River

83 5 2
                                    

Desde que nos tornamos amigos, nos metemos em várias encrencas e fizemos várias coisas pela primeira vez. O único padrão era o fato de Ruby ser mais forte que eu, em tudo. Às vezes penso que ela não demonstrava nada para não me magoar. A única vez que vi Ruby Grace triste foi após a sua primeira decepção amorosa.

Ela estava completamente apaixonada por um garoto que havia conhecido no verão e eles estavam juntos por um tempo. A todo momento o assunto era ele e tudo o que ela fazia era para ele. Até ela descobrir que ele a traía com uma garota de outra cidade.

Ruby chorou em meus braços por horas, até perceber que aquilo não levaria a nada. Então ela falou:

-Vamos para uma festa. Beber loucamente pela primeira vez e esquecer tudo de verdade. Topa?

Foi assim que ela me arrastou para uma festa numa cidade vizinha, para bebermos escondidos com 14 anos.

Eu nunca fui fã de fazer coisas erradas, mas eu sempre fiz de tudo para vê-la bem. Então apenas concordei e nós fomos.

Um tempo depois, chegamos a festa.

Nunca a vi tão desligada como nesse dia. Ela parecia não saber exatamente o que fazer para se sentir melhor, então qualquer desafio que aparecesse, ela cumpria.

Logo que o sol começou a nascer, ela me pediu para voltar. Então eu a ajudei a caminhar de volta para casa.

-Nathan... -ela resmungou e quebrou o silêncio

-Sim?

-Não quero ir para casa. Vamos ver o sol nascer em algum lugar e depois voltamos.

Demos meia volta e caminhamos até um parque aonde poucas pessoas assistiam o nascer do sol deitadas na grama.

Achamos um local afastado e nos deitamos também.

Ruby estava deitada em meus braços, com a respiração pesada.

-Ei, Nate. -olhei para ela e vi seus olhos azuis brilhar

-Ei, Ruby. -sorri fraco

-Eu deveria parar de procurar o amor aonde ele existe. Certo?

-É, acho que sim.

-O amor está bem ao meu lado. -ela sorriu

-Ao seu lado? Como assim?

-Você é o meu amor, Nathan.

E logo em seguida, seus lábios tocaram os meus. Pude sentir um gosto amargo de alguma bebida, mas isso não tornou o beijo ruim. Minhas mãos passeavam em seu cabelo e as suas me puxavam para perto, como se jamais me quisesse longe dela.

Depois de algum tempo trocando beijos e carinho, adormeci com Ruby em meus braços.

Por algum momento, pude sentir meu coração bater rápido e eu desejei que aquilo nunca acabasse.

Entretanto, aquilo acabou.

                               ***
"Nathan, você se lembra de nossa primeira festa?

Eu tinha acabado de me magoar profundamente e desejei ficar bem imediatamente. E graças a você, pude estar.

Lá, demos o nosso primeiro beijo de alguns. Não acho que isso seja muito comum entre melhores amigos, mas se tornou comum entre nós.

De algum jeito, só ficávamos realmente seguros quando estávamos juntos.

Na verdade, sinto muito por ter te deixado sozinho naquele parque, mas eu precisei fazer algo por mim, sozinha.

Eu nunca poderia aceitar uma traição gratuitamente. Algo dentro de mim me dizia que eu deveria me vingar de alguma maneira.

Após sair daquele parque, fui até a casa dele.

Um casarão branco, com um jardim colorido na frente e vários carros na garagem. Reconheci a janela do quarto dele e me escondi para ver o que aconteceria.

Com um celular emprestado de um amigo, mandei uma mensagem para ele, pedindo que fosse até um rio perto da casa dele, aonde a gente costumava se encontrar.

Disse a ele que precisava mostrar algo a ele, mas não disse exatamente o que e quem era. O ponto de encontro, uma passarela na beira da parte mais funda do rio.

Alguns minutos depois, o vi sair pela porta da frente e ir ao lugar marcado.

Esperei um tempo para segui-lo e então preparei a cena do crime.

Assim que ele chegou na passarela, caminhei até ele, que ficou sem entender.
E então eu mostrei para ele. Sabe o que? Mostrei-lhe o que sou capaz de fazer.

E foi assim que Luke Monroe morreu.

Afogado num rio próximo a sua casa, com o pescoço cortado superficialmente, mas o medo estampado no rosto.

Sabe, Nathan, eu não consegui me arrepender do que fiz. Acredito que a vida tenha me usado para mostrar a ele que nada é feito de graça e que ninguém sai impune nunca.

A única coisa que me arrependo, Nathan, foi ter deixado você lá sozinho. O único mal que fiz foi a você e espero que me perdoe por isso.

Agora espero que Luke esteja traindo outras no inferno."
                            ***
Me lembro da repercussão da morte de Luke. E Ruby atuou tão bem fingindo preocupar-se com a situação.

Talvez não fosse mentira. Ruby se preocupava sim, mas não com o pobre garoto. Mas sim se a vingança dela tinha sido tão boa para o que ele havia feito para ela.

E mais uma vez, não reconheci a Ruby que para mim escrevia. Aquela não era a minha Ruby.

Aquela era simplesmente Ruby Grace por debaixo do tapete.

Bloody Hands Onde histórias criam vida. Descubra agora