ATENÇÃO: HISTÓRIA BASEADA EM FATOS REAIS!!!
Novembro de 2015:
Eu estava voltando de uma consulta, quando dei sinal para um ônibus. Entrei, passei pela catraca e sentei-me ao lado de uma senhora. Naquele dia, eu havia esquecido meus fones, estava quase entrando em colapso por causa da barulheira quando escutei uma voz ao meu lado:
- Sabe... eu estou indo para o velório da minha mãe. - sua voz era suave, e bem falhada também. Eu olhei para o lado e ela realmente estava falando comigo. - Eu sinto muito. - Respondi.
Ela apertou suas próprias mãos, e me agradeceu. Continuei a olhar para a frente do ônibus, tentando entender o porquê ela havia falado aquilo, talvez para desabafar.
- Minha mãe tinha Mal de Alzheimer, sabe o que é, filha? - Ela chamou-me novamente.
Olhei para os lados e mexi a cabeça em resposta a um sim.
- Meus pais tiveram uma briga tão feia quando eu era jovem assim igual a você. Quando eu me casei, minha mãe não foi por causa dele. Nas festas de aniversários dos meus dois filhos, só podia aparecer um. A situação foi ficando cada vez mais feia. - Ela Desabafou.
Eu não disse nada. Bem, não tinha muito o que dizer, só fiquei prestando bastante atenção em sua história que mais parecia um grande desabafo.
- Eu sofri muito com isso... e meus filhos também. Os dois não se falavam por nada, nada os fazia se verem. Parecia que um havia morrido para o outro. Os dois se separaram nos papéis quando já tinham 35 anos de casados. - Ela olhou para baixo, e continuou: - Até que, minha mãe foi ficando estranha.
- Estranha como? - Foi minha primeira pergunta, e para minha surpresa ela respondeu na hora: - Começou a esquecer pequenas coisas. Como: onde tinha deixado tal coisa, onde tinha comprado, o que havia comido e etc. Depois, foi esquecendo nomes, parentes... e amigos.
Eu arregalei meus olhos, e ela abriu um sorriso e disse: - Você vai poder escrever sobre isso, jovem. Vai gostar do final. Continuando, minha mãe esqueceu dos próprios netos! Eu tinha que ficar lembrando seus nomes toda hora.
"Como ela sabia que eu sou escritora?" pensei.
- Ela já era de idade, então levei-a no médico. O Dr. Júlio recomendou alguns exames, e ela foi diagnosticada com o tal do Alzheimer.
- Então ela descobriu cedo? - Eu respondi.
- Nem tanto, mocinha. Isso foi há uns 7 anos atrás. Quando nós descobrimos, alguns hábitos foram mudados, minha mãe passou a morar comigo. Mas meu pai nunca visitava-a. No mês retrasado, ele me ligou. Disse que queria passar em casa para tomar um café comigo. Eu disse que ele podia, e avisei minha mãe que ele estava lá para ela não sair do quarto. Só que... - ela fez uma pausa dramática.
- O que aconteceu? - Eu falei inquieta, querendo saber o desfecho.
- Para a nossa surpresa, minha mãe disse: "Vou me juntar a vocês, filha. Assim falo para seu pai que ele esqueceu os ovos ontem." Eu fiquei sem entender nada, até que ela começou a se levantar e vestir-se. Eu parei em sua frente e falei bem assim: "Mãe! É o pai. É ele que está na cozinha conosco!" Ela me empurrou levemente e respondeu: "E você acha que nasceu como? Relaxa, não faremos nada na sua cozinha." Eu não pude conter uma risada, e deixei ela ir para a cozinha.
- Como assim? O que? Mas... - eu ia dizendo quando ela me interrompeu:
- Quando ela apareceu, meu marido, meus filhos e meu pai ficaram com o queixo caído, que devem ter saído rolando escada abaixo. Meu marido me repreendeu com os olhos, e eu disse baixinho: "Ela que quis". Minha mãe deu de ombros e falou: "Por que pararam de comer com minha presença? Eu sou tão bonita assim?" Ela dirigiu-se ao lado de meu pai, rindo, e sentou. Deu um beijo em sua bochecha e falou: "Meu bem.". - Ela terminou suspirando.
Eu fiquei maravilhada, mas sem entender muito. Logo, ela continuou:
- Dias depois, minha mãe piorou. Ela só conseguia lembrar que era casada com meu pai, mas da briga e dos anos que passaram ela esqueceu completamente. Eu consultei o Dr. Júlio e ele disse que nem sabia como isso era possível. Mas parece que essa parte terrível da minha mãe, foi bloqueada. Minha mãe começou a clamar pelo meu pai, e ele atendia, ele gostava mesmo dela, porque ficou com ela em cada último segundo. Ela foi esquecendo tudo... até de mim. E ele ia ajudando ela a se lembrar do casamento dos dois, dela grávida, da primeira casa, na época da escola... tudo ele foi "apresentando a ela."
Dois meses depois, ela teve uma crise e foi para o Hospital, teve de permanecer por lá, sabíamos que era o seu fim. Mas ela estava lutando... teve um dia que eu estava com ela em seu quarto, e meu pai entrou trazendo rosas vermelhas, que eram as suas preferidas. Eu me afastei um pouco, mas conseguia vê-los e ouvi-los, meu pai disse que a amava, e ela respondeu assim: "Carlos Alberto, eu não lembro muita coisa, mas lembro seu nome, lembro nosso primeiro beijo, lembro das nossas noites, e de algumas partes da nossa vida. Eu te amo, e vou levar comigo o que sobrou aqui." Minha mãe morreu em seguida.
Só pude ouvir os médicos falando alto e correndo com ela para outro andar.
- A senhora não pode conter uma lágrima, e eu também não. Afinal, que história linda, não?
Ela me pediu licença, e levantou para descer em um ponto. Já de pé, me falou: "As vezes, alguns males são necessários, mas o mais importante é entende-los depois. Fique com Deus. E escreva sobre isso." Ela desceu em seguida.
Eu fiquei com meu queixo caído também. Não sabia se chorava ou se sorria. Como, mas como ela sabia que eu sou escritora? Até que olhei para o meu celular e meu blog estava aberto para editar. Ok, ela viu e deduziu que eu era escritora. Mas... será?
Enfim. Que história de tirar o fôlego! Eu faria até um filme sobre isso. Quando cheguei em casa, escrevi esse texto. O que me deixou bem impressionada foi o fato de que ela só faleceu quando ele entrou no quarto. E só a doença foi capaz de fazer eles voltarem a se falar. Podia ser qualquer outra, mas o Alzheimer fez com que ela esquecesse a briga dos dois.
Ela foi verdadeiramente em paz. E a frase da senhorinha no ônibus diz tudo. Quando entendemos o porquê dos momentos ruins existirem, a gente vê o quão eles foram necessários.***
Boa noite gente! Gostaria de pedir desculpas pela demora em escrever um capítulo. É que eu trabalho em loja, e dezembrão é bem hard. Mas enfim, essa história realmente é um fato real, que eu tive a sorte de conhece-la. Essa experiência, foi incrível. E queria passar para vocês.
Espero que consigam se inspirar com essa história linda.
Beijinhos, Leeh. ❤
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Devaneios entre linhas (PRÉVIA)
Short StorySabe quando você lê um livro/texto e pensa: "Meu Deus, isso me descreve!" e passa a ser inspirado(a) por aquilo que acabou de ler? Ou quando, você é motivado(a) a acreditar nos sonhos, nos seus princípios, em sua crença, na forma como vive, nos seus...