Apocalypse | Em Revisão

03 - Sehun, o conselheiro

O motel em que estavam tinha uma boa localização, em relação aos zumbis. Nos dias em que ficaram lá, a presença de mortos foi pouca. Exceto pelos que entravam pela saída de esgoto do motel que estava completamente aberta e era grande o suficiente para um grupo de pessoas atravessar em fila. Era o risco que eles estavam correndo e a melhor opção foi ir embora, não tinham material para consertar, sem contar que precisariam ir muito longe para buscar comida, quando as reservas do lugar acabassem.

Arrumaram tudo, pegaram alguns lençóis e toda a comida que acharam por lá e não estava estragada e então seguiram em frente. Depois de algumas horas, encontraram um posto de gasolina, que, surpreendentemente ainda havia alguma gasolina escondida numa salinha embaixo do posto. Abastecerem e montaram acampamento ali mesmo.

Quando saíram na manhã seguinte, Sehun fez questão de explodir o lugar, já que não havia mais nada lá. Chanyeol era contra a ideia, mas não era como se fosse conseguir convencer Sehun do contrário. Enquanto via o lugar em chamas, ele sorria.

— Por acaso você quer ser o Joker ou algo do tipo? — Perguntou Kai.

— Talvez... — Sehun sorriu maliciosamente. — Veja do meu ponto de vista: o mundo já tá fodido mesmo, não custa nada a gente foder ele mais um pouco.

— Tá entendemos que você é completamente louco Sehun. Agora temos de sair daqui. A explosão já está atraindo os zumbis. — Chanyeol falou entrando no carro.

Enquanto seguiam na estrada, o carro em total silêncio, com exceção do barulho do motor e então Sehun falou:

— Chanyeol, posso te fazer uma pergunta?

— Perguntar até pode, se eu vou querer responder é outra história.

— Quando você e o Baekhyun vão parar com esse drama de novela mexicana e vão ficar juntos de uma vez? — Sehun, curto e grosso, como sempre.

Chanyeol olhou para o outro, como se não entendesse absolutamente nada.

— Não se faz de desentendido não porque ambos sabemos do clima que rola entre vocês dois.

— Como você mesmo disse, esse mundo já está bem fodido, então não preciso de um relacionamento para atrapalhar tudo.

— Acredite em mim, ficar negando isso que há entre vocês é o que realmente vai te atrapalhar. Você tem que seguir seu coração. Tem de fazer isso dar certo. Não pode simplesmente jogar uma granada e acabar com tudo.

— Disse o cara que gosta de dar uma de Joker do Batman. — Falou Chanyeol ironicamente.

— Chanyeol, escuta o que eu tenho pra te dizer por que eu não vou repetir: se tem uma coisa que eu aprendi com esse mundo de merda em que vivemos é que você não pode perder tempo. Pode parecer que temos todo o tempo do mundo mas a verdade é que não temos! A qualquer momento você pode ser mordido e morrer; se cortar, ter uma infecção e morrer; levar um tiro, sofrer um acidente de carro ou qualquer porra. Não somos imortais. Temos de aproveitar cada segundo que temos de vida. Se antes podíamos morrer num estalar de dedos, agora a chance umas cinco vezes maior. Então, siga seu coração. Se ele te disse pra ficar com o Baekhyun, então que seja, você sabe melhor que ninguém que não precisa ser hétero para ser forte. Você só precisa ser forte. Ninguém aqui irá te julgar só por que você prefere um pau. — Sehun riu. — Quem somos nós para te julgar por isso. A vida é sua. Então, aproveita ela.

Sehun virou o rosto para a janela, e fixou o olhar em algum ponto distante, enquanto Chanyeol continuava dirigindo. Sua mente trabalhava a mil, refletindo sobre o que Sehun acabara de lhe dizer.

— Sehun, só por curiosidade, você nunca disse o que fazia antes do apocalipse.

— Eu era psicólogo.

Eles pararam à beira da estrada naquela noite. Fizeram uma fogueira e montaram as barracas. Sehun ficou com a primeira vigia. Em seguida seria KyungSoo. Ao ir até a barraca de D.O, Sehun ouviu alguns gemidos.

— E novamente, eu ficarei aqui a noite toda, por que uma certa pessoa está dando a bunda quando deveria fazer o trabalho que lhe foi designado. — Disse Sehun alto o suficiente para que D.O e Kai ouvissem.

