Capítulo 3

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~Ace

As seis da manhã, alguns minutos antes de levantar para o colégio, o meu pai me ligou para perguntar se eu tenho me alimentado. Respondi que sim, deixando de lado a parte em que ingeri apenas um café e metade de um donut no almoço durante o dia anterior.
Não que comer seja um grande problema para mim, é só que as vezes eu simplesmente... esqueço.
Seria muito injusto culpar a minha mãe, por exemplo, que vivia ressaltando que somente as modelos magras caberiam nos vestidos os quais desenhava quando ainda era estilista de grandes marcas, antes de todo o problema com o álcool e a mídia, ou o meu pai por perguntar somente uma vez na semana se estou me alimentando bem. A culpa é somente minha e do meu esquecimento.

—Por que demora tanto?—Questiona Lewis da sala, que não fica muito próxima do quarto, mas posso ouvir o que diz sem que precise falar muito alto.

Não tem muito o que esperar de um quarto de hotel relativamente luxuoso. Tenho, no décimo quinto andar, uma sala, um quarto, um banheiro próximo ao quarto e uma espécie de cozinha que é separada da sala por um balcão. Além de uma mesa de bilhar e um PS5, é claro, talvez a única parte divertida desse lugar.

—Você tem pressa para ir pra o colégio? sério?—Questiono, provocando-o.—É um esquisito mesmo...

Na frente do grande espelho do quarto, me observo atentamente. Não gostei das últimas três mudanças de roupa. Visto uma jaqueta de couro preta e o jeans, a combinação de sempre. Algo que cubra o meu pulso esquerdo, pelo menos. Imediatamente apago as luzes para que não continue encarando a mim mesmo e acabe mudando de ideia novamente.

—Você mora sozinho em um hotel aos 16.—Diz.—Ambos somos esquisitos, mas você é um pouquinho mais.

Quando chego a sala, Lewis está jogando bilhar sozinho, como se isso fosse possível. Me recusei a aprender, por isso cenas como essa são constantes por aqui, principalmente quando não está pegando ninguém, que é quando aparece com mais frequência.
Me jogo no sofá, aumentando o volume da música do U2 que toca no aparelho de som.

—Vi a Lexi anteontem.—Digo.—Ela ia me dar uma carona.

Assente, dando uma tacada na bola branca que acerta o buraco.

—Conversaram?—Questiona depois de alguns segundos de relutância.

Mexo a cabeça negativamente, observando-o para ver se consigo captar alguma reação. Está curioso, mas não para saber se conversamos ou não, e sim o que ela anda fazendo.

—Na verdade, não... pelo menos não sobre você.—Explico.—Vocês voltaram a ficar?

Lewis larga e mesa de bilhar e então caminha calmamente para o sofá ao lado de onde estou para então me responder.
Se joga no mesmo.

—Ela tá me respondendo agora... então acho que sim.

Eu conheço o meu melhor amigo muito bem. Lewis normalmente é estranho, mas dessa vez, está um pouco mais.
Alexa é uma garota popular do colégio com quem costuma ter um quase relacionamento inconsistente e turbulento. Lewis é muito bonito, e na maioria das vezes gentil, mas isso não é o suficiente para algumas garotas, e a Lexi é uma delas.
Ela não gosta muito da ideia de tornar a coisa oficial. Ele fica meio mal quando estão afastados. Eu, não sou capaz de contar que a vi aos beijos com outro cara na detenção anteontem enquanto esperava por uma carona. Pelo menos não agora.
Afinal, eles estavam afastados fazia um tempo, talvez umas três semanas, então acho que não faz tanta diferença assim. Por mais que ainda assim seja doloroso guardar isso.

—Acha?—Acabo rindo da sua cara.

—Me conta de você...

Quando questiona, o meu cérebro entra em pane por um instante. Não tem absolutamente nada que me venha a mente quando o assunto é me relacionar ou ao menos me interessar por alguém.

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