Capítulo 4

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~Ace

Na manhã de quinta, enquanto caminho pelo corredor, minutos após chegar ao colégio, posso sentir diversos olhares perdidos me encontrarem e permanecerem em mim. A princípio, penso que pode ser impressão minha, mas não é. Eles olham, conversam entre si, riem, e então seguem as suas vidas... mas por que?
Me questiono, tendo um possível motivo em mente, mas preferindo acreditar que não se trate disso.

Me sinto perdido. Eu não sei como agir nesse tipo de situação... tudo o que penso é em me esconder. Mas onde?
De repente, sinto uma mão agarrar o meu braço e me puxar, me trazendo de volta do transe causado pelo excesso de atenção indesejada.

—O que é que está acontecendo?—Me pergunta Amber, parecendo ligeiramente preocupada e agora de braços cruzados em um canto, para onde me arrastou.

Mexo a cabeça negativamente.

—Eu não faço a menor ideia...

—A Lexi de repente tem um namorado... e você queria roubá-lo dela...—Explica, me deixando impressionado, mas não surpreso.—Só que aquela puta é a pessoa mais mentirosa desse mundo e só conseguiu convencer os idiotas...

Penso, voltando a raciocinar e percebendo que o meu coração já está acelerado e que as minhas mãos suam. Eu não quero estar nessa situação.
Antes de qualquer coisa, é preciso lembrar o que aconteceu desde o início para chegarmos até aqui. Amber sabe que essa história é uma farsa, mas ainda preciso esclarecer algumas coisas, pelo menos para mim mesmo, que já começo a me sentir culpado.

Ontem, depois da vergonha que foi aquela carona, fui para casa e esqueci daquilo tudo porque tinha muito mais coisas para pensar, e todas estas eram mais importantes do que aquela cena ridícula.
Depois de dar continuidade a edição do documentário e passar algumas horas no desconforto do meu sofá, enchi a banheira com água quente e entrei enquanto respondia as inúmeras mensagens de texto de algumas horas atrás da Daisy, ainda no mesmo dilema recorrente. Li as últimas e respondi com algo encorajador. Deixei o celular ao meu lado, no silencioso, e relaxei na banheira.
Eu só não sabia que iria adormecer durante uma hora ou um pouquinho mais.
Haviam ligações do meu pai, mensagens e até correio de voz. Quando liguei de volta, começando a ficar apreensivo, afinal, se ele tinha conversado comigo na manhã de ontem, não iria ligar de novo horas depois. Eu sabia que alguma coisa estava acontecendo.
E estava. Nas mensagens, dizia que a minha mãe estava sumida.
A princípio, os meus pais não são divórciados... pelo menos não oficialmente. Eu não a julgo, mas a minha madrasta não parece se importar com nada além de bolsas da Prada, silicone e ácido hialurônico, então ela não liga muito para a questão do divórcio. Já o meu pai, ele não é de se importar muito com a minha mãe, mas eu exigi que me deixasse por dentro de tudo o que acontecesse com ela, só não contava que fugiria da clínica para dependentes químicos alcoólicos mais uma vez, depois de prometer que nunca mais faria isso.

Quando consegui falar com o meu pai, ela já tinha sido encontrada no
aeroporto, com passagem comprada para o México. Disse que só queria dar uma volta. Porém, era irreversível. Eu já estava ansioso, não conseguia relaxar novamente nem se tentasse. Quando saí da banheira mal conseguia respirar, só consegui vestir o roupão e ir para o quarto, enquanto ainda temia pelo que não estava acontecendo. Uma vez, a minha mãe me disse que tenho o dom de me preocupar de mais com as pessoas, algo como empatia. Porém, as vezes, isso é tão nocivo para mim que encaro como uma maldição.

Eu ainda estava ansioso, nervoso, sozinho e prestes a me machucar novamente. Eu precisava conversar com alguém que com certeza estaria acordado naquele horário e que eu tinha certeza de que pudesse me ouvir. Alguém que me conhecesse bem ao ponto de me fazer lembrar de que posso manter a calma.

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