Prologue

188 14 2
                                    

Eu me lembro claramente do dia 12 de dezembro de 2002.
Fazia frio, todas as crianças estavam recolhidas em casa, murmurando de desgosto. Exceto eu, que andava pelo quintal jogando bolas de neve para todos os cantos.

Meus pais estavam brigando, de novo. Eu podia ouvir o papai quebrando pratos e garrafas enquanto a mamãe implorava para que ele parasse. Minha irmã, Rosa, chorava e gritava desesperadamente. Eu apenas jogava bolas de neve.

Então, quando estava próximo da hora do almoço, a garota Grace saiu de sua casa, com o nariz vermelho e os cabelos loiros bagunçados. Ela olhou para os lados e pousou seu olhar sobre mim.
Tenho certeza que fiquei vermelho na hora.

Ruby atravessou a rua e caminhou em minha direção, me surpreendendo.

-Oi, Nathan. É esse seu nome, certo? -assenti- Eu o vi brincando sozinho. Parece preocupado. Quem sabe não precisa de uma companhia?

Esse foi o começo da minha única amizade verdadeira.

Anos se passaram, Ruby e eu éramos um pouco menos crianças. Entretanto, nós dois tínhamos feito um acordo. Juramos estar com o outro sempre que fosse preciso. Seja por uma dor de dente, um joelho machucado, pesadelos, frio ou problemas familiares. Eu estaria com ela e ela comigo.

Nunca pensei em quebrar a promessa, eu sequer tentaria. Mas Ruby tentou. Ruby quebrou a promessa.

***
Os pais de Ruby eram dois professores bastante elogiados. Tinham duas filhas, Ruby e Mia. De longe, aparentavam ser uma família feliz e organizada. Apenas eu sabia como eles realmente eram.

O pai dela, Jacob Grace, era viciado em trabalho. Passava horas estudando e saindo para estudar mais. Bem, era o que ele dizia. De acordo com Ruby, ele traía sua mãe com uma aluna de 17 anos, chamada Stella Johnson. A esposa dele sabia, mas pelo bem de sua família, fingia não saber.

A mãe dela, Mariah Grace, afundava sua mágoa na bebida. A mulher descontava o ódio pelo marido nas filhas, que viviam com hematomas. Ruby tinha medo dela.

Mia Grace tinha seus 20 anos e não se dava bem com Ruby, que também tinha medo dela.

Ruby era uma garota incrível. Parecia fraca, mas era ela que me fazia ser forte. Apesar de tudo, nada parecia abalar ela. Isso era o que mais me impressionava.

Bem, foi o que ela fazia parecer.

***
Na véspera do aniversário de 17 anos de Ruby Grace, vi minha irmã levar chutes do meu pai. Minha primeira reação foi correr para longe de casa e em seguida, liguei para ela.

Ruby apareceu depois de alguns minutos, trazendo doces para nós. Ela me abraçou e então disse:

-Sabe, amanhã eu faço 17 anos. A gente poderia fugir, Nathan. Para bem longe daqui. A gente arranja algum dinheiro de alguma forma. Você sabe que o nosso lugar não é aqui.

-Para onde iríamos, Ruby?

Ela tragou seu cigarro e olhou em meus olhos

- Para o outro lado. O que está longe do nosso alcance agora.

Naquela hora, não entendi o que ela quis dizer. Ela também não quis explicar.

-Nathan, eu irei primeiro pra esse lugar. Amanhã, ok? Eu estarei te esperando lá. Você vai assim que fizer 20 anos. Não antes disso e nem depois.

-Faltam três anos, Ruby. Por que acha que eu suportaria três anos longe de você?

Ela sorriu pra mim.

-Eu vou estar sempre aqui. -ela colocou a mão em meu peito e em seguida, na minha cabeça - E aqui também.

Antes de irmos embora, passamos alguns minutos abraçados, com os olhos fixos um no outro.

-Eu te Amo, Ruby Grace. Por favor, não me deixe.

-Nathan, a gente prometeu, lembra? Eu não vou deixar você. Seja forte, garoto.

E então voltamos para casa.

As coisas pareciam calmas, então apenas deitei e dormi.

Às 10h34min do dia seguinte, os pais de Ruby Grace gritaram desesperados por ajuda.

Não soube como, mas ela se foi. Me disseram sobre uma carta, que eu nunca li. Os outros diziam que ela havia morrido, mas eu sei que Ruby Grace não faria isso.

Ela jamais quebraria a promessa.






Bloody Hands Onde histórias criam vida. Descubra agora