— Faça isso Sehun, faça aquilo Sehun. Mate aquele zumbi Sehun. Suba naquela árvore Sehun e salve nossa vida. Não vamos agradecer ao Sehun por que não faz mais que a sua obrigação. Dê conselhos amorosos ao Chanyeol. Salve a vida do Suho. Fique de guarda no lugar do D.O. Tudo só cai pra cima de mim. Quando eles fazem merda, quem tem de salvar eles? Isso mesmo, o Sehun aqui! É sempre pra mim que sobra. Sempre! Eu nunca posso ter uma folga sequer.

Sehun estava na copa de uma árvore fazendo a ronda que deveria ser de D.O. Durante as noites, ele preferia a visibilidade da copa das árvores, conseguia ver à uma boa distância, com as árvores tão espaçadas.

O sniper costumava falar muito sozinho. Era quase que um hábito que do qual não conseguia se livrar. Os outros membros do grupo viam o Sehun como alguém completamente louco, mas ele era bom com armas, e estava sempre os ajudando, então, isso era um detalhe que já nem se davam mais conta. Havia sido bastante esquisito no começo, mas nada com o que não pudessem aprender a lidar graças ao convívio que o maldito apocalipse proporciona.

Antes do apocalipse, Sehun trabalhava como psicólogo. Trabalhou alguns anos, mas a loucura dos pacientes começou a lhe afetar.Lidar com as crises e problemas de outras pessoas, passou a mexer Sehun de uma forma que ele jamais imaginou ser possível.

Largou o emprego bem remunerado como psicólogo e passou a trabalhar com criminosos. Aprendeu a manusear armas de todos os tipos e com isso se tornou um grande alvo da Interpol. Agia em quase todas as áreas do crime organizado. Era um grande aliado. Mas também era muito perigoso. Ninguém que conhecera Sehun antes, diria que era a mesma pessoa.

O sniper havia ido da água para o vinho de forma extremamente súbita e inesperada, nem mesmo seu irmão havia sido capaz de notar aquilo, mas não mantinha contato com a família, não tinha amigos, amantes, nem nada.Vivia sozinho, envolto em seu próprio mundo.

Sehun colocou um olho na mira da arma e olhou ao redor. Nada. Não havia nem mesmo o som de grilos. Nem a típica luz dos vagalumes que antes costumavam viver por aquelas matas. Era como se a terra houvesse morrido junto com a humanidade.

Quando amanheceu, Sehun desceu da árvore e entregou o rifle que tinha em mãos para D.O, que saia calmamente de dentro da sua barraca.

— Bom dia pra você também Sehun. — Disse KyungSoo notando o mal humor do outro.

— Eu disse que ele iria ficar muito bravo. — Falou Kai saindo detrás de Kyung. — Mas você disse "não, o Sehun gosta de ficar sozinho, agora me fode logo" — Kai forçou um pouco a voz para tentar imitar a de Kyung, e recebeu um soco no braço por isso.

Kai selou seus lábios, e pegou o rifle da mão de D.O e saiu, indo para um ponto que achava estratégico.

Chanyeol havia acordado naquela manhã pouco antes do sol nascer. Ao sair da barraca, mesmo com a pouca luminosidade que havia, ele conseguira ver que haviam acampando no começo de uma estrada de chão. Chanyeol foi até a pick-up de Kai e pegou a moto que havia no fundo e seguiu pela estrada.

Após alguns minutos, em que a paisagem era apenas árvores e terra, Chanyeol se viu próximo à uma clareira, no meio da mata. Era uma espaço grande o suficiente para poderem fixar acampamento ali. Haveria espaço para os carros e as barracas e também para a circulação de todos. Apenas um trailer velho e sem rodas ficava de fora da paisagem completamente natural.

Chanyeol desceu da moto e andou adiante. Havia um penhasco à alguns metros da clareira. Poderia ser perigoso se tivessem crianças, o que não era o caso. Mais adiante havia um riacho, era o lugar perfeito. Poderiam usar uma corda e alguns objetos barulhentos ao redor para indicar a chegada de zumbis nas redondezas.

Chanyeol subiu na moto mais uma vez e voltou ao acampamento. Todos já haviam se levantado e estavam arrumando as coisas para seguirem a estrada. Antes que partissem, reuniu todos e contou-lhes sua descoberta, que foi amplamente aceita por todos. Seria bom parar em único lugar por algum tempo.

Kai, como estava como segurança enquanto Sehun dormia, deu algumas voltas ao redor do lugar, à procura de algum possível perigo. Com exceção de dois zumbis que caminhavam em direção ao penhasco, estava tudo limpo. Estava tudo indo bem. Bem demais.