Capítulo 6

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~Matt

Parte de mim sente que demorei mais do que o necessário na "casa" do Ace, a outra parte sente que eu deveria ter ficado mais.
Ainda não acredito que possa começar a entender as minhas intenções de maneira errada, mas ao mesmo tempo a situação me assusta um pouco. Eu não posso arriscar, me conheço bem, sei que ficaria em pânico se tivesse um cara apaixonado por mim e não saberia lidar. Pelo menos, a minha preferência está mais do que clara. Não vou ficar me preocupando com isso.

Tomei duas cervejas, comi uma pizza inteira e joguei umas cinco partidas no PS5 enquanto conversávamos as maiores bobagens. E, por incrível que pareça, me senti a vontade e confortável. Não queria ir embora, não eram nem dez da noite ainda, o Ace tava lá deitado com a cara no seu notebook e fazendo observações sobre todo mundo que conhecemos em comum do colégio, riamos. Por que aquilo começou a parecer estranho para mim, ao ponto de voltar para o tédio da minha casa, quando parei para pensar? nem me passou pela cabeça que ninguém poderia estar nem aí para o fato de eu passar a noite na casa de um garoto, sem que estivesse falando sobre putaria ou futebol.

Quando abro a porta de casa, começo a pensar melhor, atrasado. A bagunça é a mesma... Quer dizer, a gente se esforça para manter tudo em ordem, mas para mim, parece que sempre está bagunçado. E além disso, a casa parecia bem maior quando o meu pai vivia aqui.

—Posso saber onde era que você estava, Matthew?—Questiona a minha mãe, que carrega uma bandeja em mãos e não para pra falar comigo quando me vê.—Isso são horas de chegar em casa do colégio?!

—Deixa o garoto se divertir! Ele tá na flor da idade, se é que você me entende!—Diz o maldito do meu padastro, como sempre, aos gritos. Ele não é um cara agressivo, para a sorte dele, mas tudo o que faz é extremamente exagerado e chega a se tornar insuportável. Como nesse momento, que chega a gargalhar de rir de algo que ele mesmo falou.

Não o vejo pois está na sala assistindo a um jogo, então percebo que a bandeja com comida e cerveja que leva é para ele. Fico um pouco mais puto do que quando cheguei e vi que ocupou a vaga da garagem com a sua caminhonete velha.

—Cadê o Bryan?—Pergunto pelo meu irmão mais novo quando retorna a cozinha.

—Dormindo. Vem jantar.

Começo a me questionar como o Bryan consegue dormir com esse barulho. Pode ser que tenha dito isso somente para poder ficar no em paz no seu quarto.

—Tô sem fome.—Sigo em direção ao quarto. Foi uma péssima ideia voltar cedo, e a diferença foi que dessa vez eu tive opção.—Boa noite.

*

~Ace

O meu dia passou um pouco mais rápido do que imaginei. Dessa vez, muito mais tranquilo do que ontem, só por não ter mais um terço do colégio me olhando torto, ou pode ser que eu simplesmente tenha parado de prestar atenção nisso. Escondi o meu olho levemente roxo com maquiagem e, no momento em que passei pelas portas do colégio, coloquei um sorriso no rosto. A minha mãe sempre disse que a melhor forma de ficar feliz é começar fingindo, uma hora ou outra a gente acostuma. Eu sempre critiquei os seus pensamentos, e aqui estou eu, fazendo o que critiquei.

De longe, observo Lewis por um instante. Está conversando com um amigo, provavelmente sobre algum jogo de RPG, a julgar pelo seu nível de entusiasmo. Ainda não conversamos, e eu não sei como essa conversa seria. Ninguém mandou mensagem, só alguns olhares perdidos durante a aula de história. Sinto falta da sua amizade, de conversar com alguém que possa me ouvir, de quando o Lewis é o Lewis.

—Essa menina tem o carisma de uma porta, minha nossa.—Comenta Aiko, se referindo a Daisy, enquanto analisa a versão final do vídeo no iPad, que finalmente conseguimos terminar de editar, aparentemente e por enquanto em consenso. Ainda não nos reunimos os três.—Mas até que funcionou... ela tirou a minha vontade de usar drogas, e coincidentemente de viver também.

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