2 - Lindsley

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As pessoas sempre dizem que quando morremos por uns segundos vemos luz e sentimos o seu calor sobre nós, mas tudo o que eu vi e senti foi escuridão e frio, muito frio.

O que eu temia mais naquele momento era não poder viver apesar de querer com todas as minhas forças morrer, eu impedia-me de pensar tal coisa.

Mas tu ensinaste-me que temos de lutar porque no fim de tanta dor á algo que nos está destinado quer seja mau ou bom, isso depende de nós.

Quando abri os meus olhos percebi o quanto me arrependi, pois rapidamente visualizei ambas as faces dos meus progenitores.

Os seus olhos vermelhos, manchados com lágrimas enquanto me lançavam um olhar cheio de magoa.

Sentei-me lentamente na cama branca do hospital. Senti o meu braço direito restringido então rapidamente o observei para ver o pequeno tubo de soro ligado ao mesmo. Mudei o olhar para o meu pulso esquerdo vendo que se encontrava com ligaduras.

A mão da minha mãe rapidamente se juntou a minha e elevei os meus olhos para a sua cara, vendo o seu pequeno sorriso. Percebi que não me queria assustar.

- Não acredito que fizeste isto filha? O que é que tinhas na tua cabeça? - Ela questionou e enquanto isso eu limitava-me a observar a expressão destroçada do meu pai ao desviar o olhar de mim para a parede ao seu lado.

- O Michael, mãe ele morreu... - dialoguei ainda em choque.

- Ele está num lugar melhor. - O meu pai murmurou.

- Era aí que eu devia estar. - Suspirei e o meu pai lançou-me um olhar compreensivo enquanto a minha mãe rapidamente apertou a minha mão e olhou para mim de uma maneira estupefata.

Uma das razões que amava o meu pai era que apesar de tudo ele conseguia e tentava sempre compreender-me mesmo que fosse para lá dos seus horizontes enquanto a minha mãe não.

Eu sabia o que tinha. Querer morrer; Ansiedade; Tristeza eram todos sintomas disso.

- Filha vais ter que ser internada por alguns meses aqui, até ficares boa. - declarou a minha mãe calmamente.

Eu simplesmente não protestei porque eu sabia que precisava de ajuda a lidar com a minha dor ou talvez fosse a minha dor que precisasse de lidar comigo, nunca compreendi isso muito bem.

- Mãe, podes-me deixar sozinha com o pai por uns momentos? - pedi e ela simplesmente acenou que sim enquanto beijava a minha testa e elevou-se da cadeira paralela á minha cama e saiu do quarto.

O meu pai rapidamente se aproximou e ficou a olhar para mim. Eu simplesmente lhe esbocei um pequeno sorriso.

- Tu eras cheia de vida. Porque é deixas as coisas tóxicas corroerem-te, minha filha? - ele murmurou ao passar levemente a mão pela minha bochecha.

Senti lágrimas a nascer nos meus olhos com as suas palavras. Eu gostava de coisas ácidas por mais que me corroessem, faziam me sentir viva.

- Cresci pai. - Sussurrei e vi o pequeno sorriso que ele fez antes de afastar o seu olhar de mim.

Ele ficou ali por uns momentos a controlar as suas lágrimas antes de olhar novamente para mim. Pousou um beijo na minha testa e rapidamente saiu.

Naquele momento tinha-me apercebido do meu pior terror. Se morresse o meu pai não teria mais ninguém.

Ajeitei-me por entre os lençóis enquanto o imaginava.

A morte era algo egocêntrico, tudo o que importava era nós, nós e a nossa dor. Apesar da revelante dor que iria ser causada na falta da nossa presença, continuava a ser um bem maior racional.

CRITICAL HEARTS • awgWhere stories live. Discover now