a professora disse mais cedo. – Ele abaixou a cabeça novamente. – Você também não entendeu o quê ela disse, não é?

— Eu não prestei atenção, na verdade. – Segurei no queixo dele e levantei seu rosto até seus olhos estarem na altura dos meus. – Hazza, não precisa ficar assim. Eu te ajudo a entender.

Ele ergueu as sobrancelhas assustado, sem deixar de sorrir docilmente. Ele estava surpreso por eu ter chamado-o por um apelido, eu também estava.

— Você me chamou do quê? – Tirei minha mão do queixo dele bruscamente, como se aquilo pudesse apagar meu “deslize”. Peguei o livro de química e rolei os olhos pelas linhas sem ao menos prestar atenção nas palavras. – Você me chamou do quê, gatinha?

Virei-me discretamente e sorri.

— Eu te chamei de Hazza. Por quê?

Ele deu de ombros, levando seus dedos gélidos até minha nuca, brincando com os fios de cabelos que estavam lá. Pedi aos deuses que ele não notasse meus pelos eriçados.

— Porque eu gostei.

Sorri, retirando sua mão.

— Gosta que eu te chame de Hazza?

— Gosto.

— Certo. Mas eu não gosto que me chame de gatinha.

— Quer que eu te chame de cachorrinha, então?

Revirei os olhos não deixando de rir. Ele sorriu.

— Cale a boca, idiota.

— Céus, a Senhora Estresse está rindo?!

— Nunca me viu rindo? Estou rindo o tempo todo.

— Não para mim.

— Então me faça rir mais vezes, vamos ver se você consegue.

— Prometo que vou tentar. – Juntou nossas mãos. Era legal ele fazer isso, mas eu me sentia incomodada, e mesmo que fosse um pouco rude eu tive que afastá-las. – Você é tão... Estranha.

— Me diga uma novidade, Harry.

Revirei os olhos, voltando minha atenção para o caderno e folheando-o.

— Não nesse sentido.

— Em qual sentido?

— Você é estranha por não ser como as outras.

Eu gargalhei, muito alto, o suficiente para vê-lo arregalar os olhos. Ele estava conseguindo me fazer rir.

— Harry, isso é clichê! Não estamos num livro amoroso onde eu sou a garota diferente e você me acha interessante por isso.

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