Eu fecho meus olhos, respiro fundo – o mais fundo que posso – e me jogo, minha cabeça parece que vai explodir, meu estomago sair e meu coração parar. Abro os olhos: céu, terra, e mar.
Pular de um avião a milhares de quilômetros por hora sempre foi um sonho, adrenalina me move. Viver intensamente é o que há de melhor para mim, abrir os olhos e não sentir nada além das alças do paraquedas foi sem dúvida a melhor sensação do mundo.
Sem gritar, só observando, sem respirar apenas tentando recuperar o folego eu via o solo se aproximar. O que tinha para dar errado deu, eu puxei a alavanca que falhou uma, duas e na terceira vez a visão embaçou, senti o sangue congelar em minhas veias, meus olhos arregalarem e meu coração bater mais forte.
O vento não me acariciava mais pois nem o podia sentir, a paralisia me tomou e veio à tona lembranças guardadas em minha memória:
Me via comendo sentado, sentado me via jogando, deitado antes de dormir pensando na vida. Levantando pegava o celular e procurava algo para fazer, deitando soltava o celular já que não tinha mais porque mexer.
Não olhava nos olhos, sempre pra baixo. Via-me em terceira pessoa, mas minha pessoa não me via já que se ocupava com outras do outro lado da tela.
Lembrei-me quando sai com meu primeiro amor, vi a nossa primeira foto.
Lembrei-me quando fui no estádio, vi meu time ser campeão, com a câmera em uma das mãos não parava de filmar.
Minha coleira presa na tomada, fazia do sofá minha cela, com meu amigo eu gargalhava segurando-o na mão. Era assim que ia morrer, vida vazia de lembranças inesquecíveis e cheias de momentos que só ganham vida antes da morte.
Na quarta vez o paraquedas abriu, nasci de novo, naquela fração de segundo tudo voltou ao normal e eu voltei a gritar.
Não espere o paraquedas falhar para se livrar de "correntes" que tem impeçam de viver, nem todos nós temos uma quarta chance
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Te conto uma crônica
Short StoryContos e cronicas que mudarão o modo como você vê o mundo.