Prólogo

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De certa forma já podia sentir que algo mudaria em minha vida naquele dia.

Assim que abri meus olhos naquela manhã uma ansiedade sem igual me invadiu, papai saiu em uma missão e assim como nas outras vezes passei o dia olhando para a janela esperando que ele voltasse.

Sempre que isso acontecia uma tensão tomava conta da casa, eu não era tão ingênuo para ficar imune à realidade de que ele arriscava a vida e poderia não voltar novamente.

"Romeo?" Me virei para minha mãe que sorria da porta. "Querido, venha comer algo. Está me deixando ansiosa com toda essa preocupação."

Finalizou com um sorriso fraco, eu sabia que ela estava tentando ser forte. Se havia uma pessoa que ficava mal quando meu pai saía era minha mãe. Estava prestes a responder quando os faróis iluminaram a casa, saí em disparada para a sala bem a tempo de ver Marco, Ignácio e meu pai.

"Matteu?" Ouvi minha mãe perguntar, mas antes que me virasse para ela vi um par de braços pequenos envolverem a perna de meu pai.

Encarei hipnotizado enquanto um olho castanho espreitava tudo ao redor antes de dar um passo à frente.

Um Anjo! Automaticamente uma conversa que tive com minha mãe me veio à cabeça, ela me contou dos anjos que cuidavam de nós lá do céu e soube que aquela pequena de olhos castanhos era um.

"Helena, está aqui é Aika." A menina não devia ter mais que seis anos e dava para perceber uma grande tristeza em seus olhos, de repente uma enorme vontade de protegê-la tomou conta de mim.

"Oi, eu sou Romeo." Me aproximei e estendi a mão, Aika ficou olhando da mão para mim e vice versa. Após longos segundos ela me agraciou com um belo sorriso e agarrou minha mão.

"Eu sou Aika." Seus longos cílios me encantaram, tão belos e negros.

Aika se tornou minha protegida daquele dia em diante, eu vivia para ver um sorriso naquele belo rosto. No começo foi bem difícil, ter que ir para a escola enquanto ela ficava em casa me matava. Por mais que soubesse que ninguém a machucaria não conseguia deixar de me sentir protetor.

Eu queria entender o porquê dela ter medo de todos os outros, as exceções éramos papai e eu, ou por que ela acordava chorando no meio da noite e vinha dormir no meu quarto.

Os anos foram passando e eu fui ficando cada vez mais hipnotizado pela sua beleza, a primeira vez que senti desejo por ela foi em seu aniversário de doze anos e eu me senti um fodido por isso. Estávamos em sua festa e ela pegou um pedaço do meu bolo, ver seu biquinho enquanto comia me deixou extremamente duro.

Eu tinha dezesseis anos, quatro anos mais velho que Aika, não pude deixar de me amaldiçoar por pensar nela daquela forma.

O pior era ter que ver os outros garotos se interessando nela, assim que fez dez anos meus pais decidiram matriculá-la na escola e embora Aika não tenha se tornado a pessoa mais extrovertida do mundo sua melhora foi significativa. Os pesadelos foram sumindo e ela não ficava mais nervosa entorno de estranhos, era como se fosse outra pessoa.

Quando meu pai tomou a decisão de me mandar para a Itália a primeira coisa em que pensei foi que não poderia e nem queria me afastar dela, mas eu sabia que precisava ir. O que estou sentindo não é saudável, além do mais seria uma honra ser o novo Capo. Saber que meu pai confiava à mim todo seu legado era gratificante.

Três batidas soaram me puxando de volta para o presente, a porta se abriu e um anjo com os olhos inchados apareceu. Praguejei ao notar o quão curtos seus pijamas estavam, mas me forcei a sorrir ao ver a tristeza em seu rosto. 

"Posso entrar?" Sua voz não era mais que um sussurro.

"Claro." Voltei a guardar as roupas dentro da mala e fiquei tenso ao sentir os braços de Aika me envolverem me abraçando com força.

"Eu vou morrer de saudades." Me virei, deixei um demorado beijo em sua testa e entrelacei nossos dedos. "Promete que vai me ligar todos os dias?"

Sorri pra ela mal me segurando para não abaixar meu rosto ainda mais e tomar aqueles belos lábios rosados.

"Eu prometo, pequena." Ela assentiu enterrando o rosto no meu peito e meu corpo começou a responder à pequena morena em meus braços.

Afastei meus quadris e limpei a garganta, me afastando com a desculpa de terminar de organizar minha mala. 

"Eu posso dormir aqui com você?" Me mexi desconfortável, apenas pensar que terei seu corpo contra o meu durante toda a noite...

"Sinto muito, pequena. Meu vôo sai às seis da manhã e não quero te incomodar, vou acordar muito cedo." Dei a primeira desculpa que surgiu em minha mente.

"Eu não me importo." Suspirei sabendo que não conseguiria negar nada pra ela.

"Tudo bem." Ela deu um gritinho de felicidade e se jogou em meus braços.

"Você é o melhor irmão do mundo, Romeo." A palavra irmão foi o suficiente para me broxar.

O olhar inocente nos olhos dela fez com que eu me sentisse a porra de um pervertido por me sentir excitado por ela.

Durante a noite não consegui pregar os olhos pensando em como minha vida seria dali pra frente, eu vou me empenhar ao máximo para ser tão bom quanto meu pai e irei darei um jeito de acabar com essa maldita obsessão por Aika.

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