3 - Zack

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Ainda me lembro o que aconteceu naquele dia, estava a chover naquela noite e eu não conseguia fechar os meus olhos.

Jack ressoava na cama ao lado e eu só queria lhe enfiar alguma coisa na boca aberta por onde ele deitava esses sons quase inumanos que ecoavam pelo nosso quarto.

Eu sempre adorei chuva, mas quando me encontrava sozinha e a mesma me fazia companhia ganhava a tendência para a odiar amargamente. Pois tal como o som que a mesma criava ao fluir pelas janelas, assim os meus pensamentos a seguiam.

Virei-me na minha cama para que pudesse observar a foto que tinha encostada contra o pequeno cadeeiro de pé que se encontrava do meu lado. A minha cara estava concentrada na Cameira pois tentava segura-la para que pudesse tirar a pequena polaroid que resultava dela.

Michael olhava para mim como se estivesse a ver uma obra de arte. Os seus olhos verdes acinzentados encontravam-se brilhantes a olhar para mim enquanto o mesmo tinha um pequeno sorriso nos lábios ao faze-lo.

Reconheci a maneira como ele me olhava naquela fotografia, a mesma como tu havias feito quando entraste no meu quarto de hospital. Tapei o pequeno sorriso involuntário que soltei com as minhas mãos para rapidamente sentir as lágrimas a escorrerem-me pelos olhos.

Elevei-me da minha cama, andando em direção a pequena casa de banho que tínhamos no quarto. Parei a frente do espelho sobre os lava loiças, observando as minhas feições.

Os meus olhos azuis com olheiras vincadas na minha pele pálida, o meu cabelo loiro escuro despenteado que percorria as minhas costas, até a minha cintura.

Como é que o Michael podia gostar de algo assim? Eu não via nada para além de defeitos que o espelho retorcia na minha mente.

Comecei a olhar a minha volta, tentando parar as lágrimas que saiam dos meus olhos. Olhei para o chão apercebendo que se encontrava algo por debaixo do móvel. Abaixei-me, pondo os meus dedos finos por entre a pequena ranhura que o separava do chão.

Senti algo frio e rapidamente a puxei para ver uma pequena tesoura. Olhei confusa para mesma, mas rapidamente me veio à mente que a mesma talvez tenha sido trazida as escondidas por alguém. Pousei-a sobre o tampo de granito que constituía o móvel enquanto mais uma vez observava o meu reflexo no espelho.

Lembro-me do Michael dizer o quanto gostava do meu cabelo e de como em setembro me ter dito que o azul me ficava bem porque fazia os meus olhos azuis destacar. Cada vez que olhasse para o espelho, eu iria lembrar-me das suas palavras e a verdade era que não queria isso.

Peguei na tesoura para rapidamente a levar de encontro ao meu cabelo do lado direito, mas como as suas lâminas eram muito pequenas, o cabelo caia aos meus pés em pequenas mechas.

Comecei a pegar em pequenas madeixas do meu cabelo, cortando-as mais rapidamente. Enquanto o fazia soluços saiam da minha garganta enquanto tentava controlar que mais lágrimas do que as que escorriam pela minha cara, caíssem ainda mais.

Relâmpagos começaram a soar no exterior ao bater no telhado com um estrondo, parte de mim ficou feliz como se neste momento a mãe natureza quisesse chorar comigo neste momento.

A tesoura caiu das minhas mãos, o tilintar que produziu no chão aos meus pés enquanto me observava ao espelho, fez o meu coração acelerar. O meu cabelo dantes longo, agora estava transformado num monte de cabelo curto e incerto que chegava a meio do meu pescoço.

Agora sim, estava horrível. Ninguém ia querer nada comigo e eu também não queria nada com ninguém.

- Quem é que queres enganar, Lindsley? - questionei para mim própria.

CRITICAL HEARTS • awgWhere stories live. Discover now