Alguém a distância

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A começar pelo cheiro forte de eucalipto que me deixava enjoada, a escola era um dos poucos lugares (Além de minha casa no Texas e das perguntas constantes sobre a minha riqueza relativa em bacias cheias de frango frito) que eu conseguia e me dava até bem aguentando por obrigação.
Hoje era dia de educação física, por isso todos nós fomos trocar o uniforme acompanhados pelo nosso não tão querido professor, Mr.Field.
– Andem logo Moças, não temos o dia todo! – Disse ele batendo palminhas alvoroçadas.
Eu fui uma das primeiras a sair do vestiário, então acabei tendo que fazer parte do futebol masculino, uma pena leve, mas com certeza Margareth, a primeira a sair veria tudo aquilo e riria da nossa cara enquanto esperava tranquilamente o vôlei feminino.
Recreio. Um alívio depois de uma aula de História cansativa. Resolvi ir pesquisar um pouco e estava a caminho da biblioteca central (Que ficava do lado da minha escola, afinal,  todo aglomerado de conhecimento ficava lá, longe do shopping e das coisas ditas como "mundanas".
– Oi senhora Clare. – A senhorinha de 70 e poucos anos me encarou por alguns instantes.
– Ah, olá Cassandra! – Ela respondeu.
Acreditem se quiser mas a memória de longo prazo dos idosos é muito boa, tão boa que não dura muitos anos atrás que o mal da demência os ataque sem dó.
Ms.Clare me entregou meu cartão de passe livre e voltou a catalogar os livros, carimbar os novos e pensar em maneiras mais seguras de acabar sua vida feliz.
Como eu tinha dito, o envelope que Anna havia me entregado ontem estava um pouco mais cheio. Nele haviam fotos de paisagens, as vezes uma mão borrada, nada de rostos. Atrás de um deles estava um número: "22.435.168". Deduzi que era um número de livro de biblioteca, então resolvi procurar.
Depois de algum tempo eu estava de frente para ele. Um exemplar meio gasto de "O teorema Catherine". Tirei ele da prateleira e pus sobre a mesa me sentando. Passava as páginas devagar e achei um pequeno bilhete dentro do livro.
"Querida Mellie,
Você vivia dizendo que seu nome é feio, e que amava esse livro só por causa do nome na capa 'Catherine'. Sua mãe foi mesmo uma covarde, não que Mildred fosse feio, mas ela quiz completar com o Ginger. Lembro-me de sua expressão de alegria ao me ouvir chama-la de Mellie. 'Mas isso é apelido para Melanie, Melissa!', você dizia mesmo adorando o apelido. Confesso que senti inveja por um segundo, afinal os apelidos para Peter são ridículos (você me chamava de Pet para me provocar). Eu não sei porquê continuo lhe escrevendo, afinal você sabe que essa relação morreu, então espero não estar lhe incomodando.
       Carinhosamente e sem mais palavras,
                                           Peter."

Meus olhos estavam cheios de lágrimas sem motivo e minha boca estava seca. O amor de Peter por Mellie era muito parecido com os das séries e novelas, algo inconsequente e poderoso.
Me levantei e guardei o livro, saindo da biblioteca.
'Talvez outra carta tenha chegado', pensava enquanto caminhava.
Ao chegar em minha porta e procurar na caixa de correio, não vi nada além de panfletos. Tratei de ir tomar banho, afinal, como essa história iria de desenrolar?

Querida Mellie...Onde histórias criam vida. Descubra agora