Capítulo 2

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-Você é muito burro, Rick. Fez a pior coisa que um gay pode fazer, se apaixonar por um hétero...

-Quem disse que me apaixonei por ele?

-Dá pra ver nos seus olhos que sim.

Minha amiga Lorena estava certa, mas nunca, sob hipótese alguma, eu iria admitir isso em voz alta. Já era doloroso demais que te aceitar pra mim mesmo que tinha caído na maior armadilha para um gay assumido, apaixonar-se por um encubado.

-Toda vez que vocês vão pra cama, e depois ele te dispensa, você fica assim murcho, apagado, parece que ele suga sua vida. Será que não é hora de você colocar um basta nessa situação? Você é lindo, aposto que se procurar direito encontrará o cara certo e que te dará o que você tanto busca. – Ela voltou a discursar e me parecia bastante preocupada.

-É eu sei, mas ás vezes eu fico pensando que ele pode mudar, sabe, ele sempre me procura, você não acha que tem um motivo pra isso?

-Que motivo? – Ela me perguntou arregalando os olhos. – Amor? Ah Henrique, me poupe! Aquele ali não ama ninguém, só a si mesmo.

Afundei mais minha cabeça no travesseiro e desejei que ele me engolisse por bastante tempo para que eu não pensasse mais nisso. Lorena era minha fiel confidente quando o assunto se tratava do Lipe, mas poderia falar que ela não era muito fã dele, grande parte disso pelas coisas que eu lhe contava. Sua voz melodiosa escondia a verdadeira raiva que ela sentia em ter que, pela milésima vez, me falar que ele não ligava pra ninguém a não ser si mesmo e que eu precisava parar de sofrer e me lamentar por alguém que não merecia.

Tínhamos acabado de acordar, depois de uma longa noite em que ela trouxe filmes e pipoca pra gente se distrair, e ainda não tínhamos tido a coragem de levantarmos. Olhei bem pra sua pele sedosa cor de chocolate e seu cabelo encaracolado armado e pensei o quanto era sortudo em tê-la na minha vida. Lorena era um tipo de pessoa centrada, focada, alegre, madura apesar da idade e que, ás vezes, colocava o problema dos outros na frente dos seus próprios problemas. No dia em que ela teve que se sentar comigo na lanchonete da universidade por falta de lugar, eu soube imediatamente que ela seria minha eterna amiga. Hoje, mais de três anos depois, nós dividíamos tudo, inclusive a cama pra dormir.

-Olha, eu preciso voltar pra casa. Meus pais estão se separando e você pode imaginar a bagunça que está por lá.

Ela voltou a falar se levantando e colocando a roupa, tinha ido dormir apenas de calcinha e sutiã.

-Que chato. Talvez eles ainda mudem de ideia.

-Que nada, eles se separarem foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, ninguém aguentava mais tanta briga. O problema é que agora eles estão brigando pra ver quem fica com o que, então é melhor voltar antes que meu pai quebre o jarro "importado" da minha mãe na cabeça dela. Obrigada por me deixar passar a noite aqui, foi bom dormir agarradinha contigo e falar bobagens. Aliviou um pouco do estresse.

-Só não se acostuma, e muito menos se apaixone. – Brinquei me vestindo também e a acompanhando até o portão pra que ela pudesse pegar sua moto e sair.

-Tá maluco. Você sabe que meu negocio é outro.

Abri o portão, dei passagem pra que ela passasse e saí também pra me despedir melhor. Por puro costume, meus olhos passaram vagamente pela frente da casa do Lipe, me arrependi desse ato imediatamente. Ele estava lá, sentado no muro, com uma bermuda folgada e sem a camisa. No meio das suas pernas e sugando sua boca estava a vagabunda da rua de baixo que nas ultimas semanas vinha dando em cima dele, era quase uma cena de sexo explicito no meio da rua, chegava a ser ridículo o que eles faziam. Pisquei mais algumas vezes pra ter certeza de que não estava imaginando aquilo, mas infelizmente não foi o suficiente pra tudo se apagar e percebi que era verdade. Ele me viu parado ali, fingiu que não e continuou o que estava fazendo, minha presença simplesmente não ia impedi-lo de continuar, isso estava claro.

Será Que Vou Conseguir Te Mudar?Onde histórias criam vida. Descubra agora