O endereço me levou até o topo de uma serra, a vizinhança era composta de casarões dentro de grandes terrenos. No lugar em questão, havia um jardim florido imenso e um caminho no meio que conduzia até a varanda, o portão estava aberto então entrei e caminhei em direção a porta. Achei estranho pois parecia apenas uma residência normal, fiquei me perguntado para qual cargo seria a vaga? Jardineiro? Toquei a campainha, mas ninguém apareceu, fiquei refletindo sobre a minha falta de bom senso pois já era noite, mas as luzes de dentro estavam acesas. Além daqui eu não tinha para onde ir e nem para onde voltar, eu poderia dormir ali mesmo na varanda se fosse necessário, mas talvez isso não passasse uma boa impressão. Finalmente a porta abriu, era uma senhora baixinha, cabelos completamente brancos e rugas por todo o rosto, senti culpa por incomoda-la.
-Quem é você e o que faz aqui?
-Meu nome é Nicolas, estou procurando por Martim. - Falei me perguntando se seria o endereço certo.
-Ah claro, é um dos filhos de Thomas. Entre meu bem. - Confesso que não esperava tal reação.
Ela me levou até a cozinha, me ofereceu bolo e café. Eu aceitei.
-Querido, me faça um favor e pegue o pote de café ali na dispensa.
A dispensa era escura, entrei procurando o interruptor. Mas a porta se fechou atrás, senti o chão descer abaixo dos meus pés, pensei por um minuto que a dispensa era na verdade um elevador, mas isso não me parecia muito cabível. Em alguns instantes notei o lugar se estabilizar e tentei abrir a porta, para minha surpresa eu já não estava mais na cozinha daquela senhora simpática, mas em um corredor bem largo e branco no subsolo cheio de portas brancas como em um hospital, andei um pouco para explorar o lugar e percebi a presença de mais pessoas, todos andavam de branco e apesar de não haver luz natural o lugar era bem ilumido. A procura de alguém que me desse uma informação eu a vi pela primeira vez cruzando o corredor a minha frente, ela tinha cabelos compridos e castanhos, lindos olhos verdes e uma pele morena que destacava o seu olhar, nem me toquei que diferente dos outros eu era o único de calça jeans escura e camisa preta. Não demorou e vieram falar comigo.
-Quem é você? - Um homem alto e forte me perguntou
-Eu vi falar com o Martin, sou um dos filhos de Thomas, a senhora lá de cima me deixou descer.
-Venha comigo. - Eu o segui até uma porta igual a todas as outras centenas de portas brancas.
Ao entrar vi que era uma casa, pequena, mas cheia de conforto, na sala estava um senhor de cabelos grisalhos sentado no sofá, ele sorriu para mim e disse
-Eu estava esperando por você meu rapaz.
Aquele homem era Willian Martin, ele estranhamente já sabia meu nome e conhecia Thomas.
-Thomas disse que eu conseguiria emprego aqui
-Ele me falou sobre você, fiquei interessado no seu perfil, pedi a ele que lhe enviasse.
-Eu ainda não sei como poderei ser útil.
-Eu também não, mas vamos descobrir em que você se encaixa. Esta é uma unidade subterrânea onde residem todos os agentes da minha corporação
-Agentes?
-Sim, temos o dever de proteger o mundo e evitar certas catástrofes.
-Catástrofes?
-Sim, os novatos são ensinados a lutar, a destruir os espíritos ominosos, e todo tipo de prática necessária para o trabalho.
-Destruir espíritos ominosos?
- Exatamente, esse é o nosso principal foco, nós não lutamos contra carne nem sangue, e sim contra anjos caídos que buscam trazer o mal para o nosso mundo, e quer saber qual o primeiro passo?
-Qual?
-Parar de repetir o que falo.
-Desculpe. Eu nunca havia ouvido falar nessas coisas. Mas se Thomas me mandou até aqui estou disposto a aprender o máximo e dar o meu melhor - Eu não tinha onde cair morto, não havia como desistir.
-Ok, vista essa roupa, irei leva-lo ao seu alojamento.
Troquei de roupa, calça jeans, mas branca, uma camisa básica e sapatos brancos, me senti um enfermeiro.
-Qual a necessidade de todos vestirem branco?
-Se a unidade for invadida fica mais fácil identificar o intruso, mas dentro das casas as cores são permitidas.
-Entendi.
Entramos em outro elevador, esse era transparente, descemos 2 andares e chegamos ao lugar onde eu ficaria.
-Quantos andares tem aqui?
-Sete, esse é o andar dos novatos, aquela é a casa em que você vai ficar, numeração 15.
-Obrigado Senhor.
-Amanhã cedo será sua primeira aula, um ano de treinamento sendo sustentado por nós, só depois disso você vai poder sair e entrar nas missões.
-Um ano?
-Exatamente, bem-vindo ao Formigueiro.
-Formigueiro?
-Lembre-se do nosso acordo rapaz, sem repetições.
-Desculpe.
-Formigueiro é o nome da nossa unidade, imagino que não seja difícil entender o porquê. Até amanhã.
No andar dos novatos haviam casas grandes e cada novato tinha um quarto só para si, as refeições eram feitas ao redor de uma grande mesa. Naquela noite, depois do jantar, tudo que eu queria era dormir. Deitei na cama com lembranças frescas do meu antigo lar e com um frio na barriga pelo que viria de agora em diante, fechei os olhos e adormeci. Sonhei, com uma menina, ela me olhava com seus grandes olhos azuis assustados e isso me parecia estranhamente familiar, ela sussurrou "me ajude" em seguida eu vi chamas consumindo seu corpo em uma fogueira e gritos de desespero.
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A cidade do abismo
Teen FictionNicolas é recrutado para um trabalho que irá mudar sua vida e abrir seus olhos para um mundo que ele jamais imaginou que existisse. Em uma cidade muito estranha ele acaba conhecendo Lourdes e Alice, duas garotas interessantes e lindas e vão fisgar s...