fifteen

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Quando fiz quinze anos, o mundo adolescente parecia estar passando por uma turbulência.

Em alguns meses, vi as roupas coloridas serem substituídas por um preto melancólico que escurecia todos os corredores da escola. Presenciei os cabelos loiros com mechas cor-de-rosa se tornarem pretos e roxos com a franja sobre os olhos. A maquiagem leve e o batom laranja fora substituído por tons escuros que me lembravam claramente hematomas.

Em meio ao mar gótico, Ruby Grace e eu nos sentíamos esquisitos demais.

Naquela época, Ruby usava vestidos xadrez, sapatilhas e penteava seu cabelo em tranças perfeitas. Enquanto isso, eu abusava de jaquetas de couro e penteava meu cabelo como um perfeito mauricinho. Nós costumávamos ser o casal aparentemente perfeito, mas psicologicamente conturbados.

Pouquíssimos meses depois, a moda era outra. Bonés gigantes, blusas curtas e calças largas.

O corredor tornava-se um desfile de moda com roupas padrões, de novo.

Mas, para Ruby e eu, aquilo não passava de uma perda de tempo.

Ser diferente na adolescência, acaba gerando bem mais conflitos do que se pode imaginar. Sendo assim, a pressão psicológica que costumávamos sofrer ia além da nossa própria casa.

O período em que tive quinze anos fora certamente o pior de toda a minha vida. Nele se iniciou o meu pesadelo.

                               ***
Meus pais se conheceram na faculdade, ambos com 19 anos. Três anos depois, nascia minha irmã. Cinco anos depois, eu nascia.

Para todos, eles pareciam um casal incrível, e certamente eram. Até Sophia Van der Melt aparecer na história.

Minha mãe confiava fortemente em apenas quatro pessoas, sendo essas minha irmã, eu, meu pai e Sophia.

Sophia, uma mulher solteira da idade de minha mãe, esbelta e incrivelmente bonita. Fez faculdade com meu pai e era de sua confiança também.

Meu pai, um homem atraente para a idade, mas frequentemente de cara fechada, costumava desaparecer todos os sábados à noite e nós nunca imaginavam os aonde ele estava. Entretanto, nesses dias minha mãe costumava ir até a porta dos fundos e depois pedia para que eu e Rosa não fossemos atrás dela, em seguida, se trancava no quarto.

Em um raro sábado, meu pai apareceu mais cedo do que o habitual. Estávamos eu e Rosa no sofá, jogando videogame. Ele nos disse oi e apenas subiu.

O que veio depois, nunca saiu de minha mente.

Em uma explosão de gritos, vi meu pai puxar duas mulheres nuas pelos cabelos por toda a escada. Reconheci Sophia e minha mãe.

Em seguida, vieram os tapas e chutes, apenas em Sophia. Minha mãe tentava fazer com que meu pai parasse, mas aquilo não adiantou.

Em minutos, Sophia Van der Melt estava desmaiada e completamente desfigurada.

Meu pai a enrolou em um lençol e a carregou discretamente até o carro. Olhou nós olhos de minha mãe e disse as palavras de ódio:

-Você é a próxima.

Com as mãos cheias de sangue, o vi entrar no carro e partir com a mulher dentro.

Nos olhos de minha mãe, pude ver desespero e arrependimento, do mais profundo.

E ela trancou-se novamente no quarto.

A partir daquela noite, vi o romance perfeito de minha familia desaparecer. Substituído por um terror frequente e agressões diárias, das quais carregarei marcas para sempre.

E aquele fora apenas o começo.

                                ***
"Nathan, Nathan, Nathan...

Se lembra de ter ouvido os boatos que circulavam sobre nós quando tínhamos quinze anos?

Todos achavam que nós dois éramos crianças perfeitamente boas mentalmente que destruíam as coisas por diversão. Eles estavam um tanto quanto errados.
Após um tempo, todos notaram que éramos perturbados. E essa é uma boa historia de ser lembrada, mesmo que ela insista em ser esquecida.

Quando fiz quinze anos, doze dias depois de você, decidi que faria com que fosse uma idade diferente. Decidi que era hora de testar minhas capacidades e mostrar a todos quem era a verdadeira eu.

Mas é claro, tive de deixar um gostinho de ameaça a eles.

Como meu parceiro de crime, contratei você. Passamos noites em claro para bolar o plano. Mas na verdade, eu nunca segui o plano.

Tudo o que a gente precisou foi de uma sala, três pessoas e um martelo.

Antes de tudo acontecer, fiz com que você se drogasse loucamente no telhado da escola e parti sozinha para a cena do crime.

As três pessoas eram perdedores que ninguém se importava muito. Mas ninguém conseguia imaginar que eles fariam falta de verdade.

Levei-os para a sala, dizendo apenas que precisava de ajuda, quando na verdade, quem precisaria de ajuda eram eles.

Não sei bem o porquê, mas usei desse lado para impressionar a todos aqueles que viam em mim uma garota medrosa e fraca.

Na segunda-feira, todos da escola encontraram três corpos desfigurados pendurados no centro do pátio. Nas paredes, as letras R.G. estavam desenhadas com tinta vermelha que eu havia roubado da sala de artes.

Por incrível que pareça, ninguém nunca afirmou que a assassina havia sido eu. Mas as suspeitas eram muitas já que eu aproveitei a deixa para desaparecer durante uma semana.

Soube que você acordara sem se lembrar de nada e tudo o que me fez foi perguntar se eu havia feito algo.

A resposta foi simples. Sim, Nathan, eu fiz.

As vítimas foram Sandy Jackson, Mike Thompson e William Montez. Talvez eles jamais tivessem recebido a atenção que receberam se não tivessem mortos.

Eu lamento, Nathan, por não ter o juntado em meus planos reais. Eu não suportaria ver sangue em suas mãos."

                            ***
O que Ruby não sabia na verdade, é que havia muito sangue em minhas mãos e ainda há, já que aparentemente eu nunca serei capaz de limpá-lo.

E sim, Ruby, eu também me lamento por não ter te juntado aos meus planos. Acho que somos ambos inocentes demais para perceber quem é pior aqui.

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