43º dia.

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Magnus não ouviu quando o despertador tocou.

Quando seu rosto foi de encontro ao chão, em uma velocidade quase assustadora, foi quando finalmente acordou. Com os olhos sonolentos e meio abertos ele viu dois pares de tênis brancos e meias de coração na sua frente.

― Ahn? – murmurou anestesiado.

Catarina o encarou de cima, com os cabelos longos e soltos caindo de um lado, seus braços estavam na cintura. O cabelo dela está mesmo longo, Magnus pensou um pouco grogue, ela não costumava usá-lo solto.

― Aqui, se você quer passar a madrugada acordado o problema é totalmente seu, mas hoje vai ter ensaio geral da peça, então se você faltar vai acabar prejudicando todo mundo aqui. ― ela disse num fluxo rápido de palavras. Magnus mal conseguiu absorver. ― Então faça o favor de levantar essa sua bunda magra daí e se vestir porque estamos atrasados.

― O quê? – Magnus perguntou ainda do chão. Finalmente acordando. ― Do que você está falando? Que horas são?

― Quase oito e meia, seu inútil.

―O quê? Sério?! – ele se espantou, levantando-se atrapalhadamente. Catarina o encarou com desdém. ― Desculpa, flor do dia, maravilhosa, eu já estou indo pro banho. ― Ele se adiantou para pegar uma toalha que estava em cima da cadeira. A garota ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços. ― Tá vendo? - mexeu a toalha na mão. – Te amo.

Ele fechou a porta a tempo de ver a carranca da menina se desfazendo em uma risada bufada. Tomou o banho mais rápido do mundo e só mal teve tempo de pegar uma maça na geladeira antes que Ragnor o puxasse para o carro de Catarina.

― Por que você dormiu até tão tarde? – perguntou Ragnor num tom não muito amigável.

Magnus não precisou falar, ele sorriu e todos entenderam. Ragnor revirou os olhos e murmurou algo sobre os quão grudentos eles eram, e imaginava o quão terrível seria quando eles se conhecessem.

― Ele é um amor. – Magnus disse, sentado no banco do carona. ― Tão gentil. ― mastigou um pedaço da maçã. ― É sério. Eu o amo.

Catarina arregalou os olhos e Magnus se engasgou. Ele balançou as mãos rapidamente.

― Não! Não, não assim. Quero dizer. Ele é tão... incrível? É só isso. Foi só um jeito de falar.

Os seus amigos pareceram não confiar muito naquela explicação, mas assentiram mesmo assim.

― Você – Catarina começou relutante. – Acha que sabe quem ele é?

― Eu sei que ele não é loiro – ele respondeu com um sorriso maroto. Cat o olhou sem entender. ― É tipo uma brincadeira –explicou – eu faço perguntas... ou afirmações... sobre algo como sua aparência e ele me responde. Então, eu sei que ele não é loiro.

Ela assentiu com os olhos para frente. No trânsito.

Ragnor solta uma risada alta e repentina e Magnus se vira, não se sentindo mal por ter esquecido-se de sua presença. O amigo estava sentado no meio do banco de trás (sem cinto de segurança!), as pernas levemente abertas e uma mão cobrindo a boca. Ele falou antes que Magnus pudesse perguntar.

― Se lembra daquele dia no Peru? – ele falou e Magnus ergueu uma sobrancelha. Houve muitos dias. ― Logo depois do caso do... Você-sabe-quem... Você bebeu tanto. Acabei de achar essa foto. ― ele mostrou o celular, onde tinha uma foto de Magnus deitado no chão coberto de porquinhos da índia. Ele parecia estar prestes a vomitar antes de ter tirado a foto e parte das suas roupas haviam desaparecido. Ele fechou a cara. Os amigos estavam rindo, Ragnor mais abertamente e Catarina tentando ser um pouco mais reservada, mas não conseguindo segurar a risada. Imasu tinha terminado com ele no dia anterior, ele pensou, ainda com a cara fechada, e então Magnus tinha colocado na cabeça que estava bem e que, de fato, não precisava dele pra nada então prontamente bebeu o máximo que pôde em pub, no nordeste da cidade – no lado oposto de onde o ex morava. Ele só consegue se lembrar de ter acordado no dia seguinte em um hotel. Catarina havia explicado que ele tentou invadir uma loja de tapetes enquanto gritava incoerentemente sobre porquinhos da índia. Sinceramente, Magnus não queria pensar sobre isso. Quase lembrava a vez que mais ficara bêbado na vida. Mas essa já é outra história.

[malec] NOTESOnde histórias criam vida. Descubra agora