Capítulo 17

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Acordei meio que assustado no dia seguinte. Queria saber o que tinha sido aquilo: se tinha sido um vulto, um fantasma ou o Ícaro. Parecia muito com o Ícaro...! Mas como já falei pra vocês, foi apartir daquele “sonho” que tudo entre mim e ele mudou. Apenas mudou.

Levantei-me e, pelo apê, não o vi. Fui ao banheiro, tomei um banho e reparei em uma coisa interessante: o chão, perto do lixeiro, estava com gotas de sangue, e eram muitas. Fiquei espantado. Coloquei uma roupa e fui ao quarto do Ícaro. Ele dormia profundamente. Andei por ali e não vi nada que levasse ao sangue do banheiro. Achei, de primeiro, que ele tivesse se machucado lá, mas não foi nada disso...

Dan me mandou uma mensagem, pedindo para se encontrar comigo num parque próximo do meu condomínio. Fiquei com um pouco de receio, mas aceitei. Ele precisava saber, e entender, de verdade, o que tinha rolado com aquelas mensagens. Ícaro ainda não tinha acordado, então aproveitei a oportunidade. Seria melhor ir de manhã cedo do que mais tarde, onde o Ícaro estaria acordado e me encheria de perguntas. E eu não estava a fim de responder nenhuma.

Fazia tempo que eu não saía de casa pra dar uma volta, ter um tempo só pra mim e tal... Naquele dia, tive essa sensação de novo. Aquele era um parque muito lindo, com pessoas alegres brincando, carrinhos de algodão doce, carrinhos de pipoca, famílias brincando com cachorro... Um parque com vida. Dan estava lá no último banco, longe de tudo isso, e era melhor assim. Avistei-o e fui até lá.

Dan me olhou e disse tudo só fazendo isso. Era um olhar doce, apaixonado, cheio de vontade... Ele se levantou, me olhou nos olhos e me abraçou. O abraço foi idêntico ao olhar: cheio de vontade. Abraço apertado, não dava vontade de sair dele. Dan, como sempre, estava cheiroso, e aquilo me deixava maluco, me fazendo dar beijos em seu pescoço. Sentamos no banco.

– Ainda bem que você veio, cara. Queria muito saber sobre aquelas mensagens que você me mandou...

– Não, eu mandei errado. Você sabe disso. Já te falei.

– Eu não consigo acreditar nisso, Théo. Você disse coisas com ódio, me ofendendo... Porque isso?

– Acredita em mim, Dan. Não foi por querer. Te mandei por que eu me confundi. Ia mandar pra outra pessoa. Isso acontece com todo mundo.

– É difícil de acreditar, sabe? Você sempre deixou claro que não quer uma coisa séria, séria mesmo, comigo e depois chega essas mensagens...

Aquelas palavras me deixou tocado, sem saber bem qual seria a minha resposta. Ele tinha razão: em tudo o que eu falava pra ele, não deixava transparecer uma coisa fixa se queria ou não tê-lo pra mim. Mas fazia isso porque não podia fazer isso. Tinha o Ícaro. Ícaro era mais importante pra mim.

– Você vai acreditar em mim ou não, Dan?

– Tomar uma decisão agora, de imediato, é bem difícil, cara. Não sei se quero acreditar em você! Você e eu temos coisas boas, rola um sexo bom, mas você não me dá segurança. Parece que só eu quem gosta de você. Você não retribui nada.

– Cê tá falando tudo isso porque eu mandei uma mensagem errada, Dan?

– Você acha que é só por isso?

Ele se levantou e saiu. Mano, não entendi nada do que tinha rolado. Ele justificou em uma mensagem a vontade dele de terminar comigo? Sim, pensei que tivesse sido isso, porque eu não me tocava que eu não dava a ele o mesmo carinho que eu recebia. Pensei que o problema todo tinha sido a mensagem, mas eu não abri os olhos enquanto a isso. Dan tinha ido embora e nem tinha olhado pra trás.

Demorei um pouco digerindo essa história ali no banco e fui embora do parque. Fui pra casa pensando na minha vida. Poxa, eu estava triste pelo Dan, mas não ia fazer sentido se eu ficasse com ele com o Ícaro morando na minha casa. Como a gente ia fazer? Namorar a distância é ruim demais, e o Ícaro não estava ali pra me ver namorando.

Comecei a perceber uma coisa naquele momento: Ícaro estava me empatando em tudo. Estava empatando a minha vida, as minhas coisas com o Dan, minha felicidade... Ou a minha felicidade era ao lado dele e eu não sabia???

Já em casa, tirei toda a minha roupa e me joguei na cama. O frio do meu quarto era a coisa que eu mais precisava no momento. Eu ainda não tinha trocado os lençóis da cama, todos estavam com um cheiro delicioso e maravilhoso de suor, suor do Dan...

Notei que o Ícaro não tinha acordado ainda e estranhei muito. Ele costumava acordar cedo e sempre via TV pela manhã...

Fui ao quarto dele e confirmei: ele ainda dormia. Dormia como uma pedra, por sinal. Em seu braço esquerdo, que estava apoiado à cabeça, eu percebi um corte, e era recente. Liguei os pontos e vi que o sangue do banheiro era dele. Fiquei desorientado. Pra quê o Ícaro tinha se cortado? Ou tinha sido algum acidente? Tinha que esperar ele acordar pra perguntar o que tinha acontecido com ele. E eu também ia perguntar sobre a poça de “líquido branco” que tava na minha porta. Eu sabia que ele ia ficar constrangido com isso, mas essa era a minha intenção.

Na cozinha, tomei um suco natural pra refrescar e fiquei esperando o Ícaro acordar para encará-lo. O telefone tocou e eu fui atender. Fui pensando que era o Dan, mas não.

– Alô?

– Alô... Quem fala é o Théo?

– Sim, sou eu. Quem é?

– Sou eu, cara, o Jorge. Você lembra de mim?

De repente, não lembrei. Precisei de uns segundos para me lembrar daquele cara lindo que eu tinha conhecido na balada. Tínhamos trocado os nossos números, mas eu “me esqueci” de ligar pra ele.

– Opa, Jorge... Lembro, sim, mano! Claro que eu lembro! Como vai?

– Tô bem... Te liguei porque eu acho que te vi na rua agora... Sei lá!

– Aonde?

– Numa praça, perto de casa. Tava vindo pro trabalho e te vi. Não consegui resistir e liguei... Depois daquele dia que a gente se curtiu na balada, não quis ligar pra você, e sim esperar você ligar, mas hoje não agüentei...

Juro que fiquei sem resposta. Mais um na minha vida, Deus...

Fiz meu amigo hetero se apaixonar por mim....Onde histórias criam vida. Descubra agora